domingo, 30 de abril de 2017

Até O Último Homem

Mel Gibson é conhecido pela maior parte do público como astro das séries “Máquina Mortífera” e “Mad Max”, e por outra parte como uma celebridade polêmica cujos escândalos dos últimos anos chamaram mais atenção para si do que os seus trabalhos.
Mas, há também o Mel Gibson cineasta, que nem tanta gente conhece, até por contar com poucos (mas, excelentes) títulos em seu currículo.
É provavelmente visando um ressurgimento artístico que ele volta para trás das câmeras no drama de guerra “Até O Último Homem”, dez anos depois de seu último trabalho na direção, o sensacional “Apocalypto”.
Trata-se daquele tipo de história tão inacreditável que somente o detalhe de ser “baseada em fatos reais” a faz passível de ser aceita pelo expectador –e, por isso mesmo, ainda mais surpreendente.
O jovem Desmond Doss (Andrew Garfield, excelente) teve uma juventude sofrida, em grande medida graças à severidade do pai (Hugo Weaving, competentíssimo), homem bruto e transtornado pelas experiências na Primeira Guerra Mundial –e aí, já se vê características implícitas de Mel Gibson enquanto realizador, como a paixão por histórias verídicas, antigas e de cunho histórico.
Por conta disso, e aliado às suas fortes convicções religiosas, Doss se torna voluntário para dar sua contribuição na Segunda Guerra Mundial, com a firme decisão de não pegar em armas: Ele não deseja tirar vidas humanas, somente salvá-las.
De início, essa postura inacreditável e aparentemente absurda arruma muitos aborrecimentos para Doss (ele recebe severas recriminações de seu capitão e seu sargento, sofre bullying de seus companheiros, e acaba até mesmo encaminhado à corte marcial por insubordinação) até que, por fim, ele consegue ser enviado como médico à linha de frente.
Uma vez lá, durante uma incursão à Serra Hacksaw –território japonês antecedido por um íngreme e quase intransponível declive –Doss irá protagonizar um feito assombroso: Ignorando as ordens superiores para recuar após um conflito sangrento e caótico, Doss atravessa toda a noite, a madrugada e o dia seguinte enviando paulatinamente, um a um, soldados que encontra, vivos e dilacerados, no campo de batalha.
A cada vida salva, após atribulação e cansaço homéricos, tudo o que Doss roga a Deus é força para “salvar mais um!”, e mais um, e mais um...
Termina salvando uma quantidade expressiva de soldados que seus oficiais já davam como perdidos.
Como nos outros trabalhos dirigidos por ele, também se vê aqui a forte orientação religiosa de Gibson, traduzida numa convicção moral que torna o personagem de Doss um protagonista altivo e indispensável –e, na atuação minuciosa e delicada de Andrew Garfield, um jovem com o qual a platéia tem imensa facilidade em se identificar. Todavia, embora seus tópicos de ética encontrem espaço no filme de maneira fascinante, é nas seqüências de ação que percebemos o quão magnífico Mel Gibson é como diretor: Um cuidado precioso aos detalhes que só faz o filme crescer a cada revisão; uma sinergia e um realismo visceral que imediatamente nos remete à obra-prima “OResgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg; e acima de tudo, uma visão clara de entendimento da jornada sentimental e factual de seu nobre personagem.
Seja muito bem-vindo de volta, diretor Mel Gibson, e que seus próximos trabalhos não demorem tanto a aparecer.

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