quarta-feira, 9 de março de 2016

O Homem Que Caiu Na Terra

O alienígena de David Bowie nos remete um pouco de Ziggy Stardust, embora esse álbum nada tenha a ver com esta produção de Nicolas Roeg: É mais uma referência para ficar  oscilando na mente do expectador, como a presença de Michael Keaton (o ator de “Batman” de Tim Burton) em “Birdman”.
Nicolas Roeg não é, nem nunca foi, um cineasta simplista. Sua visão dos desdobramentos da vida e do mundo está impregnada por toda a sua obra, na morbidez gótica revelada à luz do dia em “Inverno de Sangue Em Veneza”, ou no fatalismo que não poupa nem mesmo as crianças do fantástico “Walkabout-A Grande Caminhada”, no cinema de Roeg não existe nada puro e inocente o bastante que não esteja sujeito à cruel transfiguração da realidade. Não é nem mesmo uma questão de adaptação, como irá descobrir o incauto alienígena personificado por David Bowie. Vindo de um planeta onde os sobreviventes penam pela falta de água, ele chega à Terra com intenções de enriquecer e assim projetar uma nave com a qual poderá levar o líquido precioso para seu planeta e sua família.
Mas, os anos vão se passando, e sua pureza vai cedendo cada vez mais aos vícios intermitentes que a corruptível sociedade humana tem a oferecer, enquanto seus entes queridos são esquecidos.
É curioso como numa história que características poderosamente fantasiosas, Roeg impõe um estilo quase pessimista que contraria gradativamente todas as expectativas do expectador: Se somos impelidos a crer que esse “E.T.” para adultos irá conseguir salvar sua espécie, somos pouco a pouco frustrados pelo registro agravante do tempo que se passa, e pela própria expressão do personagem de Bowie que, apesar de não envelhecer como o restante do elenco que o cerca, vai ganhando ares cada vez mais cansados, e mais desprovidos de vida.
Um lembrete de que em toda a tragédia, nunca somos nós, os únicos a sofrer.

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