segunda-feira, 26 de junho de 2017

Cavalo de Guerra

Steven Spielberg sempre nutriu uma grande paixão pelo cinema da Velha Hollywood –visível nas referências que povoam a maioria de seus filmes –daí não ser exatamente uma surpresa o fato dele dirigir, com tanto zelo e cuidado, uma produção que representa, essencialmente, uma emocionante homenagem àquele tipo de cinema executado antigamente.
Como nos filmes antigos, “Cavalo de Guerra” é feito de rara sutileza e sensibilidade, enaltecendo valores que parecem antiquados nos blockbusters cínicos de hoje, mas que soam (e sempre haverão de soar) de salutar significado –aliás, outra característica quase onipresente nas demais obras de Spielberg.
“Cavalo de Guerra” começa e termina em duas emblemáticas cenas de leilão –é como se o diretor quisesse reafirmar o ímpeto competitivo que contamina o homem, e que, em última instância, conduz à guerra.
Em ambos os leilões (encenados com genialidade), estará a figura almejada do potro que, no início, é arrematado pelo humilde fazendeiro Ted (o extraordinário Peter Mullan). Seu filho, Albie (o expressivamente adequado Jeremy Irvine), um jovem fazendeiro inglês no início do século XX criará um elo de carinho e amizade com esse potro chamado Joey –o protagonista de fato do filme de Spielberg, que ganha personalidade graças a um trabalho primoroso de cenas.
Quando eclode a Primeira Guerra Mundial, entretanto, ambos, o garoto e seu cavalo são separados quando Joey é enviado para frente de batalha como montaria.
Ele inicialmente serve a um capitão benevolente do exército inglês (Tom Hiddleston, em ótima participação), que termina morto por alemães; em seguida, passando de dono em dono, o potro vive aventuras conduzido por um jovem desertor alemão (David Kross, de “O Leitor”) e, mais tarde, sob os cuidados de um fazendeiro francês (Niels Arestrup, magnífico) e sua netinha.
Eventualmente, Joey perde-se em meio ao conflito, enquanto Albie ingressa como combatente pela Inglaterra, para poder procurá-lo nas trincheiras.
Habilidoso como poucos, Spielberg pinça seu dramático épico sobre amizade ambientado na Primeira Guerra Mundial com tintas clássicas visando essa homenagem aos filmes que tanto o fascinaram em sua juventude –o trabalho de cor que ele obtém com o registro das câmeras  é um deslumbre encantador, mas provavelmente seu grande mérito, neste filme é o trabalho minucioso, admirável, feito com muito carinho, dedicado aos animais; tão expressivos quanto os seres humanos, sem que seja necessário lançar mão de artifícios como dar-lhes uma voz humana, ou renegar o realismo do filme.
Pela própria proposta para com a inocência resgatada de produções de outrora (e por isso mesmo, propositadamente datado), não se compara aos melhores trabalhos de Spielberg, mas é uma obra de visual belíssimo, repleta de momentos emocionantes e edificantes.

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