sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Calígula


Uma das mais infames (e lendárias) produções cinematográficas de que se tem notícia, tinha mesmo que ser assinada pelo italiano Tinto Brass, que durante boa parte de sua carreira dedicou-se à criação de um “gênero”, por assim dizer, que harmonizasse o drama de costumes e o pornográfico, com uma aparente e claudicante influência de mestres maiores do cinema italiano como Píer Paolo Passolini e Luchino Visconti.

A história corresponde bastante às pretensões dos produtores, que almejavam um trabalho de tintas épicas e hollywoodianas: Em meio ao auge do Império Romano, o jovem Calígula (Malcow MacDowell, recém-saído de "Laranja Mecânica") aguarda seu momento de subir ao trono por sucessão. Entretanto, guiado pelos estratagemas da irmã Drusilla (Teresa Ann Savoy), com quem mantém uma relação incestuosa, ele termina por afundar Roma em intermináveis orgias e perversões.

Embora sejam perceptíveis no filme, as intenções de se fazer uma superprodução –como o elenco que reúne estrelas como MacDowell, Peter O Toole, John Gielgud e Helen Mirren (que chega a aparecer nua!) –o grande diferencial que destacou “Calígula” das produções dos anos 1970 (e que justifica talvez sua lembrança hoje, quase quatro décadas depois de sua realização), é a conturbada história de seus bastidores, que levou à mudança de abordagem do filme como um todo: Reza a lenda que Tinto Brass planejava um filme suntuoso e elegante, na medida do possível que o já decadente cinema italiano do período poderia arcar, visando, quem sabe, uma repercussão que elevasse seu nome ao dos grandes autores importados para trabalhar nos EUA, o quê, sabemos, acabou não acontecendo.
Temendo bancar as contas de um filme que corria o risco de tornar-se um projeto caro e megalomaníaco, o produtor Bob Guccione interferiu, transformando o filme na única espécie de produto vendável –sendo ele o criador da revista Penthouse! –que ele conhecia.
A montagem paralela que envolvia o elenco famoso (que já era, ela própria, bastante abundante no erotismo), recebeu assim inserções de cenas de sexo explícito, que o aproximaram muito de um filme pornográfico de fato. Tornando “Calígula” o filme que ele é até hoje: Uma produção picotada, onde suas duas diferentes facetas –o filme pornô e o filme de época no qual se acha o elenco famoso –quando muito só se harmonizam devido à pouca habilidade do diretor Tinto Brass cuja encenação visual, provavelmente de maneira involuntária, se aproxima mesmo da (pouca) elaboração cênica de um filme erótico.
Ainda que, eu admito, existam filmes eróticos muito mais bem produzidos do que aqueles realizados por Tinto Brass...

Nenhum comentário:

Postar um comentário