Mel Gibson é conhecido pela maior parte do
público como astro das séries “Máquina Mortífera” e “Mad Max”, e por outra
parte como uma celebridade polêmica cujos escândalos dos últimos anos chamaram
mais atenção para si do que os seus trabalhos.
Mas, há também o Mel Gibson cineasta, que nem
tanta gente conhece, até por contar com poucos (mas, excelentes) títulos em seu
currículo.
É provavelmente visando um ressurgimento
artístico que ele volta para trás das câmeras no drama de guerra “Até O Último
Homem”, dez anos depois de seu último trabalho na direção, o sensacional
“Apocalypto”.
Trata-se daquele tipo de história tão
inacreditável que somente o detalhe de ser “baseada em fatos reais” a faz
passível de ser aceita pelo expectador –e, por isso mesmo, ainda mais
surpreendente.
O jovem Desmond Doss (Andrew Garfield,
excelente) teve uma juventude sofrida, em grande medida graças à severidade do
pai (Hugo Weaving, competentíssimo), homem bruto e transtornado pelas
experiências na Primeira Guerra Mundial –e aí, já se vê características
implícitas de Mel Gibson enquanto realizador, como a paixão por histórias
verídicas, antigas e de cunho histórico.
Por conta disso, e aliado às suas fortes
convicções religiosas, Doss se torna voluntário para dar sua contribuição na
Segunda Guerra Mundial, com a firme decisão de não pegar em armas: Ele não deseja
tirar vidas humanas, somente salvá-las.
De início, essa postura inacreditável e
aparentemente absurda arruma muitos aborrecimentos para Doss (ele recebe
severas recriminações de seu capitão e seu sargento, sofre bullying de seus
companheiros, e acaba até mesmo encaminhado à corte marcial por insubordinação)
até que, por fim, ele consegue ser enviado como médico à linha de frente.
Uma vez lá, durante uma incursão à Serra
Hacksaw –território japonês antecedido por um íngreme e quase intransponível
declive –Doss irá protagonizar um feito assombroso: Ignorando as ordens
superiores para recuar após um conflito sangrento e caótico, Doss atravessa
toda a noite, a madrugada e o dia seguinte enviando paulatinamente, um a um,
soldados que encontra, vivos e dilacerados, no campo de batalha.
A cada vida salva, após atribulação e cansaço homéricos,
tudo o que Doss roga a Deus é força para “salvar mais um!”, e mais um, e mais
um...
Termina salvando uma quantidade expressiva de
soldados que seus oficiais já davam como perdidos.
Como nos outros trabalhos dirigidos por ele,
também se vê aqui a forte orientação religiosa de Gibson, traduzida numa
convicção moral que torna o personagem de Doss um protagonista altivo e
indispensável –e, na atuação minuciosa e delicada de Andrew Garfield, um jovem
com o qual a platéia tem imensa facilidade em se identificar. Todavia, embora
seus tópicos de ética encontrem espaço no filme de maneira fascinante, é nas
seqüências de ação que percebemos o quão magnífico Mel Gibson é como diretor: Um
cuidado precioso aos detalhes que só faz o filme crescer a cada revisão; uma
sinergia e um realismo visceral que imediatamente nos remete à obra-prima “OResgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg; e acima de tudo, uma visão clara
de entendimento da jornada sentimental e factual de seu nobre personagem.
Seja muito bem-vindo de
volta, diretor Mel Gibson, e que seus próximos trabalhos não demorem tanto a
aparecer.
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