Livremente baseada na fatídica história que
ficou conhecida como "A Fera da Penha" este filme de estréia de
Fernando Coimbra é um poderoso conto policial de narrativa multifacetada no
início, mas que aos poucos solidifica seu núcleo em torno dos personagens de
Milhem Cortaz e Leandra Leal, ele um homem casado e adúltero, pai de
família classe média baixa; ela, a inicialmente inocente jovem que ele seduz e
transforma em sua amante, para mais tarde tentar se desvencilhar da moça,
despertando nela um instinto vingativo cujas consequências serão trágicas para
todos os envolvidos.
Curioso notar que a postura do filme não chega
a demonizar a moça, autora, afinal de contas, do terrível crime que aqui é
registrado. A narrativa mostra os percalços de rejeição e frustração que ela
enfrenta, e que vão indubitavelmente levando sua personalidade àquela condição
em que, para muitos, o crime hediondo que perpetra pode até soar justificado,
embora de fato não o seja.
Essa dubiedade fascinante a que o filme
consegue chegar, assim como o primoroso trabalho da atmosfera de suspense se
deve em grande pelo bom senso na direção de Coimbra, mas sobretudo, por um
elenco inspirado e brilhante.
A espetacular Leandra Leal, mais assídua no
cinema do que na TV, é quem entrega a atuação mais forte, mais corajosa, e
certamente a que persiste mais na memória e no assombro do expectador.
Milhem Cortaz, contudo, não lhe fica atrás, com
um estilo todo próprio para capturar maneirismos (que ele já aprimorou desde os
dois fenomenais "Tropa de Elite"), ele dá uma composição magnífica de
um homem comum, levado por desejos primitivos, e depois, acoado, em sua
covardia e sua insignificância, por temores mais primitivos ainda.
Sem entregar a trama, que
reserva diversas surpresas e detalhes desconcertantes, especialmente para
aqueles não estiverem familiarizados com a história real, este é um trabalho
vigoroso do nosso cinema, que merece um reconhecimento. E que venham novos
filmes desse notável talento, Fernando Coimbra.
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