sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Tusk - A Transformação

Às vezes é difícil levar a sério o cinema realizado por Kevin Smith. Se, por um lado, ele tem no currículo uma obra austera, plausível e bem escrita como “Procura-Se Amy”, por outro, seu gosto pelo besteirol costuma manchar seus trabalhos, fazendo filmes que poderiam ser interessantes, como “O Balconista 2” ou “Dogma” soar como grandes brincadeiras imaturas.
“Tusk-A Transformação” não ajuda muito a mudar essa percepção.
A própria gênese do projeto é, em si, um absurdo: Em seu habitual programa radiofônico onde discute cultura pop, o próprio Kevin Smith, numa conversa casual (cujo áudio é repetido nos créditos finais deste filme) imaginou uma premissa insana onde um homem é transformado numa morsa (!), e lançou o desafio: Se o podcast em questão recebesse um determinado número de curtidas na Internet, ele transformaria aquele arremedo de trama num filme.
Desafio cumprido, eis que temos então um novo filme de Kevin Smith!
O protagonista, Wallace (o normalmente simpático Justin Long, do já clássico “Olhos Famintos”) é um apresentador de podcasts –talvez, espelhando o próprio Kevin Smith, talvez, em função de seu autor ter preguiça em inventar outra coisa! –aqueles programas da Internet cujos apresentadores se beneficiam de vídeos que registram as maiores e mais estranhas presepadas.
Como um charlatão em busca do próximo golpe –e dessa maneira retratado –ele vai ao Canadá à procura do que parece ser uma entrevista, deixando para trás a namorada Alisson (a bela Gênesis Rodrigues) que o trai com seu melhor amigo Teddy (Haley Joel Osment, o garotinho, agora crescido, de “O Sexto Sentido”) –a menção se justifica, pois estes serão personagens bastante importantes mais tarde...
Enfim, quando a entrevista não se concretiza, Wallace acaba virando hóspede de um velho senhor (Michael Parks, um grande e despojado ator) com uma estranha história pela qual, em princípio, parece interessado: Quando jovem, soldado, ele se viu náufrago em uma ilha, na companhia de uma morsa a quem deu o nome de Mr. Tusk. Segundo ele, o único verdadeiro amigo que conheceu.
Agora, na esperança de reviver o elo que tinha com Mr. Tusk, ele droga Wallace e o torna prisioneiro de sua reclusa mansão na intenção de transformá-lo numa morsa (!), começando por amputar-lhe uma das pernas (!!), implantar presas imensas em seu maxilar (!!!), confeccionadas a partir do osso do próprio fêmur extraído, e assim por diante...
Kevin Smtih vai narrando seu filme assim, de bizarrice em bizarrice, em registro ora de filme de terror, ora de humor extremamente negro.
Quando a falta de notícias de Wallace chega a um ponto preocupante, Alisson e Teddy recorrente a um detetive particular, o estranhíssimo Guy LaPointe (que o cast não revela, mas vem a ser interpretado por Johnny Depp!).
Com base nesse argumento desigual, para dizer o mínimo, Kevin Smith cria um filme que anda no equilíbrio tênue entre o absurdo adolescente de algumas obras anteriores, e um show de horrores amparado em influências cinéfilas muito particulares, sendo certamente as mais identificáveis, o clássico cult "Monstros" de Todd Browning, e o repulsivo e controverso "Centopéia Humana" –com a qual guarda suas maiores semelhanças, embora Smith jamais se atreva a tentar igualar seu teor terrivelmente perturbador.
“Tusk” acaba sendo o primeiro filme de uma trilogia, ainda não concluída, sobre filmes de humor negro –e inclinados para tramas inusitados de terror ou suspense –ambientados no Canadá; e possivelmente, todos eles contarão com a presença do esquisito Guy LaPointe! As duas jovens protagonistas do segundo filme, “Yoga Hosers”, inclusive, marcam uma breve participação aqui: São as duas adolescentes que atendem Wallace numa loja de conveniência, interpretadas por Lily-Rose Depp (filha de Johnny Depp) e Harley Quinn Smith (filha do próprio Kevin Smith).

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