Um dos blockbusters que mais dividiram as
opiniões em 2016, esta versão feminina e alternativa do clássico da ‘sessão da
tarde’ de 1984, dirigido por Ivan Reitman ganhou detratores e admiradores
quando foi exibida nos cinemas, todos com igual nível de entusiasmo: Não é nem
tanto ao céu, nem tanto ao inferno.
A mensagem de empoderamento feminino que o
filme tenta passar –manifestada mais explicitamente na escolha de um elenco de
comediantes femininas para interpretar personagens que são, em essência, os
mesmos do elenco original masculino, porém, empregada também em várias outras
escolhas, menções e observações ao longo do filme –não é tão acertada e admirável
quanto, por exemplo, o quê foi feito em “Mad Max-Estrada da Fúria”. Também, o
humor do diretor Paul Feig não é tão acessível quanto o foi o da obra de Ivan
Reitman. Assim como fez em “Missão Madrinha de Casamento”, Feig constrói a
comédia a partir de improvisos constante do elenco e de sacadas peculiares de
roteiro. E como humor é uma questão muito particular, o resultado fica ambíguo
para uns, divertido para outros.
Senti um resultado muito parecido com “Missão
Madrinha...”, mas, por alguma razão, aquele filme foi bastante aplaudido, já
este daqui, encontrou relativa rejeição. Talvez, por ousar remodelar um
trabalho que goza de imenso carinho por grande parte do público.
Como obra cinematográfica em si, “Os
Caça-Fantasmas” privilegia-se de certa névoa nostálgica que lhe confere, aos
olhos do público, uma excelência que ele (a exemplo de outros clássicos
oitentistas) não necessariamente tinha.
Contudo, é indicativo da perspicácia dos
realizadores deste novo que seja este daqui o escolhido para se refilmar, e no
processo, moldar como uma mensagem pró-feminismo: Analisado friamente, “Os Caça-Fantasmas” de 1984 é um filme cheio
de mensagens politicamente incorretas, em sua maioria de cunho machista.
Temos, logo no início, uma cena em que o
personagem de Bill Murray distorce, na maior cara dura, um experimento-teste sério
da faculdade só para poder flertar com uma estudante; as personagens femininas
de maior proeminência na trama –a mocinha vivida por Sigourney Weaver, e a
secretária Janine, de Annie Potts –têm revelância pífia (Sigourney é, quando
muito, a donzela em perigo, chegando a servir até à propósitos sexuais para o
vilão da história [!] enquanto que Annie interpreta um mero estereótipo
afetado); e o quê falar do nível de absurdo na cena em que Dan Aykroyd recebe
sexo oral de uma fantasma?!
Dessa forma, embora goze desse mérito, este
novo “Caça-Fantasmas” (agora sem o artigo) oscila entre momentos excelentes, e
outros que poderiam ter sido ótimos, mas acabam esbarrando numa perigosa
sensação de constrangimento e até vergonha alheia. Seu elenco a princípio é
funcional, reunindo algumas das mais notáveis comediante americanas da
atualidade, incluindo Melissa McCarthy e Kristen Wiig, que trabalharam com Feig
em “Missão Madrinha...”, todavia, quem se destaca é mesmo a interessante e
surtada Kate McKinnon. Há também uma participação –também ela cheia de subtexto
–de Chris Hemsworth (“Thor”) como o secretário bonitão e burro.
A verdade é que há anos o cinema hollywoodiano
ensaiava uma nova versão dos “Caça-Fantasmas”; tentou-se, por muito tempo, uma
reunião do time original, descartada a partir do falecimento de Harold Ramis em
2014; depois, muito se especulou numa versão mais jovem numa refilmagem
propriamente dita, com nomes como Seth Rogen sendo ventilados. Nenhum desses projetos,
entretanto, prosseguiu ver a luz do dia, até Paul Feig tocar esta sua idéia.
Ele teve amplo apoio de Ivan Reitman (que surge
aqui como produtor) e o elenco do filme original (à exceção, claro, de Harold
Ramis) aparece em peso, em pontas ocasionais, como formar de dar sua benção à
esta nova versão.
A benção do público,
contudo, foi um pouco mais difícil de ser conquistada.
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