Este não é um filme aflitivo, ou chocante, ou
mesmo tenso. Claude Chabrol fez, sim, um suspense, mas ele o reveste de um
enganoso verniz de comentário social que ludibria o expectador durante quase
toda sua duração.
Somente perto do final ele irá revelar-se um
daqueles estudos de personalidades que beiram a psicose, e dos percalços que
conduzem as personagens a uma entrega a ela, nos moldes do “Violência Gratuita”
de Michael Haneke, ainda que bem mais suavizado, ao gosto francês.
Sandrinne Bonnaire é Sophie, uma jovem e
humilde empregada doméstica contratada por uma família rica para servi-los na
casa de campo onde moram em uma cidadezinha campestre.
Isabelle Huppert é Jeanne, uma moradora dessa
cidadezinha, mal quista entre os moradores, sobretudo aos olhos daquela família
burguesa.
Ambas têm segredos a esconder: Sophie é
analfabeta e oculta isso de todos; Jeanne protagonizou um nebuloso e mal
esclarecido caso que culminou na morte de sua própria filha.
Não é, contudo, em razão desses segredos que
elas parecem se identificar: é mais devido à uma apatia em relação a todo o
resto. O desfecho não deixará dúvidas de que há algo de sociopata no
comportamento distinto das duas, e nas atuações carregadas de significados e
preciosismos das atrizes (ambas vencedoras do prêmio de Melhor Atriz no
Festival de Veneza em 1995) esses indícios vêem inicialmente disfarçados de
equívocos interpretativos, para só então revelarem-se minúcias astutas de
grandes intérpretes.
As magníficas protagonistas resumem assim o
próprio filme: Nos levam, de início, a subestimar o quê vemos, aparentando ser
um registro muito francês, cheio de detalhes idiossincráticos aos quais não
daremos crédito, para ao fim percebermos que eles são parte indissociável da
diversão.
Ainda que, no final das contas, essa diversão
rime com sadismo.
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