Mais uma daquelas obras obscuras, de baixo orçamento e de baixa qualidade, que surgiam, como baratas vindas de um bueiro (!), no cinema pauleira dos anos 1980 –e que, com frequência também acabavam migrando para as fitas de VHS, no picareta sub-gênero dos filmes de ação da época do homevideo, “R.O.T.O.R.” graças à galhofa sádica de alguns cinéfilos que insistiram em assistí-lo ao longo dos anos pela comédia involuntária que é, não caiu de todo no esquecimento que, na verdade, merecia.
Dirigido nas coxas por Cullen Blaine –designer
da indústria televisiva e cinematográfica que teve maior desempenho
profissional dentro do ramo da animação, tendo inclusive produzido o desenho
animado oitentista “The Get Along Gang” –“R.O.T.O.R.” trata-se de uma produção
com orçamento de fundo de quintal, aproveitando o apelo de diversas outras
obras comercialmente influentes do período e que, por isso mesmo, renderam
imitações, umas bem esdrúxulas, como esta daqui. Há em “R.O.T.O.R.” algo de
“Robocop” (o policial futurista feito a partir de características humanas), de
“Exterminador do Futuro” (a máquina maligna voltada contra os seres humanos) e
até de “Maniac Cop” (o policial fascista que sai matando a esmo, numa contagem
de corpos desenfreada).
A trama abilolada de “R.O.T.O.R.” começa quando
um homem é encontrado numa beira de estrada, vítima do que parece ser um acidente
de carro. Tal homem é Coldyron (Richard Guesswein, cuja carreira foi mais
voltada à instrução de artes marciais), o nosso protagonista que, levado à uma
delegacia para prestar depoimento, dá início a um flashback com o objetivo de elucidar toda a trama do filme –no
entanto, a trama que ele relata termina não encontrando qualquer conexão com o
tal acidente no qual o encontramos primeiramente (!).
Coldyron é, por trás do físico marombado, dos
modos trogloditas e da conversa monossilábica e acéfala, por incrível que possa
parecer, uma espécie de inventor (!), e sua invenção mais aguardada é, como
veremos numa reunião sucedida com executivos na empresa onde trabalha, um ser
mecânico destinado a substituir a força policial. Seu nome é R.O.T.O.R. (sigla
para Robotic Officer Tactical Operations
Research), e embora seja basicamente um esqueleto robótico avançado (ainda
que os efeitos especiais jurássicos e datados o façam parecer mais uma animação
em stop-motion), ele será revestido de um composto que simulará a pele e a
aparência humana.
R.O.T.O.R., porém, como afirma Coldyron não
está pronto; levará, pelo menos, uns quatro anos até que um protótipo
satisfatório seja projetado. Como seus contratantes não ficam nada felizes com
a data demasiada longa, o projeto é acelerado, ignorando a possibilidade de
haverem efeitos colaterais e, diante dessa demonstração de ignorância, Coldyron
se demite.
Na sequência, o filme traz diversas cenas
banais e estendidas além do necessário para que “R.O.T.O.R.” tenha mais duração
do que seu simplório enredo permite: Coldyron e sua esposa, personagem
completamente sem utilidade no roteiro (!), saem para jantar (numa cena que
parece não terminar nunca!); e os funcionários da empresa/laboratório aparecem,
conversando sobre banalidades.
É quando R.O.T.O.R., totalmente finalizado e já
revestido de seu disfarce humano (a lembrar os cantores do “Village People” com
bigode e tudo!) emerge de dentro de um tanque –mas, espere! Ele não levaria
quatro anos para ficar pronto?!
De qualquer forma, R.O.T.O.R. encontra um
armário e veste-se com um uniforme policial e, mais a frente, enquanto
perambula pelo complexo sem ser notado (atropelando umas cadeiras de
plástico!), encontra uma moto, feito sob medida para ele, possui até mesmo um
emblema escrito R.O.T.O.R.!
A máquina assassina roda pela cidade (na
verdade, nem mata tanta gente assim, ele fica mais perseguindo uma única moça
como veremos mais a frente...), e acaba detectando o excesso de velocidade de
uma mocinha ao volante (!). Na qualidade de vítima principal de R.O.T.O.R.
(provavelmente o orçamento não permitia muitas participações...), ela irá fugir
dele pelos próximos minutos de filme, incluindo a cena da chegada dela dentro
de uma lanchonete na qual R.O.T.O.R. irá enfileirar e imobilizar uma sucessão
de adversários com sua força biônica –e não há golpes de karatê, nem pose de
marombado que o segure!
Eventualmente, os caminhos de R.O.T.O.R., de sua
vítima aleatória (nem sequer lembro o nome da atriz...) e de Coldyron irão se
cruzar, levando ao clímax no qual os protagonistas enfrentarão o maquinário
revoltado com os seres humanos usando uma corda explosiva (!?) e amarrando seus
membros (sabe Deus como) para... enfim, é só vendo para crer no non-sense absurdo que é essa cena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário