A abertura –uma das mais espetaculares do
cinema! –é uma espécie de empurrão em direção a outro mundo, outra época: A
câmera registra o abrir de uma porta que conduz à amplitude de um vasto cenário,
aquele que marca a maior parte da filmografia de John Ford, o Monument Valley.
Somos então introduzidos no ambiente familiar
para o qual o taciturno Ethan Edwards (John Wayne, mítico) retorna após vários
anos, nitidamente brutalizado por suas experiências na Guerra Civil. Logo de
início, o diretor John Ford é hábil em estabelecer as diretrizes dramáticas de
seu filme: Ethan tem por essa família um afeto que sua truculência torna
incapaz de expressar.
A mesma família que, na sucessão de cenas
seguintes, ele irá tragicamente perder: Eles são atacados por índios comanches
quando Ethan e outros soldados comandados pelo Capitão Reverendo Clayton (War
Bond) se encontram ausentes.
O diretor evita as cenas mais pesadas de
violência –a tragédia que engatilha a trama não é mostrada, mas seu fatalismo
sugerido é de uma contundência inédita na obra de Ford, ilustrado pela luz
avermelhada do pôr-do-sol cor de sangue que antecede o momento.
Todos morrem, com exceção de Debbie (que mais
tarde, será interpretada por Natalie Wood), a caçula da família, raptada e levada
para ser criada por um chefe indígena conhecido por Scar (Henry Brandon, num
papel breve, mas tão acalentado pelo roteiro quando o de Wayne).
Acompanhado daquele que é seu sobrinho adotivo,
Martin Pawley (Jeffrey Hunter), Ethan vaga pelas intermináveis pradarias
norte-americanas, enfrentando os distintos rigores das estações, consumido por
um desejo sombrio de vingança –o quê (para a perplexidade do jovem Martin) pode
levar Ethan até mesmo a matar Debbie, caso ela tenha se adaptado à cultura
indígena.
Nesse percurso, Ford não se vale de
intertítulos para avisar o expectador dos cinco longos anos que se passam –ele
faz com que essa seja uma sensação experimentada cena a cena, a medida que a
obstinação de Ethan e Martin, transfigurada pela frustração contínua, dá lugar
à obsessão, sem nunca deixar de evidenciar o preço que essa busca cobrou a cada um
dos personagens: Martin, por muito pouco, não sacrifica seu casamento com a
jovem Laurie (Vera Miles), e Ethan abandona gradativamente a humanidade que
ainda lhe resta.
Essa capacidade de amar é nele resgatada pela
própria Debbie já no desfecho do filme, quando Ethan percebe o erro de se
deixar infectar pelo ódio.
O momento em que, por fim, ele devolve Debbie à
família que a criará é uma das maiores e mais expressivas cenas do cinema, onde
se percebe toda tenacidade dramática capaz de ser atingida pelo diretor Ford: A
mesma porta recebe, para dentro de sua casa a jovem que outrora esteve
desaparecida, assim como todos os membros de sua família, menos Ethan. Ele
apenas observa de fora, ciente que não faz parte deles. A câmera de Ford, num
movimento tão discreto quanto emocionalmente poderoso, retoma o mesmo
enquadramento com o qual o filme se iniciou e a porta se fecha, mostrando Ethan
caminhando desolado em direção ao horizonte.
Eis aqui, também, um dos
mais espetaculares finais do cinema.
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