O trabalho astuto e inventivo do diretor Tonino Valerii bebe muito da fonte de “Rio Vermelho”, de Howard Hawks: Como na obra clássica, temos a trama a girar em torno de uma relação mentor e pupilo que é quase uma dinâmica pai e filho; e como lá, essa relação, cerne indubitável do filme, ganha ares visíveis de rivalidade e antagonismo a medida que as discrepâncias entre os dois personagens vão se enfatizando, sobrepujando a camaradagem que os uniu.
Chega, numa cidadezinha poeirenta chamada Clifton,
no Arizona, o temido e veterano pistoleiro Frank Talby (o grande Lee Van
Cleef). Colhido de admiração por ele, o jovem Scott Mary (Giuliano Gemma) o
segue a todo lugar. Talby nota que, por sua humilde ocupação como limpador do
estábulo local, o jovem Scott é tratado com desdém e desprezo por todos.
Entretanto, diante de circunstâncias
favoráveis, Talby concorda em levar Scott consigo e ensiná-lo a ser um
pistoleiro tão hábil e temido quanto ele.
Eventualmente, os caminhos tortuosos e ilícitos
da dupla os conduzem de volta à Clifton, onde Talby já alimenta outros planos:
A consciência da chegada da velhice o leva a perceber que seu vigor para duelos
mortais em breve irá embora, e com isso, ele almeja valer-se de sua fama para
tomar para si a propriedade do saloon
local.
O assassino do oeste, outrora um aventureiro
alheio às leis, agora quer se converter num homem de negócios –reflexão que,
volta e meia, pontuava alguns trabalhos do faroeste spaghetti.
Porém, Talby depende, cada vez mais, da
lealdade de Scott. Moldado agora em um hábil pistoleiro, Scott retorna à
Clifton completamente diferente do rapaz omisso e mal-tratado de antes: É agora
um homem valente, supino e nem um pouco disposto a levar desaforo para casa
–modificações de índole promovidas com belas nuances pela ótima atuação de
Giuliano Gemma.
Mas, os elementos que podem colocar Talby e
Scott um contra o outro já estavam lá desde o princípio: Murph (Walter Rilla),
o benevolente acolhedor de Scott durante sua época como zelador do estábulo,
havia sido xerife em outra cidade, e foi o homem que mais perto chegou de
superar Talby. Agora, no entanto, com seu poder sobre a cidade crescendo cada
vez mais, Talby se permite enxergar-se como invencível; e tal soberba o leva a
enxergar inimigos em todo o lugar, até mesmo no leal Scott.
Os outros homens poderosos da região –fidalgos
traiçoeiros e elitistas, nada satisfeitos em verem-se acoados pelas vontades
intransigentes de um pistoleiro verdadeiramente perigoso –haverão de valer-se
disso para levar Talby e se confrontar com o único homem capaz de realmente
vencê-lo: Aquele que ele mesmo ensinou.
Se no trabalho de Hawks –vindo da Velha
Hollywood –os protagonistas conseguem, ao fim, superar suas diferenças para
abraçar o valor da conciliação num simbólico final feliz, aqui, em “Dias de
Ira”, os realizadores do faroeste spaghetti de então não estão nem um pouco
interessados em amenizar as tensões: Refletindo os ebulientes tempos de
confronto daqueles anos 1960, o filme transforma o inevitável duelo entre seus
personagens principais no clímax ao qual o expectador logo compreende que a
narrativa o levará.
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