Diz-se de “Paranoia” que foi uma ideia ocorrida
à Steven Spielberg –pura bajulação, uma vez que não passa de uma versão
modernosa de “Janela Indiscreta”, de Hithcock –quando este teve a iniciativa de
produzir um exemplar de filme comercial nos moldes daqueles que ele executou
nos anos 1980, dirigido e estrelado por seus apadrinhados, e que marcaram uma
geração de expectadores –como “Os Goonies”, “Gremlins”, “De Volta Para O Futuro” e outros.
Os apadrinhados desta vez eram o diretor D.J.
Caruso e o jovem candidato a astro Shia LaBeouf (que, em meados de 2007, gozava
de alta conta junto à Spielberg que colocou-o como protagonista em
“Transformers” e ainda o escalou para “Indiana Jones e O Reino da Caveira de Cristal”).
LaBeouf é Kale Brecht, jovem norte-americano,
morador de um bairro residencial que acaba em prisão domiciliar devido à um
surto violento ocorrido na escola, acarretado pela morte do pai.
Com uma tornozeleira eletrônica –e não uma
perna engessada como o personagem de James Stewart –e, por conta disso, sem
poder deixar a área da casa e quintal onde mora com a mãe (Carrie Anne-Moss),
tudo o que Kale pode fazer é transformar o ato de bisbilhotar os vizinhos numa
arte; isso e emergir em buscas pela internet e jogos de videogame (o emprego
imodesto de tecnologia nos desdobramentos da trama é o grande diferencial
abraçado pelo filme em sua evocação de modernidade).
Durante essa rotina voyeurística de espionagem,
duas coisas terminam por chamar a atenção de Kale acima das outras: Uma, a
chegada –um tanto providencial –de uma nova vizinha, a bela, jovem e descolada
Ashley (Sarah Roemer, formando um belo parzinho com LaBeouf), que não tarda a
se tornar sua amiga e (a despeito da enfatizada contradição do nerd estranho
enamorando-se da garota bonita e popular) a compactuar com suas
excentricidades.
A outra coisa, vem a ser o vizinho da casa dos
fundos (vivido pelo sempre eficiente David Morse, de “Contato”), recluso, pouco
sociável e de hábitos que vão revelando, ao escrutínio cada vez mais indiscreto
de Kale, a possibilidade dele ser um assassino em série (!).
É claro que a narrativa de D.J. Caruso e o
roteiro de Christopher Landon e Carl Ellsworth aproveitam até o limite do
divertidamente tolerável a batida situação do protagonista que antecipa todo o
mal, mas é incapaz de prová-lo aos céticos personagens coadjuvantes à sua volta
–até que seja tarde demais.
“Paranoia” é, quando muito, um conceito –um
exercício de imaginação que muito pouco muda os elementos que compõem a
estrutura da narrativa idealizada por Alfred Hitchcock em seu clássico imortal.
O frenesi de seu suspense e
a diversão de seus cento e cinco minutos de duração funcionam porque o diretor
Caruso compreende a redundância desse detalhe e usa de seus recursos para
tornar tudo ágil, dinâmico, envolvente e saboroso, tal qual um delicioso bolo
de chocolate, como diria o próprio Hitchcock.
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