Reunião de uma das maiores estrelas espanholas
com um dos mais cultuados diretores da Espanha, “Ma Ma” (com as sílabas
separadas, talvez, para que não fosse confundido com “Mama”, o terror
protagonizado por Jessica Chastain) terminou sendo uma obra bastante
interessante, plenamente capaz de corresponder à esses dois talentos, ainda que
seja assumida e deslavadamente um melodrama,o quê talvez afaste cinéfilos mais
exigentes e seletivos.
Pura implicância. Tal e qual seus outros belos
trabalhos, Julio Medem constrói uma obra cheia de sentimento, e o sentimento em
questão é vontade de viver. Ela pulsa, absoluta, em cada cena, na interpretação
sólida, afetuosa e preciosa de Penelope Cruz, também ela produtora, e
visivelmente comovida, emocionada e identificada com o tema e a personagem.
Ela é Magda. Uma jovem professora em processo
de divórcio que descobre ter câncer de mama no mesmo dia em que conhece por
acaso um olheiro, Arturo (o ótimo Luis Tosar, do suspense argentino “Enquanto
Você Dorme”), num jogo de futebol do filho.
Arturo tem, também ele, uma situação trágica: A
filha morreu atropelada e a esposa, devido ao mesmo acidente, está em coma.
Magda toma a estóica decisão de atravessar a
dolorosa fase da quimioterapia sozinha e sem alarde, e é durante esse processo
que se dá a evolução de seu relacionamento com Arturo –que fica viúvo.
Medem, então, mais uma vez faz o que costuma
fazer melhor, cria uma atmosfera dramática, impregnada de elementos
incondicionalmente cinematográficos, através da qual ele basicamente narra uma
trama onde a necessidade emotiva dos personagens termina encontrando seu obstáculo
maior na realidade e no mundo.
Assim foi no imprescindível “Os Amantes do Círculo
Polar”, onde o casal de enamorados passa a vida inteira tentando contornar os
fatores que os separam, no subestimado “Um Quarto Em Roma”, onde a paixão entre
duas mulheres tenta vencer, em vão, a barreira de segurança das quatro paredes,
para se deixar florescer no mundo lá fora.
E assim é aqui, com sua protagonista Magda, uma
personagem tão cheia de vida, interpretada de maneira arrepiante, mas cujas
chances de ver o filho crescer, de fazer duradouro o amor recém-descoberto ao
lado do novo parceiro e, especialmente, de conhecer e ver crescer a criança que
trás em seu ventre, são interrompidas pela perspectiva cruel e implacável de
uma vida curta, tolhida por uma doença inesperada.
Medem trabalha a dicotomia entre realidade,
imaginação e as ocasionais tentativas de conciliar esses fatores às vezes tão
inconciliáveis com uma interminável sucessão de cenas poéticas de tocar o coração,
existe, por isso mesmo, alguma idealização na forma com que ele expõe a rotina
doméstica, mas seu filme nunca deixa de ser comovente.
É, afinal, a grande questão que críticos
debatem em torno do gênero do melodrama desde a aurora do cinema: A sua
capacidade plena (e seu mérito real por conta disso) de revelar-se uma forma
maniqueísta de manipular o expectador, em contraponto às emoções, não raro genuínas,
que ele consegue suscitar.
Aqui, opina-se em seu
favor, uma vez que não há como ficar indiferente ao nó na garganta que ele
deixa ao final do filme.
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