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domingo, 20 de novembro de 2022

Algumas Previsões Para o Oscar 2023


 Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Louvado por muitos como o melhor filme de 2022, o trabalho dos diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert é uma obra surpreendente que ousa, inclusive, ao tratar do tema de multiverso no mesmo ano em que a toda-poderosa Marvel Studios discorreu sobre o mesmo assunto no blockbuster “Doutor Estranho No Multiverso da Loucura”.

Todavia, o filme de Kwan e Scheinert vai além: Ele aborda reflexões existenciais numa roupagem que combina drama, humor e ação numa mesma proporção sem acomodar-se em genêro nenhum.

Um choque de ineditismo que lembra o feito das Irmãs Wachowsky em 2000 com o cult-movieMatrix”. Naquela época, entretanto, a Academia de Artes Cinematográficas não estava pronta para tamanha inovação (e ainda assim, “Matrix” saiu-se com quatro prêmios técnicos), e agora, estariam os votantes prontos para finalmente premiar a grande surpresa do ano?


Elvis

A música não deixa Baz Luhrman; Baz Luhrman não deixa a música. Após duas décadas de seu aclamado “Moulin Rouge”, o diretor australiano retorna –de certa maneira –ao gênero que lhe foi tão caro, desta vez, contando uma história que a tempos o cinema andava devendo: Uma biografia digna e emocionante de ninguém mais, ninguém menos, do que Elvis Presley, o Rei do Rock.

De quebra, “Elvis” ainda revela o talento hiperlativo do jovem Austin Butler que entrega um trabalho primoroso  ao cantar, dançar e atuar como Elvis, tirando de letra um desempenho que representaria um desafio para qualquer um.


The Fabelmans

Naquele que parece ser sua obra mais pessoal, o gigante Steven Spielberg volta suas lentes para uma trama auto-biográfica que gira em torno de sua própria família.

Realizado num esquema independente –tática que Spielberg, habituado à superproduções, não adotava havia décadas –“The Fabelmans” estreou no Festival de Toronto, berço de algumas das mais aclamadas obras independentes da temporada, e vem conquistando larga aprovação da crítica, além de uma quase garantida oportunidade no Oscar, caminho que, é bem verdade, quase todas as realizações de Spielberg acabam trilhando.

Os mais entusiasmados dão como certa a indicação de Melhor Atriz para Michelle Williams.


Babylon

Todos os três trabalhos anteriores do diretor Damien Chazelle –“Whiplash-Em Busca da Perfeição”, “La La Land-CantandoEstações” e “O Primeiro Homem” –tiveram belas campanhas no Oscar. Sua quarta realização promete manter essa constante; também pudera: Com um elenco estelar –que inclui Margot Robbie, Brad Pitt e Tobey Maguire –“Babylon” aborda o deslumbramento e os escândalos que cercaram os astros da fase áurea do cinema na década de 1920.


The Whale

O diretor Daren Aronofsky adora pegar grandes intérpretes e arremessá-los para fora de suas zonas de conforto: Foi assim com Mickey Rourke em “O Lutador”, com Natalie Portman em “Cisne Negro” e com Jennifer Lawrence em “Mãe!”.

Não obstante a eventual incompreensão de parte da crítica, ele obtém certa aclamação com isso, e as coisas parecem seguir um rumo bastante parecido com o novo “The Whale”.

Trazendo de volta à ribalta o desaparecido Brendan Fraser –que, muitos garantem, estar entregando a atuação de sua vida! –Aronofsky criou um drama sobre o processo árduo de rejeição, recuperação e aceitação centrado num personagem obeso, homossexual e depressivo, tendo recebidos aplausos de pé em sua estréia no Festival de Veneza.


Top Gun-Maverick

Uma grata surpresa para muitos e uma produção saudada como a grande prova de que financeiramente o cinema havia enfim superado o hiato de público ocasionado pela pandemia, a continuação do cultuado clássico oitentista “Top Gun” ostentou tamanha qualidade técnica e artistica quando aportou nas salas de cinemas que logo foram cogitadas as possibilidades dele concorrer ao Oscar.

As chances maiores repousam nas categorias técnicas é claro –as sequências de combate aéreo são particularmente um show de fotografia, montagem e efeitos visuais –embora existam aqueles que apostem numa colher de chá nas categorias mais artísticas –o roteiro segue uma fórmula razoável para a continuação que se propõe, mas é assinado por Christopher McGuarie, que ganhou o Oscar de Roteiro Original por “Os Suspeitos” –além da forte possibilidade de repetir, tal e qual o anterior em 1987, a vitória na categoria de Melhor Canção Original –desta vez com “Hold My Hand”, composta e interpretada por Lady Gaga.


The Batman

Outro que certamente marcará presença nas categorias técnicas –minha aposta vai especialmente para Melhor Maquiagem e Cabelo graças à assombrosa transformação de Colin Farrell no mafioso Pinguim –o filme dirigido por Matt Reeves revelou-se de tal forma surpreendente (afinal, alguns ainda tinham lá suas ressalvas com o fato do ótimo Robert Pattinson interpretar Bruce Wayne/Batman) que não apenas foi recebido como o melhor filme do Batman realizado até hoje (superando até as aplaudidas produções de Christopher Nolan) e Pattinson agraciado como o melhor dentre todos os intérpretes do herói, como seus fãs praticamente exigem um mínino de reconhecimento no Oscar.


Até Os Ossos

A última vez em que o diretor Luca Guadagnino e o jovem astro Timothée Chalamet se juntaram foi no elogiadíssimo romance homossexual “Me Chame Pelo Seu Nome”.

Agora, eles adicionam à mistura novos nomes consagrados, como Mark Rylance e Chloe Sevigny, e uma inusitada pitada de canibalismo e o resultado é o desconcertante “Até Os Ossos” que promete seguir um caminho de aclamação muito parecido.


Glass Onion-Um Mistério de Entre Facas e Segredos

Quando foi anunciada a sequência da pérola de suspense “Entre Facas e Segredos”, a Netflix não perdeu tempo: Tratou de pagar um valor estratosférico para o astro Daniel Graig voltar ao personagem do detetive Benoit Blanc, negociou a exclusividade da produção com o diretor Rian Johnson (de “Star Wars-Os Últimos Jedi”) e certificou-se de trazer um elenco tão arrojado, numeroso e célebre quanto o notável filme anterior (entre outros estão Kate Hudson, Ethan Hawke, Edward Norton, Dave Bautista e Kathryn Hahn).

Assim que foi lançado na plataforma, “Glass Onion” arrebatou público e crítica revelando-se espantosamente superior ao filme original, qualidades que, garantem os apreciadores, não haverão de passar despercebidas aos membros da Academia.


Avatar-O Caminho da Água

Por fim, é impossível não mencionar um dos mais aguardados filmes do ano –senão O mais aguardado: Lá se vão treze anos desde que o diretor James Cameron tomou o mundo de assalto com a revolucionária tecnologia 3D e com a criação assombrosa do planeta Pandora em “Avatar”.

O tempo decorrido só fez aumentar a expectativa dos fãs em torno da continuação (que é prometida como a primeira de outras três!) e fomentou a promessa de que o efeito 3D, desta vez, seria ainda mais arrebatador aos sentidos do público.

“Avatar-O Caminho da Água” ainda não estreou (teve, quando muito, alguns trailers exibidos nos cinemas), mas os expectadores não têm dúvidas de que ocupará um lugar de destaque na próxima cerimônia do Oscar (e em outros prêmios também), até porque, entre outros talentos, Cameron é brilhante na construção de continuações: O seu “Exterminador do Futuro 2” é, e provavelmente sempre será, imbatível do quesito de continuação tão válida e pertinente quanto o original; e ele também assinou “Aliens-O Resgate”, a única sequência verdadeiramente dotada de tanto brilho e originalidade quanto o primeiro “Alien”.

