É curioso perceber que, excetuando os
excepcionais clássicos pelos quais é lembrado, o diretor Francis Ford Coppola
sempre teve uma carreira claudicante, realizando filmes em geral equivocados,
como se tentasse perseguir aquele empuxo criativo que ele obteve com a trilogia
“O Poderoso Chefão”, “Apocalypse Now”, “A Conversação” e “Drácula de Bram
Stoker”. Não são tão poucos títulos assim, é verdade, mas basta lembrar o
quando realizaram (e ainda realizam) seus amigos Steven Spielberg, Martin
Scorsese e Brian De Palma para notar que Coppola é o mais oscilante deles.
Contudo, não é de se reprovar a atitude do
produtor Robert Evans em bancar este que terminou sendo um fracasso comercial:
Qual produtor negaria a chance de estar num projeto onde o diretor de “O
Poderoso Chefão” revisita, sob um novo viés, o tema máfia?
No final da década de 1920, acompanhamos dois
irmãos caucasianos que seguem caminhos diferentes no Harlem, bairro de
predominância negra, em Nova York; enquanto um deles, Dixie Dwyer (Richard
Gere), trompetista profissional, apaixona-se por Vera Cícero (Diane Lane, jovem
e linda), amante do gangster Dutch Schultz (James Remar) –uma figura real que volta
e meia desperta interesse no cinema, como em “Billy Bathgate-O Mundo À Seus
Pés” onde foi interpretado por Dustin Hoffman; o outro irmão, Vincent Dwyer
(Nicolas Cage), ao tornar-se capanga do próprio Schultz passa a trilhar
caminhos mais violentos.
Paralelamente, vemos também a trajetória de
outros dois irmãos, artistas negros, tentando sobreviver trabalhando na boate,
pertencente à Owney Madden, outro gangster, que serve de palco para a maioria
desses dramas: O Cotton Club.
Coppola logrou juntar aqui os elementos de dois
de seus trabalhos: O colorido e a vibração musical jazzística de “O Fundo do
Coração”, com a tensão e a violência impactante de seus dois épicos de “O
Poderoso Chefão” (o último filme da trilogia ele só faria alguns anos depois). Ele é bem sucedido na construção da atmosfera
fervilhante e da cacofonia do Cotton Club onde se vê registrado todo o fluxo
infinito de entrecruzadas linhas narrativas dos personagens, sejam eles os
clientes, ou os artistas seja no palco, seja nos bastidores.
Todavia, a fusão de gêneros à que se presta não
se cumpre harmoniosamente e o roteiro (nitidamente escrito e reescrito à
exaustão) oferece inúmeras soluções tolas.
O melhor de tudo é a química fantástica (e um
pouco mal aproveitada) entre Richard Gere e a bela Diane Lane (que tornariam a
se reencontrar, com bons resultados, em “Infidelidade”, de 2002, e em “Noites
de Tormenta”, de 2009). Coppola é um hábil diretor e consegue imbuir uma
quantia considerável de charme à narrativa, uma pena que a equivocada escolha
do apático e nada carismático James Remar para interpretar Schultz ponha tudo a
perder...
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