Uma das mais infames (e lendárias) produções cinematográficas de que se tem notícia, tinha mesmo que ser assinada pelo italiano Tinto Brass, que durante boa parte de sua carreira dedicou-se à criação de um “gênero”, por assim dizer, que harmonizasse o drama de costumes e o pornográfico, com uma aparente e claudicante influência de mestres maiores do cinema italiano como Píer Paolo Passolini e Luchino Visconti.
A história corresponde bastante às pretensões
dos produtores, que almejavam um trabalho de tintas épicas e hollywoodianas: Em
meio ao auge do Império Romano, o jovem Calígula (Malcow MacDowell, recém-saído
de "Laranja Mecânica") aguarda seu momento de subir ao trono por
sucessão. Entretanto, guiado pelos estratagemas da irmã Drusilla (Teresa Ann
Savoy), com quem mantém uma relação incestuosa, ele termina por afundar Roma em
intermináveis orgias e perversões.
Embora sejam perceptíveis no filme, as
intenções de se fazer uma superprodução –como o elenco que reúne estrelas como
MacDowell, Peter O Toole, John Gielgud e Helen Mirren (que chega a aparecer
nua!) –o grande diferencial que destacou “Calígula” das produções dos anos 1970
(e que justifica talvez sua lembrança hoje, quase quatro décadas depois de sua
realização), é a conturbada história de seus bastidores, que levou à mudança de
abordagem do filme como um todo: Reza a lenda que Tinto Brass planejava um
filme suntuoso e elegante, na medida do possível que o já decadente cinema
italiano do período poderia arcar, visando, quem sabe, uma repercussão que
elevasse seu nome ao dos grandes autores importados para trabalhar nos EUA, o
quê, sabemos, acabou não acontecendo.
Temendo bancar as contas de um filme que corria
o risco de tornar-se um projeto caro e megalomaníaco, o produtor Bob Guccione
interferiu, transformando o filme na única espécie de produto vendável –sendo
ele o criador da revista Penthouse! –que ele conhecia.
A montagem paralela que envolvia o elenco
famoso (que já era, ela própria, bastante abundante no erotismo), recebeu assim
inserções de cenas de sexo explícito, que o aproximaram muito de um filme
pornográfico de fato. Tornando “Calígula” o filme que ele é até hoje: Uma
produção picotada, onde suas duas diferentes facetas –o filme pornô e o filme
de época no qual se acha o elenco famoso –quando muito só se harmonizam devido
à pouca habilidade do diretor Tinto Brass cuja encenação visual, provavelmente
de maneira involuntária, se aproxima mesmo da (pouca) elaboração cênica de um
filme erótico.
Ainda que, eu admito,
existam filmes eróticos muito mais bem produzidos do que aqueles realizados por
Tinto Brass...
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