domingo, 1 de novembro de 2015

Drive

Dublê de corridas cinematográficas de dia e piloto de fugas criminosas a noite, jovem motorista vive sua vida alheio àqueles que estão ao seu redor. Sua bela vizinha e seu filho pequeno são quem começam a romper essa curiosa blindagem que parece separá-lo do resto do mundo. Mas as coisas mudam.
Antes encarcerado, o marido da jovem consegue liberdade e trás consigo problemas perigosos que a ameaçam e ao menino também.
Agora, o "Garoto" (que é como chamam o motorista- quando o chamam) deve valer-se de habilidade e astúcia se quiser protegê-los. Desse modo, sua jornada contra a escória humana (e de certa forma, em direção à escória humana) o transfigura no mais trágico dos personagens: Em nome do amor que sente por ela, ele acaba por tornar-se um assassino, cujos atos, o diretor Nicholas Winding Refn (do notável "Guerreiro Silencioso") trata de reprovar por meio de peculiares comentários que ele parece fazer das cenas que elabora: na ausência de uma trilha sonora que lhes dê embasamento (embora a trilha musical, por assim dizer seja retro e espetacular!); na decisão cheia de bravura de não fazer deste um filme genérico da ação; e no modo quase cirúrgico com que extrai qualquer resquício de heroísmo ao mostrar as cenas do “Garoto” eliminando bandidos com desconcertante riqueza de detalhes sádicos, e ainda deixando muito claro a transformação nociva que essas atitudes gradativamente operam em sua persona.
Para tanto, o diretor conta com uma atuação rica e criteriosa de Ryan Gosling, cujos trejeitos que ele dá ao seu protagonista anônimo não são meros cacoetes, mas sinais de identificação e reconhecimento, amostras de uma personalidade que vemos se transformar.
Winding Refn aproveita também para homenagear elementos do cinema americano que vão dos faroestes de Clint Eastwood à brutalidade de Quentin Tarantino, ainda que ao fim, o filme adquira percepções metafísicas que remetem ao seu próprio cinema, e (de novo) à “Guerreiro Silencioso”.
Todavia, não há como negar: é por “Drive” que ele haverá de ser por um longo tempo lembrado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário