Neste que é provavelmente o melhor filme
realizado por Brian De Palma na década de 1990, impera a curiosidade por
revê-lo numa nova colaboração com o ator Al Pacino depois do vigoroso e
alucinante “Scarface”.
As semelhanças são inúmeras (tantas que De
Palma, em princípio, relutou o projeto), mas são suas distinções que, de fato,
conferem uma notável personalidade ao filme.
Recém saído da prisão onde cumprira cinco anos
de uma pena de trinta, o ex-gangster porto-riquenho Carlito Brigante (Pacino)
deseja valer-se de tal golpe de sorte para abandonar em definitivo a
criminalidade, tentando prosperar com o lucro que restou de seus negócios no
lado leste do Harlem, em Nova York.
Para isso, torna-se gerente em uma boate no
bairro em que cresceu e arruma bons clientes entre os mafiosos locais, mantendo
sempre uma postura de não se envolver com irregularidades. Carlito também busca
retomar o convívio com a mulher que ama, a dançarina Gail (Penelope Ann Miller,
deliciosa). Mas seu amigo David Kleinfeld (Sean Penn, notável), um advogado
viciado em cocaína (e completamente pinel) pode por tudo a perder, sobretudo
quando descobre-se acuado devido à um mafioso italiano que quer coagi-lo a
escapar da penitenciária.
Carlito quer a redenção, e a perspectiva de uma
vida de paz ao lado da amada, mas as circunstâncias nunca deixam de tecer uma
teia de desdobramentos que o tragam de volta à antiga vida.
Dessa forma, se “Scarface” era sobre uma busca
por poder e status dentro da hierarquia do crime, “O Pagamento Final” é sobre
uma tentativa de abandono dessa mesma hierarquia.
A ascensão e a expiação, tornados dois lados de
uma mesma moeda por De Palma, que resgata suas técnicas magistrais de narrativa
da primeira metade dos anos 1980, após dois filmes menores e insuficientes nos
quais vislumbrava uma mal-sucedida reinvenção (“A Fogueira das Vaidades” e
“Síndrome de Cain”). Aqui De Palma se reencontra, moldando o tempo através da
tensa perseguição final, onde os corredores azulejados das estações refletem a
aflição, do protagonista e do expectador, construindo diversos personagens
memoráveis a partir de presenças pontuais do elenco, e não apenas brindando o
público com aquela primorosa seqüência final –trabalhada desde o início
elíptico e, de certa forma, oculta durante todo o filme atrás de uma muralha de
baixa voltagem –como também entregando um final lúdico a transformar o
agonizante instante derradeiro do personagem principal num vislumbre
paradisíaco ao som de “You Are So Beautiful” de Joe Coker.
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