sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Os Sete Samurais / Sete Homens e Um Destino

 Nos extras do DVD de “O Poderoso Chefão”, Francis Ford Coppola afirma, em um dado momento, que Akira Kurosawa é o “pai da violência no cinema moderno”. 
Há que se admirar alguém que tem fãs como ele. Inúmeros de seus trabalhos são provas fervilhantes e monumentais de que Coppola está certo. Cada filme que Kurosawa concebeu é um tratado cinematográfico em si, onde a postura da narrativa reitera aquilo que o cinema era, é e ainda pode vir a ser. 
Falemos de “Os Sete Samurais” e, por conseguinte, da sua refilmagem norte-americana, “Sete Homens e Um Destino”. 
Um assolado Japão feudal é palco do suplício de uma aldeia de humildes agricultores que, colheita após colheita, não têm outra opção senão resignar seus ganhos a inescrupulosos bandidos que aparecem todo ano. Desta vez, contudo, será diferente: Alguns deles viajam até as cidades maiores a fim de recrutar um número satisfatório de samurais que se oponham aos samurais e protejam a aldeia. 
O grupo reunido, aos trancos e barrancos, aqui e ali, é uma seleção desigual de sete renegados samurais que se prestam a ajudá-los. 
O filme é de um primor que somente um mestre como Akira Kurosawa é capaz de materializar na tela: A batalha final, debaixo de uma chuva torrencial, é uma aula sobre o uso de elementos dramáticos no cinema. E o seu material é tão genuíno e rico que se prestou a uma das mais dignas refilmagens já feitas até hoje.
Em “Sete Homens e Um Destino”, a mesma premissa é transposta para o Velho Oeste, e termina a ele encaixando-se como uma luva: Camponeses indefesos, cansados de serem explorados pela mesma quadrilha de bandoleiros, ano após ano, saem à procura de pistoleiros de aluguel para que aplaquem, de uma vez por todas, os seus algozes. 
Ao compará-los, é inevitável que a obra japonesa acabe prevalecendo, mas o filme norte-americano tem qualidades inquestionáveis: Seu elenco, recheado de grandes astros, é um espetáculo (Yul Brinner, Steve McQueen, Charles Bronson, Eli Wallach, James Coburn, Robert Vaughn), a direção de John Sturgees se inspira na objetividade de Kurosawa, e entrega um trabalho fluido e envolvente, e a trilha sonora de Elmer Bernstein é, sem sombra de dúvidas, um clássico do cinema. 
Por sinal, o faoreste vai ganhar uma refilmagem (ironia das ironias!) em 2016, dirigido por Antoine Fuqua. Kurosawa, na realidade, foi perspicaz ao perceber essa dicotomia entre os gêneros de samurai e faroeste. Não à toa, muitos de seus trabalhos tinham influência do diretor John Ford. Por essa razão, o faroeste (mas não somente ele) acomodava muito bem a dramaturgia de seus filmes: Além de “Os Sete Samurais” foram também refilmados em versão faroeste, “Rashomon” (em “Quatro Confissões” de Martin Ritt) e “Yojimbo-O Guarda Costas” (em “Por Um Punhado de Dólares” de Sergio Leone). Sem falar de “A Fortaleza Escondida” que serviu da base para George Lucas conceber um certo “Star Wars”. 
Vale lembrar que o inverso também já aconteceu, a trama do clássico de Clint Eastwood, “Os Imperdoáveis”, foi adaptada para o Japão feudal no filme de samurais “Yurusarezaru Mono”, infelizmente inédito no Brasil.

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