sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Caça - Fantasmas

Um dos blockbusters que mais dividiram as opiniões em 2016, esta versão feminina e alternativa do clássico da ‘sessão da tarde’ de 1984, dirigido por Ivan Reitman ganhou detratores e admiradores quando foi exibida nos cinemas, todos com igual nível de entusiasmo: Não é nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno.
A mensagem de empoderamento feminino que o filme tenta passar –manifestada mais explicitamente na escolha de um elenco de comediantes femininas para interpretar personagens que são, em essência, os mesmos do elenco original masculino, porém, empregada também em várias outras escolhas, menções e observações ao longo do filme –não é tão acertada e admirável quanto, por exemplo, o quê foi feito em “Mad Max-Estrada da Fúria”. Também, o humor do diretor Paul Feig não é tão acessível quanto o foi o da obra de Ivan Reitman. Assim como fez em “Missão Madrinha de Casamento”, Feig constrói a comédia a partir de improvisos constante do elenco e de sacadas peculiares de roteiro. E como humor é uma questão muito particular, o resultado fica ambíguo para uns, divertido para outros.
Senti um resultado muito parecido com “Missão Madrinha...”, mas, por alguma razão, aquele filme foi bastante aplaudido, já este daqui, encontrou relativa rejeição. Talvez, por ousar remodelar um trabalho que goza de imenso carinho por grande parte do público.
Como obra cinematográfica em si, “Os Caça-Fantasmas” privilegia-se de certa névoa nostálgica que lhe confere, aos olhos do público, uma excelência que ele (a exemplo de outros clássicos oitentistas) não necessariamente tinha.
Contudo, é indicativo da perspicácia dos realizadores deste novo que seja este daqui o escolhido para se refilmar, e no processo, moldar como uma mensagem pró-feminismo: Analisado friamente,  “Os Caça-Fantasmas” de 1984 é um filme cheio de mensagens politicamente incorretas, em sua maioria de cunho machista.
Temos, logo no início, uma cena em que o personagem de Bill Murray distorce, na maior cara dura, um experimento-teste sério da faculdade só para poder flertar com uma estudante; as personagens femininas de maior proeminência na trama –a mocinha vivida por Sigourney Weaver, e a secretária Janine, de Annie Potts –têm revelância pífia (Sigourney é, quando muito, a donzela em perigo, chegando a servir até à propósitos sexuais para o vilão da história [!] enquanto que Annie interpreta um mero estereótipo afetado); e o quê falar do nível de absurdo na cena em que Dan Aykroyd recebe sexo oral de uma fantasma?!
Dessa forma, embora goze desse mérito, este novo “Caça-Fantasmas” (agora sem o artigo) oscila entre momentos excelentes, e outros que poderiam ter sido ótimos, mas acabam esbarrando numa perigosa sensação de constrangimento e até vergonha alheia. Seu elenco a princípio é funcional, reunindo algumas das mais notáveis comediante americanas da atualidade, incluindo Melissa McCarthy e Kristen Wiig, que trabalharam com Feig em “Missão Madrinha...”, todavia, quem se destaca é mesmo a interessante e surtada Kate McKinnon. Há também uma participação –também ela cheia de subtexto –de Chris Hemsworth (“Thor”) como o secretário bonitão e burro.
A verdade é que há anos o cinema hollywoodiano ensaiava uma nova versão dos “Caça-Fantasmas”; tentou-se, por muito tempo, uma reunião do time original, descartada a partir do falecimento de Harold Ramis em 2014; depois, muito se especulou numa versão mais jovem numa refilmagem propriamente dita, com nomes como Seth Rogen sendo ventilados. Nenhum desses projetos, entretanto, prosseguiu ver a luz do dia, até Paul Feig tocar esta sua idéia.
Ele teve amplo apoio de Ivan Reitman (que surge aqui como produtor) e o elenco do filme original (à exceção, claro, de Harold Ramis) aparece em peso, em pontas ocasionais, como formar de dar sua benção à esta nova versão.
A benção do público, contudo, foi um pouco mais difícil de ser conquistada.

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