Ainda que longe de ser uma obra satisfatória, a
adaptação do romance de Isabel Allende é um divisor de águas na carreira de
Antonio Banderas (foi um de seus primeiros trabalhos como protagonista em um
filme de língua inglesa ao lado de “Os Reis do Mambo”), para a belíssima
Jennifer Connelly (que aqui debutou como produtora) e mesmo para a diretora
Betty Kaplan, que ao assumir o projeto ganhou até lisonjeiras comparações com o
premiado Billie August (de “Pelle-O Conquistador”), diretor da adaptação
anterior de outro livro de Isabel Allende, “A Casa dos Espíritos” –que, também
ele, contava com Banderas no elenco.
Entretanto, depois que o filme estreou, o
trabalho insuficiente de Kaplan na condução da narrativa e na direção dos
atores deixou bem claras as diferentes grandezas a que ambos os filmes e seus
realizadores pertenciam.
A trama de “De Amor e De Sombras”, de fato, é
bastante literária na maneira com que enfoca a protagonista Irene (uma Jennifer
Connelly esmerada e hipnótica de tão linda) e seu cotidiano de classe alta
burguesa, dividida entre seu trabalho elitista numa revista de moda e a relação
com o noivo, um capitão do exército (Camilo Gallardo), onde passa praticamente
alheia aos aspectos nefastos da ditadura vigente no Chile.
É o novo fotógrafo de sua equipe, Francisco
(Banderas), de origem espanhola (e vindo, também ele, de um ambiente
politicamente opressor) quem lhe abrirá os olhos para sua alienação.
À parte o realismo fantástico que ditava muito
da narrativa de “A Casa dos Espíritos”, a trama de “De Amor e De Sombras”
prefere se ater ao registro da conversão de sua personagem principal, de
burguesa ingênua à militante política, paralelo ao inevitável desabrochar da
paixão entre ela e o fotógrafo –uma pena, contudo, que seja justamente nesta
faceta (a da conscientização gradativa e da mudança de índole e ideologia) que
o filme encontre sua grande fraqueza: A direção de Kaplan, algo negligente e
confusa, não administra sutileza nem nas modulações de sua personagem (em vez
disso, há uma descabida preocupação com o cabelo de Jennifer Connelly), nem no
retrato caricato e estereotipado dos bastidores de uma ditadura.
Um pena: Grande produção, o
filme tinha, um elenco interessante e de grandes nomes, também (a italiana
Stefania Sandrelli interpreta a mãe de Jennifer), a qualidade do material então
nem se fala –o livro de Allende, de repente, até mereceria uma nova versão por
esses dias... –o que faltou foi mesmo o essencial: Talento na direção.
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