quarta-feira, 2 de março de 2022

The Batman


 O milagre operado pelo diretor Matt Reeves neste novo e empolgante filme estrelado pelo Cavaleiro das Trevas tem uma explicação bastante simples: Diretor sensato e competente, Reeves pegou todas as predisposições cinematográficas que deram certo nas obras anteriores com o Batman –a ambientação singular e sedutora de Tim Burton; o viés brutal e realista de Christopher Nolan; a percepção de quadrinhos adultos evocada por Zack Snyder –e delas extraiu uma mescla tão aprimorada, tão sagaz em sua realização que, embora seja esta a décima produção a contar com o personagem no cinema (outras ainda estão a sair com outros atores interpretando-o), o trabalho do diretor consegue fazê-lo parecer algo absolutamente novo.

Muitos são os filmes que orientam “The Batman”, sejam eles na construção de seus personagens (algo que ele faz com brilho singular), sejam na concepção e condução da própria história –que aqui, diferente das realizações anteriores prima menos pela ação (embora ela exista em profusão inteligente e bem calibrada) e mais por nuances de ordem investigativa. Com efeito, Reeves vai de encontro a anseios que somente fãs aficcionados do herói dos quadrinhos almejavam do personagem, o seu lado detetive.

“The Batman” deixa de lado toda e qualquer necessidade de refazer a origem do protagonista (relatada pelo menos umas três vezes, nos filmes anteriores) para encontrá-lo exatamente no ponto em que contam já dois anos de sua intensa atividade como vigilante noturno nas noites violentas de Gothan City. Nesse papel, Robert Pattinson entrega um Batman imponente, elegante e dotado de inesperada empatia, unindo o senso interpretativo de Michael Keaton, o fulgor sombrio de Christian Bale e a ferocidade senciente de Ben Affleck. Batman ainda é uma figura estranha e recente nas ruas apinhadas de criminalidade de Gothan, entretanto, já conquistou ao menos um bom aliado nas trincheiras da guerra contra o crime, o Capitão James Gordon (Jeffrey Wright). Ao ser chamado por ele para a avaliação de uma cena de crime –o assassinato audacioso e chocante do próprio prefeito de Gothan em pessoa –Batman se defronta com pistas que o levam a um inimigo meticuloso, perigoso e astuto, o Charada (cuja grande interpretação de Paul Dano mescla elementos do assassino real do “Zodíaco” à características do psicopata de “Seven-Os Sete Crimes Capitais”).

Na tentativa de decifrar o emaranhado de pistas deixadas pelo Charada –cuja elucidação, essencial à espinha dorsal da narrativa, adorna o filme com uma atmosfera de filme noir do início ao fim –Batman vai encontrando outros notáveis personagens de sua galeria dos quadrinhos, que acrescentam novas camadas à trama e contribuem com magníficas transposições para cinema, como Selina Kyle, a Mulher Gato (vivida pela bela Zoe Kravitz, numa química espetacular com Pattinson), o mafioso Pinguim (Colin Farrell, tornado irreconhecível pela maquiagem que evoca, em sua persona, o Al Capone de Robert De Niro em “Os Intocáveis”) e Carmine Falcone (John Turturro, se divertindo a valer).

Quase atingindo nada modestas três horas de duração, “The Batman”, de Matt Reeves, passa muito longe de qualquer reflexo da infantilidade proposta pelo “Batman”, de Tim Burton, num longínquo 1991, ao invés disso, o personagem dos quadrinhos surge aqui numa obra cheia de orientações muito adultas –não são raros os momentos em que compreendemos que, fosse o protagonista um detetive particular e não um herói encapuzado, esta seria uma autêntica produção nos moldes de “Fuga do Passado” ou “A Morte Num Beijo” –onde, inclusive, a construção dos personagens, seus momentos intimistas e as intrigas que avançam a história ganham muito mais prioridade do que qualquer cena de ação (ainda que elas também estejam lá, fotogênicas e impactantes).

