segunda-feira, 24 de abril de 2017

Um Drink No Inferno

Foi provavelmente na amizade com Robert Rodrigues que Quentin Tarantino achou –e identificou-se com –a verve mais popularesca do cinema que vinha realizando (e que, nas obras de então, “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction-Tempo de Violência”, encontrava uma vibração mais autoral e elitista com referências à Antonioni, Fellini e Godard), o que culminou, mais tarde, em obras que flertavam com as produções cultuadas dos anos 1970 e 1980 que ambos tanto amaram quando mais jovens, como “Kill Bill” e o projeto “Grindhouse”.
O primeiro passo nessa direção foi possivelmente este “Um Drink No Inferno” que, embora não seja um exemplar dos mais competentes e hábeis de cinema, é muito mais significativo dos rumos artísticos que Tarantino e Rodrigues tomariam daqui para frente.
O roteiro, a cargo que Quentin Tarantino, acompanha dois irmãos criminosos (Tarantino e George Clooney, então um galã televisivo do seriado “Plantão Médico”) que, nas estradas do Texas até o México, vão provocando um rastro de roubos e assassinatos.
Sua primeira metade parece fazer alusão aos filmes sarcásticos, politicamente incorretos e sangrentos da exploitation dos anos 1970, ao acompanhar psicopatas inescrupulosos num rastro implacável de crimes o que também remete à “Assassinos Por Natureza”, de Oliver Stone, roteirizado (veja só) pelo próprio Tarantino.
A segunda parte, contudo, dá uma guinada brutal, quase se tornando outro filme, ao centrar seus acontecimentos numa taverna de beira de estrada, aonde os dois protagonistas e outros incautos personagens vão parar (um padre, vivido por Harvey Keitel, uma família, entre os quais, uma garota interpretada por Juliette Lewis). O lugar vem a ser um reduto de vampiros –um de suas mais emblemáticas figuras é a stripper vampira Satanico Pandemonium (Salma Hayek, no auge da formosura) –e a espera até o sol nascer será, para todos eles, um verdadeiro pesadelo.
A combinação do roteiro referencial e detalhadamente ácido de Tarantino com a direção efervescente de Rodrigues gerou um filme incomum, vibrante, sangrento e vulgar, tão asqueroso quanto divertido e, apesar de franco candidato a cult-movie, um prato cheio também para os eventuais detratores dos dois cineastas.

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