quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Os 7 Suspeitos

Caso não tivesse ficado bem claro no comentário sardônico da trilha sonora de John Morris, logo no início, a sucessão de cenas de pura galhofa já deixaria bem claro que o filme dirigido por Jonathan Lynn (o mesmo de “Meu Primo Vinny”) é uma comédia disfarçada de suspense –ou seria um suspense disfarçado de comédia?
Nada nele se leva a sério, e isso se confirma quando compreendemos que esta é uma tentativa descontraída de Lynn e seu co-roteirista, o também diretor John Landis, em adaptar para cima o jogo “Detetive”, amparado na atmosfera dos contos de Agatha Christie.
O ótimo Tim Curry é, ou aparenta ser, o mordomo de uma mansão onde um jantar há de ser realizado numa noite chuvosa.
Quando os convidados começam a chegar, descobrimos que a presença de todos ali obedece um procedimento muito particular: Para simplificar, todos ali estão presentes usando pseudônimos a fim de proteger suas identidades; e todos foram levados àquele lugar porque o mesmo chantagista lhes extorquia dinheiro.
É assim que, além de Wadsworth, o mordomo, conhecemos também Coronel Mustard (Martin Mull), Mrs. Peacock (Eileen Brennan, de “A Última Sessão de Cinema”), Miss Scarlet (Lesley Ann Warren, de “O Estranho”), Prof. Plum (Christopher Loyd), Mrs. White (Madeline Kahn, de “Lua de Papel”) e Mr. Green (Michael McKean, de “1941-Uma Guerra Muito Louca”).
À eles, soma-se também um certo Mr. Boddy –Sr. Corpo (morto) prova de que os roteiristas não tiveram um pingo de sutileza na hora de nomear os personagens –interpretado por Lee Ving que revela-se o próprio chantagista em pessoa. Na sequência da revelação, dentro de uma sala fechada, as luzes se apagam e... um assassinato acontece!
Mr. Boddy é morto, e apenas Wadsworth e os outros seis se encontravam no recinto.
Além deles estão na mansão também a sexy empregada Yvette (Colleen Camp, de “Death Game”) e a cozinheira (Kellye Nakahara). E a certeza de que o assassino é um deles –e deve ser descoberto antes da chegada iminente da polícia.
Assim se desenha a premissa um tanto abilolada desta paródia de suspenses investigativos que, em sua ânsia de fazer graça, não presta muita atenção às motivações bem sedimentadas dos personagens, nem à coerência que poderia nortear suas ações e muito menos à plausibilidade dos acontecimentos que vão ocorrendo: Ao longo da noite, novas mortes se sucedem –Yvette e a cozinheira; um desavisado que bateu à porta à procura de um telefone (Jeffrey Kramer, de “Tubarão”); um policial que também bateu à porta (Bill Henderson, de “Murphy’s Law”); e, por fim, uma improvável moça levando um ‘telegrama falante’ (Jane Wiedlin) (!) –fazendo com que restem, de fato, apenas os sete suspeitos entre as únicas alternativas possíveis para se chegar ao culpado.
Todavia, tão rocambolesco é o corre-corre no roteiro de Lynn e Landis (que nele privilegiam sua especialidade, o humor), tão intensa é sua vontade de surpreender o expectador à qualquer custo e tão absurdas são as guinadas de sua trama de um ponto em diante que o encadeamento das pistas, os objetivos e pretextos sugeridos neste ou naquele personagem já não fazem o menor sentido, e qualquer explicação acabaria esbarrando no inverossímil.
Essa confusão, ao que parece, já estava prevista na gênese da produção, e os realizadores a justificam como a razão de ser do próprio projeto –no qual os atores realmente se comportam com frenético histrionismo.
Em sua versão em DVD, este “Os 7 Suspeitos” tem pelo menos três diferentes finais alternativos; uma prova de que, até o fim, ninguém sabia muito bem aonde toda aquela confusão iria chegar.

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