terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Sexo, Mentiras e Videotape

   Este brilhante e austero trabalho do ainda jovem diretor Steve Sodenbergh que, por seu domínio prodigioso de cena e impecável condução da trama conquistou a Palma de Ouro em Cannes em 1990, faz parte de uma tríade de grandes obras lançadas no fim da década de 1980 e começo da de 90 que promoveram uma transformação na percepção comercial e artística que público e crítica tinham então do cinema independente norte-americano: Foram elas, além deste “Sexo, Mentiras e Videotape”, “Faça A Coisa Certa”, de Spike Lee, e “Drugstore Cowboy”, de Gus Van Sant.
   O filme de Sodenbergh foi aquele que mais se beneficiou da generosidade das premiações do período, embora, por curiosidade, seu realizador viesse a encarar um consideravelmente longo período sem fazer nada relevante depois dele –foram necessários inúmeros projetos depois para que Sodenbergh voltasse a integrar, na década seguinte, com a sua bem-sucedida primeira parceria com George Clooney, o suspense “Irresistível Paixão”, a lista dos grandes diretores de Hollywood.
    Mas, isto é divagação. Voltemos ao filme em questão: Na trama ligeiramente inspirada em Douglas Sirk, mas carregada de um pertinente ímpeto de transgressão e renovação, Sodenbergh mergulha suas lentes (com indelével necessidade analítica) sobre as atitudes do bem-sucedido advogado John (Peter Gallagher) que mantém, ao mesmo tempo, um relacionamento distante com Ann, sua esposa frígida (Andie McDowell, mais linda do que nunca), e um caso adúltero com Cynthia, a cunhada fogosa (Laura San Giacomo), até que chega então um amigo dos tempos de escola, Graham (James Spader, numa sensacional e inspirada atuação), obcecado em gravar em vídeo os depoimentos mais íntimos das mulheres que conhece.
   Impotente, Graham encontra sua verdadeira fonte de excitação sexual ao assistir as imagens nas quais as mulheres com quem cruzou expõem suas experiências, confessam suas impressões acerca do sexo e revelam intimidades. Ele acaba assim se tornando um agente catalisador para uma série de reviravoltas que se operam a partir de seu envolvimento com o núcleo inicial de personagens.
     Esse viés ratifica a superficialidade de John, a fragilidade de Cynthia, e especialmente, o ímpeto de Ann, através da qual as mudanças mais dramáticas serão percebidas.

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