Ao entregar um filme de realismo invejável enraizado na mitologia do herói assim reapresentado e rejuvenescido –este novo Batman, à princípio, todo independente do Universo Compartilhado da DC Comics onde é vivido por outros intérpretes, traz Robert Pattison, numa das mais sensacionais personificações de Batman/Bruce Wayne já concebidas –Matt Reeves criou, com propriedades fascinantes e rigor técnico arrebatador, uma das melhores adaptações de histórias em quadrinhos do cinema.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Cloverfield - Monstro

Embora já contasse mais de uma década do avassalador sucesso independente de “A Bruxa de Blair”, o estilo ‘found footage’ –aquele em que o filme se resume à filmagem de uma câmera manuseada por um dos personagens –ainda não havia sido banalizado a ponto de não contar como um dos detalhes curiosos acerca deste filme lançado em 2007 –e hoje, sabe-se, parte de uma espécie de ‘universo de filmes compartilhados’ que já ganhou, pelo menos, outros dois exemplares.
E o roteiro, escrito por Drew Goddard, vale-se inteligentemente do fato de ser uma fita gravada (sobre outra, contendo uma gravação prévia) para utilizar tais elementos com a mesma função narrativa de flashbacks.
A fita em questão pertence à Robert (Michael Stahl-David), o protagonista do filme –as primeiras cenas são, por sinal, dele com a garota que ele ama, Beth (a bela Odette Yustman). Contudo tais momentos –que servem como lembranças –são interrompidos: A mesma fita agora tem uma outra gravação por cima, a da despedida de Robert que partirá, no dia seguinte, para o Japão, onde ocupará um cargo muito disputado. Quem opera a câmera, muito à contra-gosto no início é Hudson (T.J. Miller), melhor amigo de Jason (Mike Vogel), irmão de Robert, noivo de Lilly (Jessica Lucas, lindíssima).
Ao longo da festa, Hudson grava depoimentos de amigos e conhecidos, embora esteja mais interessado em Marlena (Lizzy Caplan, maravilhosa).
Contam cerca de vinte minutos quando o filme dirigido por Matt Reeves (posteriormente realizador de “Deixe-Me Entrar” e “Planeta dos Macacos-A Guerra”) sofre sua mais notável guinada: Capturados nesse momento casual, num apartamento de Nova York, os presentes –incluindo os personagens mencionados acima –são apanhados por um acontecimento insólito, o ataque de um monstro à cidade (!).
É quando as escolhas narrativas desta produção de J.J. Abrahams começam a fornecer seus benefícios ao expectador: Toda a simulação da realidade –ainda que ela nunca esconda com tanta eficácia suas intenções –fazem de “Cloverfield” um espetáculo de espanto genuíno.
Todos os desdobramentos desse ocorrido (inclusive a fuga da população, a operação militar de combate à criatura e a busca desesperada de Robert por Beth que se encontra perdida em outra parte da cidade) são mostrados do ponto de vista dessa câmera digital amadora, carregada eventualmente por Hudson; e assim, seus sustos são nossos próprios sustos, seus sobressaltos são nossos próprios sobressaltos. E, embora a linguagem de falso documentário impeça a direção de fotografia de exercer qualquer requinte de acabamento, os realizadores encontram um meio de introduzir, nesta ótima homenagem aos "filmes de monstro", uma série de traquejos de ordem cinematográfica, como a aparição gradativa do monstro (a exemplo do estilo sugestivo de Spielberg em “Tubarão”), ou os já mencionados flashbacks –e a seqüência final, onde vários detalhes imperceptíveis são plantados para o expectador exercitar a imaginação é, por isso mesmo, de uma sacada genial!
“Cloverfield-Monstro” é um apanhado de diversas referências (sendo “Godzilla”, talvez, a mais gritante de todas) cujos elementos, manipulados com extrema propriedade, resultaram num merecido sucesso-cult.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Deixe-Me Entrar

