quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Requiem Para Um Sonho

Ainda muito jovem, o diretor Daren Aronofski já havia mostrado a que veio em grande estilo.
Após um desconcertante thriller carregado de estilo e de ousadia (o desafiador "Pi"), ele saiu-se com este retrato impiedoso de personagens mergulhados na via-crusis de seu próprio vício, e no processo, marcou época.
Até hoje lembrado como uma das grandes obras a abordar o vício em drogas, "Requiem Para Um Sonho" é uma experiência das mais exasperantes.
Seus personagens são Harry (Jared Leto, anos antes da consagração com "Clube de Compras Dallas", mas já demonstrando imenso bom gosto na escolha de projetos), sua namorada Marion (a linda, pulsante e brilhante Jennifer Connelly), seu melhor amigo Tyrone (Marlon Mayans, num ótimo e infelizmente raro papel dramático), e sua mãe Sara (a grande Ellen Burstyn, cuja entrega absurda ao personagem rendeu a única indicação ao Oscar recebida pelo filme). Todos estão, no início do filme, em um estado de imersão e êxtase com seus vícios.
Harry e Tyrone são viciados em heroína, Marion em cocaína, e Sara, em ver TV. Eles estão confortáveis com seus vícios, e lhes é relativamente pacata a perspectiva deles de assim ficarem a vida inteira. Eles até permitem-se sonhar com uma vida melhor.
Enquanto Marion planeja montar uma loja, Harry e Tyrone fazem planos para prosperar. Começando por obter dinheiro com venda de drogas, mas logo almejando um lucro limpo. Sara quer porque quer participar de um dos shows de TV que assiste, e para tanto quer entrar no vestido que guarda desde a mocidade.
Através da neurose que o vício lhes inflige, seus sonhos serão assim a gênese de sua ruína.
Divididos nas quatro estações do ano (primavera, verão, outono, inverno), o filme acompanhará os percalços que os levam, na inicial euforia da primavera, à degradação psicológica e, por fim, física que serão registradas no verão e no outono.
Sara irá se viciar em metanfetaminas para ficar mais magra, e sua transformação, comportamental e visual, será de doer no coração. As frustrações de Marion a levarão a buscar mais e mais à fuga das drogas e ela acabará se prostituindo, enquanto Harry e Tyrone encontrarão, cada um a seu modo, uma forma sub-humana de existência.
Quando o inverno chegar, essas quatro trajetórias encontrarão o fundo do poço, o inferno de suas vidas. E o diretor Aronofski não poupa expectador e personagens com cenas cuja carga dramática e o teor de choque só perdem para o primor com que são conduzidas.


Uma demonstração de estilo ímpar, que elevou o patamar do cinema no início da década de 2000.

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