Houve um tempo em que a Universal quis seguir os mesmos passos da Marvel Studios e criar um universo compartilhado de suas criações –no caso, os famosos ‘Monstros da Universal’ que, em tempos vindouros na aurora do cinema comercial, nos deu “O Lobisomem”, com Lon Chaney Jr., “Drácula”, com Bela Lugosi, “Frankenstein”, com Boris Karloff, e outros. A ideia, desta vez, era transfigurar seus outrora vilões monstruosos em seres quase heróicos por meio de um viés de incompreendidos.
E o filme que tentou inaugurar esse filão foi
justamente “Drácula-A História Nunca Contada”. Tendo por influência principal o
brilhante “Drácula de Bram Stoker” (e dele aproveita de forma vaga elementos
mais objetivos como a identidade visual), sobretudo, no que tange à sua
tentativa de humanizar o Conde Drácula –embora a proposta do diretor Francis
Ford Coppola naquele filme fosse bem outra –a trama se desenrola entre o
prólogo (que mostrava uma espécie de ‘origem’ onde Vlad Dracul é mostrado no
limiar de sua maldição em função da perda de sua amada) e sua história de fato
(esta presente no clássico literário de Bram Stoker e nas inúmeras produções
que se dispuseram a adaptá-lo) na qual Drácula surge como o vampiro conhecido
que é.
No papel de Vlad Dracul, aristocrata romeno
cansado das inúmeras guerras que o afastaram de seu lar e sua família, o inglês
Luke Evans busca unir um certo vigor de herói de ação com as exigências
dramáticas do personagem, tão bem atendidas pela ótima atuação de Gary Oldman.
Se o roteiro de James Hart para o filme de Coppola se valia de aspectos
diferenciados do romance e de facetas da realidade (Drácula foi inspirado num
guerreiro romeno que de fato existiu) para agregar originalidade à sua
abordagem do material, aqui o roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless parte da
mesma intenção, sem conseguir ocultar, no entanto, suas muitas ambições
comerciais.
O protagonista, Vlad, é assolado por dilemas
previsíveis que o empurram à sua inevitável condição sobrenatural: Após
participar de várias batalhas em nome do Império Otomano, Vlad regressa à sua
Transilvânia natal, onde se sagra príncipe e constitui família. Entretanto, a
guerra exige que ele entregue seu filho para o inimigo.
Conhecedor do poderio otomano, Vlad sabe que
ele e seus súditos serão esmagados caso recusem-se a submeter-se. A saída para
ele é procurar por uma criatura que um dia ele encontrou na caverna da Montanha
do Dente Quebrado, um ser diabólico, mas com poderes sobrenaturais capazes de
levar a morte aos seus inimigos.
O maior problema da produção é que seu diretor
Gary Shore está muito longe de ter a compreensão de cinema da Coppola. Ele
tenta fazer de Drácula um herói em todas as suas expressões românticas e passa
despercebido pelos elementos que, em todas as demais histórias envolvendo o
personagem, o tornam um vilão. É uma postura não apenas contra-producente mas
também relapsa: Mostra o quão os realizadores estão longe de entender o
protagonista que têm.
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