As mulheres mais uma vez têm aqui toda a atenção
de Almodóvar. Ele se identifica plenamente com elas, e em “Volver” essa
identificação adquire dimensões poderosas com Penélope Cruz, num de seus mais
espetaculares trabalhos: Não fosse ela, o filme do espanhol perderia muito de
seu poder.
É um curioso reencontro de gerações que se
distanciaram. Na ótica de Almodóvar, contudo, esse drama familiar ganha
contornos cartunescos que só não o fazem mais inacreditável graças ao talento
de Penélope, do ótimo elenco coadjuvante (quase todo ele de colaboradoras de
Almodóvar), e da desenvoltura, cada vez mais aprimorada e experiente, de seu
autor em narrar contos que fogem à monotonia das classes que retrata.
Penélope é Raimunda,
espanhola cativante e intempestuosa, cujo marido ela mata para que não abuse da
filha. Como num filme de Antonioni, esse crime é logo deixado de lado por
Almodóvar (!) para concentrar-se em outra questão: A mãe (Carmen Maura, uma das
presenças mais assíduas na filmografia de Almodóvar, o que explica sua presença
onipresente e “fantasmagórica” neste filme), que para todos os efeitos era dada
como morta reaparece, num subterfúgio que só poderia sair mesmo da mente do
espanhol. E é essa questão –a dualidade entre o que se acredita e o que se
passa de fato, entre o modo como lidamos com o mundo, e como a vida se revela a
nós –a grande reflexão junto com a qual ele nos convida a rir e a torcer por
suas heroínas.
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