Há um considerável risco do maravilhoso filme
do diretor Yoji Yamada aborrecer aqueles expectadores que estiverem ávidos por
um filme pontuado por lutas de espadas (aqui elas existem, porém, definidas e específicas, cada uma delas conta) e por uma narrativa que enalteça a bravura,
a valentia, à exemplo dos filmes de faroeste.
O diretor faz uma escolha decisiva ao
evidenciar a extraordinária bravura de seu protagonista através das minúcias mundanas de seu drama doméstico: Dedicado à suas duas filhas pequenas e à sua mãe cada
vez mais senil desde que ficou viúvo, o samurai Seibei, por seu compromisso
familiar rígido, recebeu o apelido dos companheiros de trabalho de “Seibei
Entardecer” –quando o sol se põe, ele ruma direto para casa, ao contrário dos
demais, que têm por destino a taverna local.
A presença de uma esposa faz falta na vida de
Seibei (interpretado com primor por Hiroyuki Sanada no papel que o tornou um
astro internacional): Suas roupas, tais como ele próprio, se encontram em
situação de miséria, e as condições dentro de casa, sobretudo quando à limpeza
a alimentação não estão muito melhores sem uma dona da casa que harmonize as
tarefas. Essa atividade, somada ao trabalho junto ao clã, sobrecarrega Seibei.
Parece ser então providencial que a bela Tomoe
(Rie Myiazawa, cativante), irmã de um grande amigo de Seibei, e grande amor
deste na juventude, tenha se separado do marido após um matrimônio infernal e
violento.
É providencial, mas a providência tem, também,
algo de cruel: Pesa em Seibei a possibilidade de condenar Tomoe a uma vida sem
luxos que ele, como humilde samurai, é incapaz de proporcionar.
Yoji Yamada faz uso de sua capacidade primorosa
em ressaltar o drama em suas mais variadas sutilezas para entregar um dos mais
aclamados filmes de samurai das últimas duas décadas (embora eu ainda prefira o
magistral “A Última Espada”, de Yojiro Takita).
Não é para menos: Seu trabalho enfatiza os
percalços humanos sobrepostos ao código milenar de honra samurai e às lutas
inevitáveis de espadas que se seguem –ainda assim, devido à esse suporte
dramático poderoso, tais lutas, quando surgem em cena, ganham em peso,
importância e significado emocional junto ao público.
Brilhante.
É o primeiro filme de uma
consagrada trilogia que Yoji Yamada entregou anos mais tarde, e que sempre
abordava a trama e suas ramificações sentimentais a partir das privações
experimentadas por samurais de segundo escalão, ausentes de glamour –pode ser
chamada de “A Trilogia dos Samurais Pobres”.
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