domingo, 26 de junho de 2016

Mulheres Diabólicas

Este não é um filme aflitivo, ou chocante, ou mesmo tenso. Claude Chabrol fez, sim, um suspense, mas ele o reveste de um enganoso verniz de comentário social que ludibria o expectador durante quase toda sua duração.
Somente perto do final ele irá revelar-se um daqueles estudos de personalidades que beiram a psicose, e dos percalços que conduzem as personagens a uma entrega a ela, nos moldes do “Violência Gratuita” de Michael Haneke, ainda que bem mais suavizado, ao gosto francês.
Sandrinne Bonnaire é Sophie, uma jovem e humilde empregada doméstica contratada por uma família rica para servi-los na casa de campo onde moram em uma cidadezinha campestre.
Isabelle Huppert é Jeanne, uma moradora dessa cidadezinha, mal quista entre os moradores, sobretudo aos olhos daquela família burguesa.
Ambas têm segredos a esconder: Sophie é analfabeta e oculta isso de todos; Jeanne protagonizou um nebuloso e mal esclarecido caso que culminou na morte de sua própria filha.
Não é, contudo, em razão desses segredos que elas parecem se identificar: é mais devido à uma apatia em relação a todo o resto. O desfecho não deixará dúvidas de que há algo de sociopata no comportamento distinto das duas, e nas atuações carregadas de significados e preciosismos das atrizes (ambas vencedoras do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza em 1995) esses indícios vêem inicialmente disfarçados de equívocos interpretativos, para só então revelarem-se minúcias astutas de grandes intérpretes.
As magníficas protagonistas resumem assim o próprio filme: Nos levam, de início, a subestimar o quê vemos, aparentando ser um registro muito francês, cheio de detalhes idiossincráticos aos quais não daremos crédito, para ao fim percebermos que eles são parte indissociável da diversão.

Ainda que, no final das contas, essa diversão rime com sadismo. 

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