domingo, 18 de maio de 2025

R.O.T.O.R.


 Mais uma daquelas obras obscuras, de baixo orçamento e de baixa qualidade, que surgiam, como baratas vindas de um bueiro (!), no cinema pauleira dos anos 1980 –e que, com frequência também acabavam migrando para as fitas de VHS, no picareta sub-gênero dos filmes de ação da época do homevideo, “R.O.T.O.R.” graças à galhofa sádica de alguns cinéfilos que insistiram em assistí-lo ao longo dos anos pela comédia involuntária que é, não caiu de todo no esquecimento que, na verdade, merecia.

Dirigido nas coxas por Cullen Blaine –designer da indústria televisiva e cinematográfica que teve maior desempenho profissional dentro do ramo da animação, tendo inclusive produzido o desenho animado oitentista “The Get Along Gang” –“R.O.T.O.R.” trata-se de uma produção com orçamento de fundo de quintal, aproveitando o apelo de diversas outras obras comercialmente influentes do período e que, por isso mesmo, renderam imitações, umas bem esdrúxulas, como esta daqui. Há em “R.O.T.O.R.” algo de “Robocop” (o policial futurista feito a partir de características humanas), de “Exterminador do Futuro” (a máquina maligna voltada contra os seres humanos) e até de “Maniac Cop” (o policial fascista que sai matando a esmo, numa contagem de corpos desenfreada).

A trama abilolada de “R.O.T.O.R.” começa quando um homem é encontrado numa beira de estrada, vítima do que parece ser um acidente de carro. Tal homem é Coldyron (Richard Guesswein, cuja carreira foi mais voltada à instrução de artes marciais), o nosso protagonista que, levado à uma delegacia para prestar depoimento, dá início a um flashback com o objetivo de elucidar toda a trama do filme –no entanto, a trama que ele relata termina não encontrando qualquer conexão com o tal acidente no qual o encontramos primeiramente (!).

Coldyron é, por trás do físico marombado, dos modos trogloditas e da conversa monossilábica e acéfala, por incrível que possa parecer, uma espécie de inventor (!), e sua invenção mais aguardada é, como veremos numa reunião sucedida com executivos na empresa onde trabalha, um ser mecânico destinado a substituir a força policial. Seu nome é R.O.T.O.R. (sigla para Robotic Officer Tactical Operations Research), e embora seja basicamente um esqueleto robótico avançado (ainda que os efeitos especiais jurássicos e datados o façam parecer mais uma animação em stop-motion), ele será revestido de um composto que simulará a pele e a aparência humana.

R.O.T.O.R., porém, como afirma Coldyron não está pronto; levará, pelo menos, uns quatro anos até que um protótipo satisfatório seja projetado. Como seus contratantes não ficam nada felizes com a data demasiada longa, o projeto é acelerado, ignorando a possibilidade de haverem efeitos colaterais e, diante dessa demonstração de ignorância, Coldyron se demite.

Na sequência, o filme traz diversas cenas banais e estendidas além do necessário para que “R.O.T.O.R.” tenha mais duração do que seu simplório enredo permite: Coldyron e sua esposa, personagem completamente sem utilidade no roteiro (!), saem para jantar (numa cena que parece não terminar nunca!); e os funcionários da empresa/laboratório aparecem, conversando sobre banalidades.

É quando R.O.T.O.R., totalmente finalizado e já revestido de seu disfarce humano (a lembrar os cantores do “Village People” com bigode e tudo!) emerge de dentro de um tanque –mas, espere! Ele não levaria quatro anos para ficar pronto?!

De qualquer forma, R.O.T.O.R. encontra um armário e veste-se com um uniforme policial e, mais a frente, enquanto perambula pelo complexo sem ser notado (atropelando umas cadeiras de plástico!), encontra uma moto, feito sob medida para ele, possui até mesmo um emblema escrito R.O.T.O.R.!

A máquina assassina roda pela cidade (na verdade, nem mata tanta gente assim, ele fica mais perseguindo uma única moça como veremos mais a frente...), e acaba detectando o excesso de velocidade de uma mocinha ao volante (!). Na qualidade de vítima principal de R.O.T.O.R. (provavelmente o orçamento não permitia muitas participações...), ela irá fugir dele pelos próximos minutos de filme, incluindo a cena da chegada dela dentro de uma lanchonete na qual R.O.T.O.R. irá enfileirar e imobilizar uma sucessão de adversários com sua força biônica –e não há golpes de karatê, nem pose de marombado que o segure!

Eventualmente, os caminhos de R.O.T.O.R., de sua vítima aleatória (nem sequer lembro o nome da atriz...) e de Coldyron irão se cruzar, levando ao clímax no qual os protagonistas enfrentarão o maquinário revoltado com os seres humanos usando uma corda explosiva (!?) e amarrando seus membros (sabe Deus como) para... enfim, é só vendo para crer no non-sense absurdo que é essa cena.

Na época já longínqua e jurássica do homevideo em VHS, eu já havia ouvido falar de “R.O.T.O.R.”, em afirmações que davam conta de que era um filme para muito além da concepção de um mero ‘filme ruim’. Precisei conferir por conta própria: “R.O.T.O.R.” é tão incrivelmente desleixado, tão assombrosamente sem sentido, tão esdrúxulo e estapafúrdio em seu viés técnico e em suas predisposições narrativas que chega a servir de aula sobre como NÃO fazer um filme.

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