quinta-feira, 1 de junho de 2017

Cidade das Sombras

É curioso comparar o trailer deste filme de ficção científica de Alex Proyas lançado nos anos 1990 e o trailer de “Matrix”, lançado poucos anos depois: As cenas que se sucedem são idênticas!
Isso e mais o fato de que muitos nomes da equipe técnica vieram a se repetir nos dois filmes são indicativos do quanto o cultuado trabalho dos Irmãos Wachowsky (hoje, irmãs...) bebeu da fonte deste filme obscuro, atualmente bastante desconhecido, mas com freqüência, dono de uma inesperada genialidade.
O diretor Alex Proyas ainda estava na ressaca da agridoce repercussão de “O Corvo” –que, embora tenha se tornado um cult nos anos 1990, gerou uma curiosidade mórbida em torno da trágica morte do astro Brandon Lee durante as filmagens –quando abraçou este projeto desigual, com muitos elementos temáticos em comum com as obra dos Wachowsky (ambientação sombria, manipulação da realidade, alienação humana, superpoderes), porém um tanto menos comercial, com um roteiro algo desafiador.
O estilo evidente e inconfundível do diretor Proyas (no qual os Wachowsky muito se basearam) se percebe logo nas primeiras cenas que apresentam um travelling noturno de câmera exatamente igual ao que ocorria em “O Corvo”.
Desta vez, ao invés do apartamento onde vive o personagem de Brandon Lee, as câmeras de Proyas nos levam para dentro de um quarto de hotel carregado de elementos retro que remetem a época dos film noir. Lá dentro, numa banheira, está John Murdoch (Rufus Sewell, cuja falta de carisma é um dos poucos equívocos do filme). Ele desperta aflito e perplexo sem conseguir lembrar de nada. Pior: Há pessoas muito estranhas em seu encalço (seres albinos que vestem uniformes negros e ostentam uma natureza fantasmagórica!).
Procurado por esses estranhos e pela polícia (sobretudo, um detetive interpretado por William Hurt) em razão de uma série de crimes atribuídos a ele (e que ele crê piamente que não cometeu), John precisa decifrar uma série de inusitados mistérios (Por que ninguém lembra de ter visto o nascer do sol? De onde vêem a misteriosa capacidade que ele desenvolve de mover objetos com a mente? E por que ocorrem determinados momentos em que todos naquela metrópole desconhecida desmaiam, exceto John?), e no processo salvar a vida daquela que acredita ser a sua esposa, Emma (Jennifer Connelly, como sempre absurdamente linda!).
As respostas podem estar com um médico cheio de intrigantes cacoetes vivido com bastante minúcia por Kiefer Sutherland, que parece trabalhar a serviço dos homens misteriosos.
O desenlace desse novelo aparentemente indecifrável (mas, no fim até que plausível) é bastante surpreendente e, embora flerte abertamente com o absurdo, o roteiro calibrado com equilíbrio por David S. Goyer (um especialista em plots rocambolescos e mirabolantes) e a direção convicta de Alex Proyas não deixam que a mistura desande, por mais exótica que pareça sua receita: A paixão do diretor pelos elementos visuais de “Metrópolis” (já evidente em “O Corvo”) se mescla aqui com um futurismo retro com nítida influência de histórias em quadrinhos alternativas.
Mais cul-movie que isso, impossível!

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