quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Drácula - A História Nunca Contada


 Houve um tempo em que a Universal quis seguir os mesmos passos da Marvel Studios e criar um universo compartilhado de suas criações –no caso, os famosos ‘Monstros da Universal’ que, em tempos vindouros na aurora do cinema comercial, nos deu “O Lobisomem”, com Lon Chaney Jr., “Drácula”, com Bela Lugosi, “Frankenstein”, com Boris Karloff, e outros. A ideia, desta vez, era transfigurar seus outrora vilões monstruosos em seres quase heróicos por meio de um viés de incompreendidos.

E o filme que tentou inaugurar esse filão foi justamente “Drácula-A História Nunca Contada”. Tendo por influência principal o brilhante “Drácula de Bram Stoker” (e dele aproveita de forma vaga elementos mais objetivos como a identidade visual), sobretudo, no que tange à sua tentativa de humanizar o Conde Drácula –embora a proposta do diretor Francis Ford Coppola naquele filme fosse bem outra –a trama se desenrola entre o prólogo (que mostrava uma espécie de ‘origem’ onde Vlad Dracul é mostrado no limiar de sua maldição em função da perda de sua amada) e sua história de fato (esta presente no clássico literário de Bram Stoker e nas inúmeras produções que se dispuseram a adaptá-lo) na qual Drácula surge como o vampiro conhecido que é.

No papel de Vlad Dracul, aristocrata romeno cansado das inúmeras guerras que o afastaram de seu lar e sua família, o inglês Luke Evans busca unir um certo vigor de herói de ação com as exigências dramáticas do personagem, tão bem atendidas pela ótima atuação de Gary Oldman. Se o roteiro de James Hart para o filme de Coppola se valia de aspectos diferenciados do romance e de facetas da realidade (Drácula foi inspirado num guerreiro romeno que de fato existiu) para agregar originalidade à sua abordagem do material, aqui o roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless parte da mesma intenção, sem conseguir ocultar, no entanto, suas muitas ambições comerciais.

O protagonista, Vlad, é assolado por dilemas previsíveis que o empurram à sua inevitável condição sobrenatural: Após participar de várias batalhas em nome do Império Otomano, Vlad regressa à sua Transilvânia natal, onde se sagra príncipe e constitui família. Entretanto, a guerra exige que ele entregue seu filho para o inimigo.

Conhecedor do poderio otomano, Vlad sabe que ele e seus súditos serão esmagados caso recusem-se a submeter-se. A saída para ele é procurar por uma criatura que um dia ele encontrou na caverna da Montanha do Dente Quebrado, um ser diabólico, mas com poderes sobrenaturais capazes de levar a morte aos seus inimigos.

O maior problema da produção é que seu diretor Gary Shore está muito longe de ter a compreensão de cinema da Coppola. Ele tenta fazer de Drácula um herói em todas as suas expressões românticas e passa despercebido pelos elementos que, em todas as demais histórias envolvendo o personagem, o tornam um vilão. É uma postura não apenas contra-producente mas também relapsa: Mostra o quão os realizadores estão longe de entender o protagonista que têm.

Isso certamente se explica pelas imposições do estúdio: Nas bem elaboradas facetas técnicas que exibe em justaposição às tentativas falhas de construir uma obra artisticamente sólida, “Drácula-A História Nunca Contada” evidencia o quanto foi definido por executivos que nada sabem de cinema e que só queriam replicar os passos da Marvel Studios, julgando que aquele sucesso foi algo fácil de ser obtido. Merecidamente, esta tentativa de emplacar um Drácula completamente distinto do que a cultura pop conhecia dele fracassou, ainda que seu desfecho –um gancho narrativo cara-de-pau onde a trama do romance de Bram Stoker enfim parece ser lembrada –aponte afoitamente em direção a uma sequência que jamais chegou a ser feita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário