terça-feira, 14 de março de 2017

A Vida e Morte de Peter Sellers

O diretor Stephen Hopkins (de trabalhos oscilantes em qualidade como “O Predador 2” e “A Sombra e A Escuridão”) foi corajoso ao moldar, neste celebrado filme televisivo, uma estrutura à qual todos os filmes de caráter biográfico deveriam se basear: Um registro absolutamente imparcial em seu humor e seu drama, mostrando todas as facetas questionáveis de caráter que seu biografado porventura poderia ter, e muitas vezes, beneficiando-se delas para incrementar e tornar ainda mais envolvente sua narrativa.
Filmes superestimados como “A Teoria de Tudo” poderiam aprender a ser muito melhores, se sua execução se inspirasse na deste daqui.
Peter Sellers (vivido com preciosismo ímpar por Geoffrey Rush), famoso ator e comediante nascido na Inglaterra foi criado por uma mãe rígida, ainda que com ternura esmagadora, e por seu pacato e submisso pai. Durante a juventude, descobriu um insuspeito gosto pela atuação, valendo-se desse dom para, mais tarde, no final da década de 1950, se tornar radialista e então ator. Logo, ele sinalizou também, em sua inspirada inclinação para o improviso e na rica capacidade para caracterizações de natureza caricata, uma habilidade nata para comédia. Tendo abertas as portas para o estrelato no cinema, Sellers, a medida que adquiria cada vez mais reputação, cacife e privilégios, foi revelando também uma personalidade mimada e egoísta.
O filme enaltece seu talento na mesma proporção que critica (e ridiculariza) seus desvios imaturos de caráter: Em uma seqüência é mostrado que, quando trabalhou numa produção com a estrela Sophia Loren (Sonia Aquino, belíssima), Sellers se apaixonou pela grande atriz italiana e, não apenas acabou deixando Anne (Emily Watson), sua então esposa, como também (quando ficou absolutamente claro que Loren não queria nada com ele) teve um caso com a substituta da atriz.
Ao fim dos anos 1960, sua carreira ganhou fôlego, ao participar de "A Pantera Cor-de-Rosa", comédia estrelada por David Niven e dirigida pelo americano Blake Edwards (o ótimo John Lithgow). O sucesso de seu personagem, o Inspetor Clouseau –no filme inicial, pouco mais que um coadjuvante –o converteu no protagonista dos filmes seguintes da série.
Anos depois, ele descobriu um novo romance ao conhecer a bela atriz sueca Britt Ekland (Charlize Theron), contudo seus ataques de raiva prejudicaram e encerraram também esse casamento. O filme registra impiedosamente a ironia da trajetória profissional e pessoal de Sellers, ao mostrar que ele obtém largo sucesso comercial como grande comediante, ainda que a série “A Pantera Cor-de-Rosa” não lhe fosse satisfatória como artista, enquanto sua vida particular foi ficando cada vez mais em frangalhos.

Entre a narração de uma cena e outra, que abrange estes trechos da vida de Sellers, é curioso notar a intervenção magnífica do ator Geoffrey Rush, a comentar e refletir tal cena, às vezes, até mesmo despindo-se do personagem de Peter Sellers e assumindo (com a mesma veemência) os personagens de outros colegas do elenco, sejam eles homens ou mulheres (!), um recurso que serve para mostrar não só a versatilidade inquestionável de Sellers em suas personificações, mas também para evidenciar a excelência do grande ator que o interpreta.

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