A trilogia que conta a espetacular e épica saga
de César –um personagem que em si resume o propósito e as razões da existência
da sociedade dos macacos –chega ao fim neste filme, mais uma vez dirigido por
Matt Reeves, que fez um bom trabalho em “Planeta dos Macacos-O Confronto”,
embora não tão primoroso quando Rupert Wyatt em “Planeta dos Macacos-A Origem”.
Entretanto, parece que entre um filme e outro,
Matt Reeves viu, reviu e avaliou cada um de seus deslizes e suas fraquezas a
fim de saná-las para este final de trilogia: A sua evolução como cineasta neste
trabalho é algo espantoso. Ele concebeu certamente o melhor filme dessa nova
trilogia “Planeta dos Macacos”, plenamente digno de ser enxergado, nas décadas
vindouras, como uma obra tão clássica quanto a original estrelada por Charlton
Heston.
Contam exatamente quinze anos desde que os
macacos, liderados por César se emanciparam do jugo dos homens, em “Planeta dos
Macacos-A Origem” (ao mesmo tempo em que foi disseminado um vírus que quase
varreu a raça humana), e cinco anos desde que as ações de Koba levaram à
inevitabilidade de uma guerra entre humanos e símios, em “Planeta dos Macacos-O
Confronto”.
Na qualidade de líder de seu povo, César deseja
paz. Contudo, não é o que líder dos humanos –intitulado por eles como O Coronel
–quer: Soldados fazem incursões constantes nas matas a fim de aniquilar os
macacos, mesmo quando sofrem derrotas terríveis –e a primeira cena de batalha já
deixa bem claro a nítida evolução intelectual e estratégica experimentada pelos
símios, assim como a genialidade espantosa dos efeitos visuais que recriam os
macacos em cena de maneira irretocável, e a técnica espetacular e renovadora
com a qual o diretor Reeves consegue reger o filme.
Como num filme de guerra autêntico e genuíno, o
diretor expõe as circunstâncias menos nítidas –macacos auxiliando os humanos e
vice-versa, assim como desentendimentos de ideologia em ambas as facções –para emoldurar
um filme poderoso amparado em grandiosas cenas. Embora tenha morrido no filme
anterior, por exemplo, o personagem Koba continua sendo poderosamente
ressonante na trama deste daqui; sua constante comparação com César e sua trágica
trajetória, é um dos elementos de grande força dramática do roteiro, após um
acontecimento, ainda na primeira parte, que talvez seja melhor não ser
mencionado.
Único humano que ganha alguma importância na
narrativa –pois aqui, os humanos são inexpressivos e irrelevantes –Woody Harrelson
vive o Coronel que, em sua vilania plena, ganha ocasionais momentos de referência
ao Coronel Kurtz de “Apocalypse Now”, assim como uma megalomaníaca analogia ao
Deus Bíblico; tudo isso, na intenção de evidenciar a propensão perene que o ser
humano tem para acarretar a destruição de si mesmo e dos demais à sua volta.
Os sucessivos blocos que compõem este grande
filme oferecem ampla chance para que Reevez faça extraordinárias referências
cinematográficas: As mais notáveis dizem respeito aos filmes sobre campos de
concentração em geral, e “Fugindo do Inferno” em particular; mas há também
espaço para “Doutor Jivago” (na cena em que César e seus companheiros encontram
um casarão embranquecido com tanta neve onde acham outro macaco inteligente) e “Os
Dez Mandamentos” (numa das últimas cenas, quando César e seus seguidores
realizam o grande êxodo que a tempos planejavam). Mas a referência-mor para o
filme é –e não poderia deixar de ser, o “Planeta dos Macacos” clássico –e ela
surge numa sucessão de momentos (quando César e seus companheiros são vistos
cavalgando na beira de uma praia, numa cena inconfundível do original), em
pequenos detalhes (o filhote sobrevivente de César chama-se Cornelius) e em diálogos
dos personagens (quando o próprio personagem de Harrelson admite que os humanos
estão perdendo a capacidade de falar e, se ele próprio não fizer algo, este será
um “planeta dos macacos”), até por fim envolver todo o filme (o desfecho,
quando César consegue levar todos os seus até um lugar onde poderão viver, e
que se parece demais com o mesmo cenário da comunidade de macacos vista no
filme original).
A trilogia prólogo de “Planeta
dos Macacos” chega ao fim com um filme digno, poderoso e emocionante, honrando
plenamente o legado de seu clássico graças a dois talentos monumentais: O esplêndido
ator-virtual Andy Serkis que faz de César um dos grandes personagens do cinema
moderno (quando é que vão resolver dar um Oscar a ele?!) e, desta vez, o
diretor Matt Reeves entregando aqui seu melhor filme, uma acachapante e magnífica
alegoria sobre as inclinações que nos separam uns dos outros.
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