Após o pra lá de merecido Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro conquistado por “O Tigre e O Dragão”, o cineasta chinês, Ang Lee,
viu abertas para si as portas de Hollywood (que, verdade seja dita, já o
cortejava desde os premiados “Razão e Sensibilidade” e “Tempestade de Gelo”).
Foi uma mudança de tom tão ou mais brutal do
que um diretor sério e respeitado migrar para os épicos de artes marciais quando
foi anunciado que seu próximo projeto seria a adaptação de um dos mais famosos
(e complexos) personagens da editora Marvel: O Incrível Hulk.
Paradoxalmente, era um personagem que agregava
características intrínsecas ao interesse de Ang Lee, como contador de
histórias, mas ele não fez por menos: Reinventou-se como cineasta para
compreender a complexidade orgânica que a interação inédita de um protagonista
digital como o Hulk como o restante do elenco e com o cenário à sua volta
exigia; concebeu uma montagem desigual, inventiva e desafiadora de cenas
quadrinizadas a fim de reproduzir a linguagem de uma história em quadrinho; e
abraçou a estranheza confiante do roteiro de James Schammus, que redefiniu a
origem do personagem, afastando-se das explicações dos quadrinhos, e buscando
uma série de influências psico-dramáticas que remetem até mesmo à Ingmar
Bergman (!),tratando o material com uma insuspeita originalidade, ainda que na
opinião de muitos, isso tenha eliminado boa parte do potencial comercial do filme.
O cientista Bruce Banner (o eficiente Eric
Bana) sofre um acidente de laboratório que, somado à mutação de seu DNA
provocada por seu pai, David (Nick Nolte), o transforma em um monstro verde de
pura fúria, reflexo de traumas e stress em seu subconsciente. A criatura é
caçada pelo exército, na figura do General Ross (Sam Elliot, ótimo), pai de sua
ex-namorada Betty (Jennifer Connelly, abrilhantando o filme com sua beleza e
seu talento), e vira alvo da obsessão de David Banner, que continua a realizar
experiências ilegais. Pai e filho, transformados em monstros pelo abuso da
ciência, acabam se enfrentando.
Embora repleto de ação e efeitos especiais,
“Hulk” é dramático e simbólico na abordagem do personagem, revelando assim
muito da natureza de Lee como realizador.
Vale lembrar que, cinco anos depois, a Marvel,
já consolidada como estúdio realizou uma nova versão do Hulk, estrelada por
Edward Norton, mas essa, como se diz, é realmente uma outra história...
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