sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Hulk

Após o pra lá de merecido Oscar de Melhor Filme Estrangeiro conquistado por “O Tigre e O Dragão”, o cineasta chinês, Ang Lee, viu abertas para si as portas de Hollywood (que, verdade seja dita, já o cortejava desde os premiados “Razão e Sensibilidade” e “Tempestade de Gelo”).
Foi uma mudança de tom tão ou mais brutal do que um diretor sério e respeitado migrar para os épicos de artes marciais quando foi anunciado que seu próximo projeto seria a adaptação de um dos mais famosos (e complexos) personagens da editora Marvel: O Incrível Hulk.
Paradoxalmente, era um personagem que agregava características intrínsecas ao interesse de Ang Lee, como contador de histórias, mas ele não fez por menos: Reinventou-se como cineasta para compreender a complexidade orgânica que a interação inédita de um protagonista digital como o Hulk como o restante do elenco e com o cenário à sua volta exigia; concebeu uma montagem desigual, inventiva e desafiadora de cenas quadrinizadas a fim de reproduzir a linguagem de uma história em quadrinho; e abraçou a estranheza confiante do roteiro de James Schammus, que redefiniu a origem do personagem, afastando-se das explicações dos quadrinhos, e buscando uma série de influências psico-dramáticas que remetem até mesmo à Ingmar Bergman (!),tratando o material com uma insuspeita originalidade, ainda que na opinião de muitos, isso tenha eliminado boa parte do potencial comercial do filme.
O cientista Bruce Banner (o eficiente Eric Bana) sofre um acidente de laboratório que, somado à mutação de seu DNA provocada por seu pai, David (Nick Nolte), o transforma em um monstro verde de pura fúria, reflexo de traumas e stress em seu subconsciente. A criatura é caçada pelo exército, na figura do General Ross (Sam Elliot, ótimo), pai de sua ex-namorada Betty (Jennifer Connelly, abrilhantando o filme com sua beleza e seu talento), e vira alvo da obsessão de David Banner, que continua a realizar experiências ilegais. Pai e filho, transformados em monstros pelo abuso da ciência, acabam se enfrentando.
Embora repleto de ação e efeitos especiais, “Hulk” é dramático e simbólico na abordagem do personagem, revelando assim muito da natureza de Lee como realizador.

Vale lembrar que, cinco anos depois, a Marvel, já consolidada como estúdio realizou uma nova versão do Hulk, estrelada por Edward Norton, mas essa, como se diz, é realmente uma outra história...

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