Foi provavelmente na amizade com Robert
Rodrigues que Quentin Tarantino achou –e identificou-se com –a verve mais
popularesca do cinema que vinha realizando (e que, nas obras de então, “Cães de
Aluguel” e “Pulp Fiction-Tempo de Violência”, encontrava uma vibração mais
autoral e elitista com referências à Antonioni, Fellini e Godard), o que
culminou, mais tarde, em obras que flertavam com as produções cultuadas dos
anos 1970 e 1980 que ambos tanto amaram quando mais jovens, como “Kill Bill” e
o projeto “Grindhouse”.
O primeiro passo nessa direção foi
possivelmente este “Um Drink No Inferno” que, embora não seja um exemplar dos
mais competentes e hábeis de cinema, é muito mais significativo dos rumos
artísticos que Tarantino e Rodrigues tomariam daqui para frente.
O roteiro, a cargo que Quentin Tarantino,
acompanha dois irmãos criminosos (Tarantino e George Clooney, então um galã
televisivo do seriado “Plantão Médico”) que, nas estradas do Texas até o
México, vão provocando um rastro de roubos e assassinatos.
Sua primeira metade parece fazer alusão aos
filmes sarcásticos, politicamente incorretos e sangrentos da exploitation dos
anos 1970, ao acompanhar psicopatas inescrupulosos num rastro implacável de
crimes o que também remete à “Assassinos Por Natureza”, de Oliver Stone,
roteirizado (veja só) pelo próprio Tarantino.
A segunda parte, contudo, dá uma guinada
brutal, quase se tornando outro filme, ao centrar seus acontecimentos numa
taverna de beira de estrada, aonde os dois protagonistas e outros incautos
personagens vão parar (um padre, vivido por Harvey Keitel, uma família, entre
os quais, uma garota interpretada por Juliette Lewis). O lugar vem a ser um
reduto de vampiros –um de suas mais emblemáticas figuras é a stripper vampira
Satanico Pandemonium (Salma Hayek, no auge da formosura) –e a espera até o sol
nascer será, para todos eles, um verdadeiro pesadelo.
A combinação do roteiro
referencial e detalhadamente ácido de Tarantino com a direção efervescente de
Rodrigues gerou um filme incomum, vibrante, sangrento e vulgar, tão
asqueroso quanto divertido e, apesar de franco candidato a cult-movie, um prato
cheio também para os eventuais detratores dos dois cineastas.
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