Há algo de “Sob O Sol da Toscana” (de Audrey Wells, estrelado por Diane Lane) neste semi-clássico cult “Danzón”, dirigido por Maria Novarro: Ambos expõem, em seu enredo e em suas minúcias, as dificuldades existenciais para uma mulher balzaquiana tentar um recomeço de vida, ainda que um otimismo predominante e uma ternura bem humorada deem o tom.
Pérola do cinema mexicano dos anos 1990.
“Danzón” traz o despojamento na rodagem em película de suas imagens e nas
atitudes cafajestes flagradas pelos transeuntes (que assediam
desavergonhadamente a protagonista pelas ruas), num comportamento que causa um
certo contraste com a forma de postura masculina empregada e aceita hoje:
certamente, se um filme assim fosse realizado nos tempos atuais ele se
posicionaria de maneira muito mais contestadora (e em última instância,
repreensiva) em relação ao ato corriqueiro de mexer com uma mulher na rua
–todavia, naqueles anos 1990 de então, o filme (dirigido por uma mulher, veja
bem!) adota um olhar até mesmo romantizado para tal flerte!
A telefonista Julia Solórzano (a extraordinária María
Rojo, do corrosivo “A Ditadura Perfeita”) vive sua vida em função de seu trabalho
e de sua filha adolescente na Cidade do México. Sua única válvula de escape é o
Salón Colonia, um clube que ela frequenta religiosamente todas as
quartas-feiras, onde ela extravasa essas frustrações da vida de mulher moderna
dançando danzón, um ritmo de música
cubana. Há anos, seu parceiro de dança (e nada mais, visto que mal se
conhecem...) é o desprendido Carmelo (Daniel Rergis) que, para surpresa de
Julia, desaparece numa certa noite.
Uma vez sem o protagonista de seus
extravasamentos, Julia se dá conta de que é incapaz de livrar-se do stress e do desgaste, e com isso, toma a
decisão de descobrir o paradeiro de Carmelo que, dizem, partiu para Vera Cruz,
por sua vez à procura de um irmão perdido. Indo para Vera Cruz, Julia se
hospeda numa pensão gerenciada por Dona Ti (Carmen Salinas, de “Chamas da
Vingança”) onde conhece o travesti Suzy (Tito vasconcelos, de “Sem Tom Nem
Sônia”) e vivencia uma série de circunstâncias nas quais, pouco a pouco, se dá
conta que sua viagem não é uma jornada para reencontrar Carmelo, mas sim uma
jornada de auto-descoberta onde ela reencontra a si mesma.
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