A lembrar de não confundir esta obra-prima com
um filme de mesmo título nacional mais recente, protagonizado por Nicolas Cage,
e que deve ser uma das maiores porcarias que já foram cometidas no cinema.
Último trabalho do grande Andrei Tarkovski,
este “O Sacrifício” é seu esforço derradeiro em tentar compreender as dilacerações metafísicas da alma humana. Seu protagonista, Alexander, é um
homem culto, maduro, vivido, cuja etapa da vida está na procura de um lugar
sossegado para envelhecer (o ambiente, afinal, no qual se desenvolve todo o filme),
onde poderá conviver com o filho pequeno. Algumas dessas suas características
refletem não apenas as pessoas que irão lhe visitar, como também o próprio
Andrei Tarkovski.
Durante o final de semana que passam em sua
retirada casa de campo, um noticiário da televisão relata o quê parece ser a
eclosão da Terceira Guerra Mundial e, para os bons entendedores, o fim do mundo.
A partir daí, cada um se defronta com as
próprias e inesperadas pulsões emocionais que afloram em face dessa notícia
estarrecedora.
A atitude da esposa de Alexander é
desesperar-se, para em seguida deixar de lado boa parte do verniz social que
ostentava, para dar expressão à indignações que sufocava, algumas dirigidas ao
próprio Alexander.
Este, por sua vez, redescobre a fé que antes
julgava não ter, ou que considerava devidamente contida por resoluções
intelectuais e pragmáticas que acumulou durante a vida. Próximo do fim,
Alexander descobre-se como o homem na expectativa por um Deus, disposto a
submeter-se aos seus desígnios se isso lhe conceber uma redenção.
É bastante perceptível a forma abrangente com
que Tarkovski influenciou, por exemplo, Lars Von Trier, quando este realizou
“Melancolia”: a premissa é quase a mesma; um grupo de personagens, em uma
profunda dissertação filosófica acerca de seus conhecimentos e de suas emoções,
diante do fim do mundo.
Em seu filme, Lars Von Trier acredita que a
depressão é um estado de absoluta catástrofe, e que não há no fim das contas
muita esperança para a humanidade.
Tarkovski é menos dramático e um pouco mais
otimista, para ele, o homem é o problema de si mesmo, mas o mundo, em sua
harmonia poderosa, será sempre maior que seus anseios e suas presunções. Graças
à Deus.
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