quarta-feira, 6 de julho de 2016

O Hobbit

Após o sucesso sem precedentes de crítica e bilheteria da Trilogia “Senhor dos Anéis”, no início da década de 2000, era inevitável que a atenção de Hollywood em geral, e dos produtores na franquia em particular, se voltassem para as outras obras de J.R.R. Tolkien, sobretudo para “O Hobbit”, um prelúdio literário para “O Senhor dos Anéis” com um tom ligeiramente mais leve, mais próximo de um conto infantil.
O diretor vencedor do Oscar (justamente por “O Retorno do Rei”) Peter Jackson, logo depois de dois projetos um pouco pessoais (a refilmagem de “King Kong”, sobre a qual já foi falado, e a adaptação de “Um Olhar do Paraíso”), resolveu se dedicar à roteirização e à produção dessa nova obra, deixando a direção inicialmente à cargo de Guilhermo Del Toro.
Mas o quê começou como o projeto de um único filme, não só tornou-se dois (e depois três!), como também consumiu um tempo longo de gestação, provocando o afastamento de Del Toro, e levando assim, Peter Jackson a assumir novamente a direção.
O quê nos leva, assim, ao primeiro filme desta Trilogia “Hobbit”, “Uma Jornada Inesperada”.

Voltamos à Terra Média, desta vez, cerca de sessenta anos antes dos eventos narrados nos outros filmes (o quê não impediu os roteiristas de usar alguns recursos para garantir a participação de Elijah Wood –o Frodo –e de outros membros do elenco de “Senhor dos Anéis”, como veremos mais adiante).
Junto de seu querido sobrinho Frodo, o hobbit Bilbo Bolseiro (no início, interpretado pelo mesmo Ian Holm, mas na juventude, interpretado magnificamente por Martin Freeman, o Watson da série inglesa “Sherlock”) relembra um marcante episódio de sua juventude, quando fora recrutado pelo mago Gandalf (Ian McKellen) –que mais tarde se tornaria seu grande amigo –ao lado de uma comitiva de anões, para uma empreitada rumo ao reino-anão de Erebor usurpado pelo dragão Smaug.
Pelo caminho, eles encontram perigos e toda a sorte de seres mágicos habitantes da Terra Média, bem como personagens que serão fundamentais no desenrolar da aventura a ser vivida futuramente pelo próprio Frodo. Como prelúdio da inesquecível trilogia cinematográfica assinada inclusive pelo mesmo Peter Jackson, era inevitável que “O Hobbit” despertasse interesse no público, o quê se refletiu na boa bilheteria.
Contudo, as platéias que foram conferi-lo no cinema não deixaram de notar que, embora sensacional e cheio de momentos de encher os olhos, este filme não era uma experiência à altura de "Senhor dos Anéis".
A saída de Guilhermo Del Toro removeu justamente o elemento que poderia trazer todo o frescor diferencial para este projeto.

Na continuação, "A Desolação de Smaug", reencontramos o grupo já muito próximo do reino de Erebor.
Bilbo acompanhado de Gandalf, bem como do outrora rei, Torin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) e toda sua comitiva de anões, chegam à Floresta das Trevas, reduto de um reino elfico protegido por um certo Legolas (Orlando Bloom, outra presença resgatada da trilogia anterior). Logo, essa jornada repleta de perigos os levará à esplendorosa Cidade do Lago e depois disso, ao reino-anão que um dia foi do pai de Torin, agora ocupado por uma fera cuja periculosidade o tornou uma lenda: o terrível dragão Smaug.
Jackson deu um ritmo mais dinâmico a este segundo filme, certamente numa reação às críticas não muito positivas dirigidas ao primeiro filme, considerado mais enrolado e disperso.
Todavia, o grande mal que acometeu essa nova trilogia –e que se torna particularmente explícito aqui –é de natureza prática: “O Senhor dos Anéis” era uma trilogia de livros convertida sabiamente numa trilogia de filmes. Já, “O Hobbit” era um único filme, com uma história até mais leve que o épico protagonizado por Frodo, a decisão de estendê-lo todo em uma nova trilogia –com cada capítulo ultrapassando, com margem, as duas horas de duração –exigiu que muito material adicional (e com freqüência, desnecessário) fosse feito, resultando numa produção que tenta desesperadamente replicar os valores admiráveis de produção da trilogia anterior, mas que parece ignorar o fato de que tudo o mais é “encheção de lingüiça”!

O último filme recebeu o pomposo (e estranhamente impróprio) título de “A Batalha dos Cinco Exércitos”.
O dragão Smaug escapa da fortaleza de Erebor (deixando suas riquezas para Torin e seus amigos), mas oferece uma ameaça sem precedentes aos moradores da Cidade do Lago. Depois, com o dragão morto e suas moradias destruídas, os habitantes irão recorrer ao restituído rei anão –auto intitulado “Rei Sob A Montanha” –para receberem algum abrigo.
Mas, Torin está com a febre do ouro e falta com sua palavra, o quê faz com que, às portas de Erebor se reúna um exército de homens e outro de elfos a fim de se opor ao contingente de anões, liderados por sua vez, por Dain Pé de Ferro.
Todos serão surpreendidos pelas forças de orcs que trairão e atacarão a todos.
O interesse do expectador é, portanto, bastante comprometido quando se chega neste terceiro e derradeiro filme, no qual o pecado cometido por Peter Jackson (o de estender seu prelúdio de “O Senhor dos Anéis” além do necessário) se torna mais visível: Personagens inteiros, concebidos exclusivamente para esta versão cinematográfica, como Tauriel (Evangeline Lilly) e sua intrigante relação com um dos anões, não encontram qualquer respaldo da narrativa quando chega a hora de juntar todas as pontas soltas, o quê termina por comprometer o protagonismo de Martin Freeman (que, como Bilbo, parece estar mais perdido que surdo em bingo!), e por conseqüência, o antagonismo do rei élfico Thranduil (Lee Pace) e até mesmo do dragão Smaug (voz de Benedict Cumberbath).

O fiasco está longe de ser completo, mas ficou claro que nem mesmo a própria equipe original era capaz de reproduzir a magia que pulsava de “O Senhor dos Anéis”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário