sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Planeta dos Macacos - A Guerra

A trilogia que conta a espetacular e épica saga de César –um personagem que em si resume o propósito e as razões da existência da sociedade dos macacos –chega ao fim neste filme, mais uma vez dirigido por Matt Reeves, que fez um bom trabalho em “Planeta dos Macacos-O Confronto”, embora não tão primoroso quando Rupert Wyatt em “Planeta dos Macacos-A Origem”.
Entretanto, parece que entre um filme e outro, Matt Reeves viu, reviu e avaliou cada um de seus deslizes e suas fraquezas a fim de saná-las para este final de trilogia: A sua evolução como cineasta neste trabalho é algo espantoso. Ele concebeu certamente o melhor filme dessa nova trilogia “Planeta dos Macacos”, plenamente digno de ser enxergado, nas décadas vindouras, como uma obra tão clássica quanto a original estrelada por Charlton Heston.
Contam exatamente quinze anos desde que os macacos, liderados por César se emanciparam do jugo dos homens, em “Planeta dos Macacos-A Origem” (ao mesmo tempo em que foi disseminado um vírus que quase varreu a raça humana), e cinco anos desde que as ações de Koba levaram à inevitabilidade de uma guerra entre humanos e símios, em “Planeta dos Macacos-O Confronto”.
Na qualidade de líder de seu povo, César deseja paz. Contudo, não é o que líder dos humanos –intitulado por eles como O Coronel –quer: Soldados fazem incursões constantes nas matas a fim de aniquilar os macacos, mesmo quando sofrem derrotas terríveis –e a primeira cena de batalha já deixa bem claro a nítida evolução intelectual e estratégica experimentada pelos símios, assim como a genialidade espantosa dos efeitos visuais que recriam os macacos em cena de maneira irretocável, e a técnica espetacular e renovadora com a qual o diretor Reeves consegue reger o filme.
Como num filme de guerra autêntico e genuíno, o diretor expõe as circunstâncias menos nítidas –macacos auxiliando os humanos e vice-versa, assim como desentendimentos de ideologia em ambas as facções –para emoldurar um filme poderoso amparado em grandiosas cenas. Embora tenha morrido no filme anterior, por exemplo, o personagem Koba continua sendo poderosamente ressonante na trama deste daqui; sua constante comparação com César e sua trágica trajetória, é um dos elementos de grande força dramática do roteiro, após um acontecimento, ainda na primeira parte, que talvez seja melhor não ser mencionado.
Único humano que ganha alguma importância na narrativa –pois aqui, os humanos são inexpressivos e irrelevantes –Woody Harrelson vive o Coronel que, em sua vilania plena, ganha ocasionais momentos de referência ao Coronel Kurtz de “Apocalypse Now”, assim como uma megalomaníaca analogia ao Deus Bíblico; tudo isso, na intenção de evidenciar a propensão perene que o ser humano tem para acarretar a destruição de si mesmo e dos demais à sua volta.
Os sucessivos blocos que compõem este grande filme oferecem ampla chance para que Reevez faça extraordinárias referências cinematográficas: As mais notáveis dizem respeito aos filmes sobre campos de concentração em geral, e “Fugindo do Inferno” em particular; mas há também espaço para “Doutor Jivago” (na cena em que César e seus companheiros encontram um casarão embranquecido com tanta neve onde acham outro macaco inteligente) e “Os Dez Mandamentos” (numa das últimas cenas, quando César e seus seguidores realizam o grande êxodo que a tempos planejavam). Mas a referência-mor para o filme é –e não poderia deixar de ser, o “Planeta dos Macacos” clássico –e ela surge numa sucessão de momentos (quando César e seus companheiros são vistos cavalgando na beira de uma praia, numa cena inconfundível do original), em pequenos detalhes (o filhote sobrevivente de César chama-se Cornelius) e em diálogos dos personagens (quando o próprio personagem de Harrelson admite que os humanos estão perdendo a capacidade de falar e, se ele próprio não fizer algo, este será um “planeta dos macacos”), até por fim envolver todo o filme (o desfecho, quando César consegue levar todos os seus até um lugar onde poderão viver, e que se parece demais com o mesmo cenário da comunidade de macacos vista no filme original).
A trilogia prólogo de “Planeta dos Macacos” chega ao fim com um filme digno, poderoso e emocionante, honrando plenamente o legado de seu clássico graças a dois talentos monumentais: O esplêndido ator-virtual Andy Serkis que faz de César um dos grandes personagens do cinema moderno (quando é que vão resolver dar um Oscar a ele?!) e, desta vez, o diretor Matt Reeves entregando aqui seu melhor filme, uma acachapante e magnífica alegoria sobre as inclinações que nos separam uns dos outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário