Dublê de corridas cinematográficas de dia e piloto
de fugas criminosas a noite, jovem motorista vive sua vida alheio àqueles que
estão ao seu redor. Sua bela vizinha e seu filho pequeno são quem começam a
romper essa curiosa blindagem que parece separá-lo do resto do mundo. Mas as
coisas mudam.
Antes encarcerado, o marido da jovem consegue
liberdade e trás consigo problemas perigosos que a ameaçam e ao menino também.
Agora, o "Garoto" (que é como chamam
o motorista- quando o chamam) deve valer-se de habilidade e astúcia se quiser
protegê-los. Desse modo, sua jornada contra a escória humana (e de certa forma,
em direção à escória humana) o transfigura no mais trágico dos personagens: Em
nome do amor que sente por ela, ele acaba por tornar-se um assassino, cujos
atos, o diretor Nicholas Winding Refn (do notável "Guerreiro
Silencioso") trata de reprovar por meio de peculiares comentários que ele
parece fazer das cenas que elabora: na ausência de uma trilha sonora que lhes
dê embasamento (embora a trilha musical, por assim dizer seja retro e espetacular!);
na decisão cheia de bravura de não fazer deste um filme genérico da ação; e no
modo quase cirúrgico com que extrai qualquer resquício de heroísmo ao mostrar
as cenas do “Garoto” eliminando bandidos com desconcertante riqueza de detalhes
sádicos, e ainda deixando muito claro a transformação nociva que essas atitudes
gradativamente operam em sua persona.
Para tanto, o diretor conta com uma atuação
rica e criteriosa de Ryan Gosling, cujos trejeitos que ele dá ao seu
protagonista anônimo não são meros cacoetes, mas sinais de identificação e
reconhecimento, amostras de uma personalidade que vemos se transformar.
Winding Refn aproveita também para homenagear
elementos do cinema americano que vão dos faroestes de Clint Eastwood à
brutalidade de Quentin Tarantino, ainda que ao fim, o filme adquira percepções
metafísicas que remetem ao seu próprio cinema, e (de novo) à “Guerreiro
Silencioso”.
Todavia, não há como negar:
é por “Drive” que ele haverá de ser por um longo tempo lembrado.
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