O alienígena de David Bowie nos remete um pouco
de Ziggy Stardust, embora esse álbum nada tenha a ver com esta produção de
Nicolas Roeg: É mais uma referência para ficar oscilando na mente do
expectador, como a presença de Michael Keaton (o ator de “Batman” de Tim
Burton) em “Birdman”.
Nicolas Roeg não é, nem nunca foi, um cineasta
simplista. Sua visão dos desdobramentos da vida e do mundo está impregnada por
toda a sua obra, na morbidez gótica revelada à luz do dia em “Inverno de Sangue
Em Veneza”, ou no fatalismo que não poupa nem mesmo as crianças do fantástico
“Walkabout-A Grande Caminhada”, no cinema de Roeg não existe nada puro e inocente
o bastante que não esteja sujeito à cruel transfiguração da realidade. Não é
nem mesmo uma questão de adaptação, como irá descobrir o incauto alienígena
personificado por David Bowie. Vindo de um planeta onde os sobreviventes penam
pela falta de água, ele chega à Terra com intenções de enriquecer e assim
projetar uma nave com a qual poderá levar o líquido precioso para seu planeta e
sua família.
Mas, os anos vão se passando, e sua pureza vai
cedendo cada vez mais aos vícios intermitentes que a corruptível sociedade
humana tem a oferecer, enquanto seus entes queridos são esquecidos.
É curioso como numa história que
características poderosamente fantasiosas, Roeg impõe um estilo quase
pessimista que contraria gradativamente todas as expectativas do expectador: Se
somos impelidos a crer que esse “E.T.” para adultos irá conseguir salvar sua
espécie, somos pouco a pouco frustrados pelo registro agravante do tempo que se
passa, e pela própria expressão do personagem de Bowie que, apesar de não
envelhecer como o restante do elenco que o cerca, vai ganhando ares cada vez
mais cansados, e mais desprovidos de vida.
Um lembrete de que em toda
a tragédia, nunca somos nós, os únicos a sofrer.
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