É curioso comparar o trailer deste filme de
ficção científica de Alex Proyas lançado nos anos 1990 e o trailer de “Matrix”,
lançado poucos anos depois: As cenas que se sucedem são idênticas!
Isso e mais o fato de que muitos nomes da
equipe técnica vieram a se repetir nos dois filmes são indicativos do quanto o
cultuado trabalho dos Irmãos Wachowsky (hoje, irmãs...) bebeu da fonte deste
filme obscuro, atualmente bastante desconhecido, mas com freqüência, dono de
uma inesperada genialidade.
O diretor Alex Proyas ainda estava na ressaca
da agridoce repercussão de “O Corvo” –que, embora tenha se tornado um cult nos
anos 1990, gerou uma curiosidade mórbida em torno da trágica morte do astro
Brandon Lee durante as filmagens –quando abraçou este projeto desigual, com
muitos elementos temáticos em comum com as obra dos Wachowsky (ambientação
sombria, manipulação da realidade, alienação humana, superpoderes), porém um
tanto menos comercial, com um roteiro algo desafiador.
O estilo evidente e inconfundível do diretor
Proyas (no qual os Wachowsky muito se basearam) se percebe logo nas primeiras
cenas que apresentam um travelling noturno de câmera exatamente igual ao que
ocorria em “O Corvo”.
Desta vez, ao invés do apartamento onde vive o
personagem de Brandon Lee, as câmeras de Proyas nos levam para dentro de um
quarto de hotel carregado de elementos retro que remetem a época dos film noir.
Lá dentro, numa banheira, está John Murdoch (Rufus Sewell, cuja falta de
carisma é um dos poucos equívocos do filme). Ele desperta aflito e perplexo sem
conseguir lembrar de nada. Pior: Há pessoas muito estranhas em seu encalço
(seres albinos que vestem uniformes negros e ostentam uma natureza
fantasmagórica!).
Procurado por esses estranhos e pela polícia
(sobretudo, um detetive interpretado por William Hurt) em razão de uma série de
crimes atribuídos a ele (e que ele crê piamente que não cometeu), John precisa
decifrar uma série de inusitados mistérios (Por que ninguém lembra de ter visto
o nascer do sol? De onde vêem a misteriosa capacidade que ele desenvolve de
mover objetos com a mente? E por que ocorrem determinados momentos em que todos
naquela metrópole desconhecida desmaiam, exceto John?), e no processo salvar a
vida daquela que acredita ser a sua esposa, Emma (Jennifer Connelly, como
sempre absurdamente linda!).
As respostas podem estar com um médico cheio de
intrigantes cacoetes vivido com bastante minúcia por Kiefer Sutherland, que
parece trabalhar a serviço dos homens misteriosos.
O desenlace desse novelo aparentemente
indecifrável (mas, no fim até que plausível) é bastante surpreendente e, embora
flerte abertamente com o absurdo, o roteiro calibrado com equilíbrio por David
S. Goyer (um especialista em plots rocambolescos e mirabolantes) e a direção
convicta de Alex Proyas não deixam que a mistura desande, por mais exótica que
pareça sua receita: A paixão do diretor pelos elementos visuais de “Metrópolis”
(já evidente em “O Corvo”) se mescla aqui com um futurismo retro com nítida
influência de histórias em quadrinhos alternativas.
Mais cul-movie que isso,
impossível!
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