sexta-feira, 21 de abril de 2017

De Amor e De Sombras

Ainda que longe de ser uma obra satisfatória, a adaptação do romance de Isabel Allende é um divisor de águas na carreira de Antonio Banderas (foi um de seus primeiros trabalhos como protagonista em um filme de língua inglesa ao lado de “Os Reis do Mambo”), para a belíssima Jennifer Connelly (que aqui debutou como produtora) e mesmo para a diretora Betty Kaplan, que ao assumir o projeto ganhou até lisonjeiras comparações com o premiado Billie August (de “Pelle-O Conquistador”), diretor da adaptação anterior de outro livro de Isabel Allende, “A Casa dos Espíritos” –que, também ele, contava com Banderas no elenco.
Entretanto, depois que o filme estreou, o trabalho insuficiente de Kaplan na condução da narrativa e na direção dos atores deixou bem claras as diferentes grandezas a que ambos os filmes e seus realizadores pertenciam.
A trama de “De Amor e De Sombras”, de fato, é bastante literária na maneira com que enfoca a protagonista Irene (uma Jennifer Connelly esmerada e hipnótica de tão linda) e seu cotidiano de classe alta burguesa, dividida entre seu trabalho elitista numa revista de moda e a relação com o noivo, um capitão do exército (Camilo Gallardo), onde passa praticamente alheia aos aspectos nefastos da ditadura vigente no Chile.
É o novo fotógrafo de sua equipe, Francisco (Banderas), de origem espanhola (e vindo, também ele, de um ambiente politicamente opressor) quem lhe abrirá os olhos para sua alienação.
À parte o realismo fantástico que ditava muito da narrativa de “A Casa dos Espíritos”, a trama de “De Amor e De Sombras” prefere se ater ao registro da conversão de sua personagem principal, de burguesa ingênua à militante política, paralelo ao inevitável desabrochar da paixão entre ela e o fotógrafo –uma pena, contudo, que seja justamente nesta faceta (a da conscientização gradativa e da mudança de índole e ideologia) que o filme encontre sua grande fraqueza: A direção de Kaplan, algo negligente e confusa, não administra sutileza nem nas modulações de sua personagem (em vez disso, há uma descabida preocupação com o cabelo de Jennifer Connelly), nem no retrato caricato e estereotipado dos bastidores de uma ditadura.
Um pena: Grande produção, o filme tinha, um elenco interessante e de grandes nomes, também (a italiana Stefania Sandrelli interpreta a mãe de Jennifer), a qualidade do material então nem se fala –o livro de Allende, de repente, até mereceria uma nova versão por esses dias... –o que faltou foi mesmo o essencial: Talento na direção.

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