domingo, 14 de fevereiro de 2016

Descompensada

Espontaneidade é via de regra quando se faz comédia. E o diretor Judd Apatow compreende isso muito bem. O espaço capturado por sua câmera centraliza o ator, sempre, e dá-lhe ampla margem para o improviso. É a partir disso, desses lampejos de criatividade conjunta que Apatow e seu elenco terminam por criar o filme que assistimos. E quando temos Amy Schumer em cena (tão protagonista quanto roteirista do filme) a integridade existencial do texto está garantida.
E esta é, sim, uma comédia existencial, daquelas que chegam a irritar como narrativa, enquanto não encontram seu foco. Felizmente, com o talento de Amy e Apatow isso não demora muito a acontecer.
Escritora de uma revista de assuntos gerais, Amy vem a ser um efeito colateral em forma de mulher moderna: não é necessariamente carente, pois não lhe faltam conhecidos com os quais se relaciona bem mais além da questão da amizade. Não chega a ser uma mulher linda, mas não é feia, contudo, é desregrada com relação à bebida é à escolha de seus parceiros, e muitas vezes o faz de propósito, como se quisesse negligenciar o papel inevitável de mulher séria e certinha tão bem ocupado por sua irmã mais nova.
Ao fazer uma entrevista para uma matéria que assume a contragosto, Amy conhece um cirurgião esportivo (o divertido Bill Hader) e, aos trancos e barrancos, engata uma espécie de romance, que parece conduzí-la à mesma situação de todas as outras mulheres: um relacionamento sério.
A grande diferença da criação de Amy Schumer em relação ao arquétipo atual da mulher romanticamente enrolada (ou seja, Bridget Jones) é que Amy enxerga os relacionamentos de uma maneira ainda mais problematizada (e a cena inicial, hilária, já dá conta de esclarecer o porquê disso). Há uma outra diferença também, o tipo de humor: Enquanto “Bridget Jones”, tanto o filme quanto o livro, vinha abrilhantado com o típico humor britânico, este “Descompensada” carrega num humor muito mais norte-americano, de difícil execução é bem verdade, mas muito do agrado do diretor Apatow, o qual ele e Amy Schumer conseguem tirar de letra.

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