sábado, 9 de julho de 2016

Meia Noite Em Paris

Como toca a todo protagonista de um filme de Woody Allen –e que, a rigor, sabemos tratar-se de uma variação do próprio Woody Allen em si –o jovem escritor interpretado por Owen Wilson, é um personagem que surge, desde sua primeira cena, assolado por suas inseguranças de praxe. Nada do que cerca lhe ajuda: Acompanhado da noiva perdulária (Rachel McAdams) que pouco (ou nada) lhe dá de atenção durante a viagem de férias que fazem em para Paris, ele se vê em companhias fúteis e arrogantes que não lhe agradam.
Apesar de passivo na maior parte do tempo, ele se lança numa de suas solitárias andanças noturnas, e acaba sendo conduzido no tempo, até os anos 1920. Lá, ele cruza-se com folclóricas figuras da arte e da literatura daquele período como Gertrude Stein, Ernest Hemingway, Pablo Picasso, Scott e Zelda Fitzgerald, Luis Buñuel, Salvador Dali e outros.
Quem lhe chama a atenção porém é uma linda e desconhecida modelo de Picasso, fascinada pelo passado (no caso a "belle epóque"-meados de 1890) por quem ele se apaixona.
Saudado, com mérito, como um dos melhores filmes de Woody Allen dos últimos tempos, esta descontraída e espirituosa comédia consegue reunir, com habilidade, o melhor da verve de seu autor: Estão ali os gatilhos emocionais para todas as neuroses e inseguranças da vida afetiva, como o rival sedutor e superior, e o desdém indiferente das pessoas mais próximas, tudo potencializado com um bom humor que proporciona uma leveza contagiante; há também o inquestionável conhecimento intelectual de Allen acerca das artes, que aqui ele tem a oportunidade de discorrer de uma forma como a muito tempo uma história sua não abria espaço; a encenação ligeira e sucinta, propícia para atores de tino cômico e muita típica de um autor ainda apaixonado pelo teatro.
Todos esses elementos, que Allen manipulou tão bem ao longo de sua carreira, sem jamais deixar de colocá-los como parte significativa de seu personalidade artística, mas ao mesmo tempo sem nunca soar repetitivo, convergem para elaborar uma agridoce e apaixonada reflexão sobre a eterna insatisfação do presente, abrilhantada por um grande elenco que só um diretor do gabarito de Woody Allen, em geral é capaz de reunir: Lá estão, Adrien Broody, Kathy Bates, Michael Sheen, Tom Hiddleston e Lea Seydoux, além do pouco conhecido Corey Stoll, extraordinário como Hemingway. Apesar de não ser reconhecido como grande intérprete, Owen Wilson está entre os atores que melhor captaram os trejeitos de Allen num alter-ego, contudo, quem realmente se destaca é a inebriante Marion Cotillard.

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