O diretor Matt Reeves –que até então era conhecido pelo curioso filme de monstro em ‘founf footage’ “Cloverfield” –jamais foi um realizador medíocre (que o diga o magistral “Planeta dos Macacos-A Guerra” que ele lançou em 2017), todavia, ele correu um risco muito grande ao encarar esta refilmagem norte-americana da obra-prima sueca "Deixe Ela Entrar", pela simples razão de que não havia muitas maneiras de se aperfeiçoar (ou mesmo de recriar) o brilho ímpar com o qual Thomas Alfredson compôs sua obra.
Diante dessa constatação, era inevitável que algo se perdesse na comparação daquele trabalho único com esta versão mais anêmica e pasteurizada –o quê fez deste filme um forte argumento dos puristas que defendem a superioridade indiscutível dos originais sobre as refilmagens. Uma bobagem já que obras aclamadas como “Ben-Hur”, “Os Dez Mandamentos” ou “SeteHomens e Um Destino” são refilmagens.
A trama, como era de se esperar, trocou a ambientação sueca pela norte-americana e a narrativa de Reeves pulsa de boas intenções, ainda que elas sempre fiquem à sombra de seus equívocos. A época continua a mesma, meados dos anos 1980, e seu protagonista também: Um solitário e calado menino, aqui chamado Owen (interpretado com autenticidade por Kodi Smit-McPhee, o garotinho de “A Estrada”), vítima do bullying na escola, e da indiferença materna em casa –um dos recursos interessantes que salientam a solidão infantil é o fato de nunca mostrarem o rosto dos adultos, mesmo nas cenas em que estão presentes, fazendo-os surgir assim com uma severidade anônima ainda mais intensa.
Owen conhece certa noite a estranha menina Abby (Chloe Grace Moretz que nem por um decreto se iguala ao primor de Lina Leanderson no original), a nova moradora, ao lado de um senhor que aparenta ser seu pai (o ótimo Richard Jenkins), de um dos apartamentos do gelado condomínio em que moram.
Abby é sozinha, não tem amigos, surge no playground para brincar apenas à noite e, embora faça frio, não demonstra senti-lo, sempre usando vestes finas.
Aos poucos os dois jovens, cada qual mergulhado num tipo específico de exclusão profunda, vão construindo uma terna amizade, abala pela estarrecedora descoberta de que Abby é, na realidade, uma vampira!
A lembrança do filme original é algo que incomoda, e muito, a apreciação das cenas deste filme aqui. Um bom exemplo é a cena inicial, decalcada de “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, onde o diretor se esforça para incrementar a abertura do filme sueco com o uso da trilha sonora de Michael Giacchino (normalmente tão hábil e certeiro) que acaba se mostrando intrusiva, contrastando com o primor silencioso das cenas do original.
Outro caso é uma das cenas de ataque da pequena vampira, justamente aquela que, no filme original, vislumbramos um comovente relance de humanidade na personagem, mas que aqui, na falta de compreensão da personagem, é reduzida a um banal ataque vampiresco, mais atenta aos efeitos especiais que inexistem no original.
Claro que Matt Reeves aproveita a produção cheia de recursos que tem, e até mesmo o fato de ser posterior ao filme sueco –e, portanto, copiá-lo quando lhe convém, e incrementá-lo quando lhe é oportuno. Entretanto, não há, simplesmente não há condições, mesmo que com todo o orçamento do mundo, de igualar a genialidade artística presente do grande e memorável momento de “Deixa Ela Entrar”: A clássica cena da piscina.
Reeves tenta mudá-la, enchê-la de cortes rápidos onde antes não havia, e uma iluminação soturna (que atrapalha seu entendimento) e termina resumindo nesta cena a conclusão que vale para todo o seu filme: O mérito de ser bem produzido ele tem, mas a comparação com o grande trabalho original lhe evidencia toda a redundância e a mediocridade.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Planeta dos Macacos - A Guerra

A trilogia que conta a espetacular e épica saga de César –um personagem que em si resume o propósito e as razões da existência da sociedade dos macacos –chega ao fim neste filme, mais uma vez dirigido por Matt Reeves, que fez um bom trabalho em “Planeta dos Macacos-O Confronto”, embora não tão primoroso quando Rupert Wyatt em “Planeta dos Macacos-A Origem”.
Entretanto, parece que entre um filme e outro, Matt Reeves viu, reviu e avaliou cada um de seus deslizes e suas fraquezas a fim de saná-las para este final de trilogia: A sua evolução como cineasta neste trabalho é algo espantoso. Ele concebeu certamente o melhor filme dessa nova trilogia “Planeta dos Macacos”, plenamente digno de ser enxergado, nas décadas vindouras, como uma obra tão clássica quanto a original estrelada por Charlton Heston.
Contam exatamente quinze anos desde que os macacos, liderados por César se emanciparam do jugo dos homens, em “Planeta dos Macacos-A Origem” (ao mesmo tempo em que foi disseminado um vírus que quase varreu a raça humana), e cinco anos desde que as ações de Koba levaram à inevitabilidade de uma guerra entre humanos e símios, em “Planeta dos Macacos-O Confronto”.
Na qualidade de líder de seu povo, César deseja paz. Contudo, não é o que líder dos humanos –intitulado por eles como O Coronel –quer: Soldados fazem incursões constantes nas matas a fim de aniquilar os macacos, mesmo quando sofrem derrotas terríveis –e a primeira cena de batalha já deixa bem claro a nítida evolução intelectual e estratégica experimentada pelos símios, assim como a genialidade espantosa dos efeitos visuais que recriam os macacos em cena de maneira irretocável, e a técnica espetacular e renovadora com a qual o diretor Reeves consegue reger o filme.
Como num filme de guerra autêntico e genuíno, o diretor expõe as circunstâncias menos nítidas –macacos auxiliando os humanos e vice-versa, assim como desentendimentos de ideologia em ambas as facções –para emoldurar um filme poderoso amparado em grandiosas cenas. Embora tenha morrido no filme anterior, por exemplo, o personagem Koba continua sendo poderosamente ressonante na trama deste daqui; sua constante comparação com César e sua trágica trajetória, é um dos elementos de grande força dramática do roteiro, após um acontecimento, ainda na primeira parte, que talvez seja melhor não ser mencionado.
Único humano que ganha alguma importância na narrativa –pois aqui, os humanos são inexpressivos e irrelevantes –Woody Harrelson vive o Coronel que, em sua vilania plena, ganha ocasionais momentos de referência ao Coronel Kurtz de “Apocalypse Now”, assim como uma megalomaníaca analogia ao Deus Bíblico; tudo isso, na intenção de evidenciar a propensão perene que o ser humano tem para acarretar a destruição de si mesmo e dos demais à sua volta.
Os sucessivos blocos que compõem este grande filme oferecem ampla chance para que Reevez faça extraordinárias referências cinematográficas: As mais notáveis dizem respeito aos filmes sobre campos de concentração em geral, e “Fugindo do Inferno” em particular; mas há também espaço para “Doutor Jivago” (na cena em que César e seus companheiros encontram um casarão embranquecido com tanta neve onde acham outro macaco inteligente) e “Os Dez Mandamentos” (numa das últimas cenas, quando César e seus seguidores realizam o grande êxodo que a tempos planejavam). Mas a referência-mor para o filme é –e não poderia deixar de ser, o “Planeta dos Macacos” clássico –e ela surge numa sucessão de momentos (quando César e seus companheiros são vistos cavalgando na beira de uma praia, numa cena inconfundível do original), em pequenos detalhes (o filhote sobrevivente de César chama-se Cornelius) e em diálogos dos personagens (quando o próprio personagem de Harrelson admite que os humanos estão perdendo a capacidade de falar e, se ele próprio não fizer algo, este será um “planeta dos macacos”), até por fim envolver todo o filme (o desfecho, quando César consegue levar todos os seus até um lugar onde poderão viver, e que se parece demais com o mesmo cenário da comunidade de macacos vista no filme original).
A trilogia prólogo de “Planeta dos Macacos” chega ao fim com um filme digno, poderoso e emocionante, honrando plenamente o legado de seu clássico graças a dois talentos monumentais: O esplêndido ator-virtual Andy Serkis que faz de César um dos grandes personagens do cinema moderno (quando é que vão resolver dar um Oscar a ele?!) e, desta vez, o diretor Matt Reeves entregando aqui seu melhor filme, uma acachapante e magnífica alegoria sobre as inclinações que nos separam uns dos outros.

Planeta dos Macacos - O Confronto

Se formos levar em conta os demais filmes da franquia “Planeta dos Macacos” –as continuações menos prestigiadas do clássico com Charlton Heston –podemos perceber que “Planeta dos Macacos-A Origem” era uma reinvenção de “A Conquista do Planeta dos Macacos”, de 1972, seguindo uma linha mais factual, mais austera e mais plausível do que aquela mirabolante premissa de viagem no tempo.
E o filme cumpriu brilhantemente seu papel no sentido de preencher as lacunas acerca do mundo que o personagem astronauta de Charlton Heston encontrou quando regressou à Terra. Todavia, o filme não foi ávido, ilustrando com propriedade o início da ascensão dos símios em paralelo à derrocada da humanidade, deixando mais questões para sempre utilizadas em filmes posteriores.
Dessa forma, quando a história é retomada nesta continuação, dez anos já se passaram. Longe da civilização humana e de qualquer contato com os humanos, os macacos liderados por César (Andy Serkis que, mais uma vez, empresta ao personagem virtual emoção e presença únicas) agora vivem numa comunidade pacífica e tranqüila.
Os sobreviventes da raça humana que não sucumbiram ante o vírus (que, ao mesmo tempo, torna os macacos mais inteligentes) vivem num grupo polarizado entre duas lideranças distintas: De um lado, há Malcolm (Jason Clarke), um homem benevolente e sábio; do outro, Dreyfus (Gary Oldman), um beligerante e desconfiado cortejador da guerra.
Quando uma sucessão de circunstâncias leva a comunidade de César a encontrar os sobreviventes humanos, os dois grupos pouco a pouco começam a estabelecer uma aliança. Mas, se nem todos entre os humanos são confiáveis, nem tampouco eles são entre os macacos: Koba (personificado por Toby Kebbel), um dos conselheiros de César deseja a todo o custo uma guerra contra os humanos, e para isso parece disposto a sacrificar a própria paz que César tanto busca preservar.
O diretor deste segundo filme, Matt Reeves (ele dirigiu “Cloverfield-Monstro” e “Deixe-Me Entrar”, a refilmagem norte-americana de “Deixe Ela Entrar”), assumiu o posto com a desistência de Rupert Wyatt, realizador do filme anterior, sob a alegação de que não havia um roteiro hábil pronto para o início do projeto.
Reeves assumiu o filme com ares de diretor contratado, mas tratou de honrar todos os elementos funcionais do filme anterior: Sua premissa –um estopim narrativo para o grande embate entre macacos e humanos –recupera Koba, um interessante personagem usado com brevidade em “Planeta dos Macacos-A Origem”, mas que aqui ganha importância antagônica na trama e acaba responsável pelas ações que deflagram o terceiro ato deste filme e boa parte do que se verá na próxima produção.
Este é, portanto, não um filme de guerra, mas um filme sobre os gatilhos emocionais e morais que conduzem a guerra –como já era o clássico de 1968 que originou tudo isso, este novo “Planeta dos Macacos” é uma bela e inteligente alegoria acerca das razões (ou absoluta inexistência delas) das quais os homens se valem para a justificativa de seus conflitos.
O trabalho de Wyatt era mais fluido e convicto que o de Reeves em comparação, porém, o grande apelo do filme –o fato de que o magnífico César, que dividia de certa forma o protagonismo com James Franco no filme anterior, é aqui, indiscutivelmente o personagem central e principal –é mantido, enaltecido e ressaltado com o emprego de magistrais efeitos especiais.