O diretor espanhol Pedro Almodóvar escreve
personagens femininas com despudor e exuberância. Dentre os inúmeros títulos de
sua filmografia, “Mulheres À Beira de Um Ataque de Nervos”, embora não seja o
seu melhor trabalho (ainda que tenha sido assim considerado durante algum
tempo) é o primeiro onde tais características se provaram certas e evidentes.
Poucos cineastas são capazes que construir uma
personagem tão convicta de suas próprias aflições como Pepa (Carmem Maura), tão
caprichosamente inserida na farsa de ciúme, desilusão e confusão que é a sua
vida nas perplexas horas em que o filme se presta a acompanhá-la, e tão cercada
de coadjuvantes igualmente bem ordenados e orquestrados, no objetivo de darem
vida a uma mescla ardente, sanguínea e passional de comédia e tragédia. Pois,
para Pepa é angustiante cada minuto que passa sem saber de Ivan (Fernando Guillén),
o homem que jurou comprometer-se com ela, mas que, ao invés de assumi-la,
resolveu partir, naquela mesma noite, para Estocolmo com uma outra amante. A
angústia se justifica: Este é não só o dia de sua partida, como também o dia em
que Pepa descobriu estar grávida!
Para piorar ainda mais o estado de nervos de
Pepa, outras confusões se somam: Em seu apartamento aparece Candela (María
Barranco), uma amiga apaixonada por um desconhecido e estarrecida com a
descoberta de que ele é um terrorista xiita (!), assim como Carlos (Antonio Banderas),
o filho de Ivan, acompanhado de sua noiva, Marisa (a exótica Rossy de Palma),
em busca de um imóvel para alugar.
Entre farsas qüiproquós, histerismo e
tentativas de manter a pose, Pepa descobre que a esposa de Ivan, Lucia (Julieta
Serrano) planeja encontrá-lo no aeroporto, tal como a própria Pepa, entretanto
com intenções diferentes: Matá-lo junto da outra amante!
A hábil direção de Almodóvar
(num projeto mais acessível em comparação à suas obras anteriores, plenamente
capaz de lançar luz sobre suas qualidades) equilibra um sem fim de situações de
ordem cômica sem perder o ritmo ou o tom neste trabalho bastante admirável,
grande responsável, no fim dos anos 1980, pelo início da fama cada vez maior
que o realizador espanhol obteve mundo afora.
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