“O grande truque do Diabo foi convencer o mundo
de que ele não existia.”
“The Usual Suspects” revelou ao mundo, por meio
da liberdade criativa plena do cinema independente, o diretor Brian Singer e o
roteirista Christopher McQuarrie: O primeiro, um jovem cineasta depois
estabelecido e reconhecido por sua contribuição aos filmes da saga “X-Men” que
definiram o padrão de qualidade para as adaptações de quadrinhos no início dos
anos 2000; o segundo, um escritor de hábil noção narrativa (e que, por este
trabalho, levou o Oscar de Melhor Roteiro Original) muito famoso hoje por recuperar
vários roteiros para a indústria: O trabalho de McQuarrie é notável, por
exemplo, na série “Missão Impossível”, com Tom Cruise, cujo roteiro do 4º
filme, “Protocolo Fantasma”, ele poliu até a perfeição, e o 5º (e melhor de
todos), “Nação Secreta”, ele não só roteirizou como também dirigiu.
“The Usual Suspects” também deu o Oscar de
Melhor Ator Coadjuvante à Kevin Spacey, iniciando ali uma premiada carreira
–pelo menos, até ele ser deixado de lado, devido à recentes denúncias de abuso
sexual...
Muitos argumentam que Kevin merecia o Oscar de
fato por “Seven-Os Sete Crimes Capitais” do mesmo ano, pelo qual ele não foi
indicado porque seu personagem representava ao filme uma reviravolta que não
devia ser divulgada.
Há também muitas reviravoltas aqui, porém, de
outra natureza: O filme de Singer começa no cais de Nova York, quando a polícia
se defronta com um barco transformado em palco de uma verdadeira chacina
ocorrida entre criminosos. As cenas que abrem o filme –e que introduzem não só
o protagonista Keaton (Gabriel Byrne) como também um importante e misterioso
personagem –já deixam bem clara a referência noir que será fundamental ao
filme, e a iminência de um flashback que haverá de rever aqueles fatos.
Movendo uma investigação imediata, o detetive
Dave Kujan (Chazz Palminteri, sensacional) descobre, por meio da única
testemunha sobrevivente, o manco e assustado Verbal (Kevin Spacey, magnífico), que
o massacre pode estar relacionado com o lendário Keiser Soze.
Ele vem a ser o personagem misterioso que
vislumbramos naquele início, e também fonte da grande questão que atravessa o
filme. Quem é esse imperador do crime de características quase folclóricas que
parece manipular todos os personagens? Quem é Keiser Soze?
Munidos dessas objetivas dúvidas –e atento a
fazer delas o cerne em torno do qual toda a narrativa irá girar –Singer e
McQuarrie não têm qualquer pudor em fazer desse personagem-fantasma um dos
vilões mais intrigantes e memoráveis do cinema.
Nunca, contudo, a polícia esteve tão perto de
decifrar a identidade de Keiser Soze; e para tanto, o depoimento do hesitante
Verbal é imprescindível. Reconstituindo o modo como ele, Keaton e seus outros
amigos (MacManus, vivido por Stephen Baldwin; Hoeney, interpretado por Kevin
Pollak; Fenster, interpretado por Benicio Del Toro) se envolveram na situação,
o detetive (e o público) desvenda uma trama movida por um grupo de trapaceiros
que acabaram esbarrando onde não deviam.
O grande trunfo do filme é certamente seu
argumento magistral, bem como a condução consciente e bem amarra do diretor
conseguindo o mérito insuspeito de surpreender a cada cena, a cada nova
informação e ainda reservando, ao final, uma revelação desconcertante que fez
desta produção uma das mais comentadas nos anos 1990.
P/S: Não confundir este “Os Suspeitos” com o
filme homônimo lançado em 2013, dirigido por Denis Vileneuve –e igualmente
sensacional!
Nenhum comentário:
Postar um comentário