segunda-feira, 4 de abril de 2016

Volver

As mulheres mais uma vez têm aqui toda a atenção de Almodóvar. Ele se identifica plenamente com elas, e em “Volver” essa identificação adquire dimensões poderosas com Penélope Cruz, num de seus mais espetaculares trabalhos: Não fosse ela, o filme do espanhol perderia muito de seu poder.
É um curioso reencontro de gerações que se distanciaram. Na ótica de Almodóvar, contudo, esse drama familiar ganha contornos cartunescos que só não o fazem mais inacreditável graças ao talento de Penélope, do ótimo elenco coadjuvante (quase todo ele de colaboradoras de Almodóvar), e da desenvoltura, cada vez mais aprimorada e experiente, de seu autor em narrar contos que fogem à monotonia das classes que retrata.

Penélope é Raimunda, espanhola cativante e intempestuosa, cujo marido ela mata para que não abuse da filha. Como num filme de Antonioni, esse crime é logo deixado de lado por Almodóvar (!) para concentrar-se em outra questão: A mãe (Carmen Maura, uma das presenças mais assíduas na filmografia de Almodóvar, o que explica sua presença onipresente e “fantasmagórica” neste filme), que para todos os efeitos era dada como morta reaparece, num subterfúgio que só poderia sair mesmo da mente do espanhol. E é essa questão –a dualidade entre o que se acredita e o que se passa de fato, entre o modo como lidamos com o mundo, e como a vida se revela a nós –a grande reflexão junto com a qual ele nos convida a rir e a torcer por suas heroínas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário