quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Os Suspeitos

“O grande truque do Diabo foi convencer o mundo de que ele não existia.”
“The Usual Suspects” revelou ao mundo, por meio da liberdade criativa plena do cinema independente, o diretor Brian Singer e o roteirista Christopher McQuarrie: O primeiro, um jovem cineasta depois estabelecido e reconhecido por sua contribuição aos filmes da saga “X-Men” que definiram o padrão de qualidade para as adaptações de quadrinhos no início dos anos 2000; o segundo, um escritor de hábil noção narrativa (e que, por este trabalho, levou o Oscar de Melhor Roteiro Original) muito famoso hoje por recuperar vários roteiros para a indústria: O trabalho de McQuarrie é notável, por exemplo, na série “Missão Impossível”, com Tom Cruise, cujo roteiro do 4º filme, “Protocolo Fantasma”, ele poliu até a perfeição, e o 5º (e melhor de todos), “Nação Secreta”, ele não só roteirizou como também dirigiu.
“The Usual Suspects” também deu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante à Kevin Spacey, iniciando ali uma premiada carreira –pelo menos, até ele ser deixado de lado, devido à recentes denúncias de abuso sexual...
Muitos argumentam que Kevin merecia o Oscar de fato por “Seven-Os Sete Crimes Capitais” do mesmo ano, pelo qual ele não foi indicado porque seu personagem representava ao filme uma reviravolta que não devia ser divulgada.
Há também muitas reviravoltas aqui, porém, de outra natureza: O filme de Singer começa no cais de Nova York, quando a polícia se defronta com um barco transformado em palco de uma verdadeira chacina ocorrida entre criminosos. As cenas que abrem o filme –e que introduzem não só o protagonista Keaton (Gabriel Byrne) como também um importante e misterioso personagem –já deixam bem clara a referência noir que será fundamental ao filme, e a iminência de um flashback que haverá de rever aqueles fatos.
Movendo uma investigação imediata, o detetive Dave Kujan (Chazz Palminteri, sensacional) descobre, por meio da única testemunha sobrevivente, o manco e assustado Verbal (Kevin Spacey, magnífico), que o massacre pode estar relacionado com o lendário Keiser Soze.
Ele vem a ser o personagem misterioso que vislumbramos naquele início, e também fonte da grande questão que atravessa o filme. Quem é esse imperador do crime de características quase folclóricas que parece manipular todos os personagens? Quem é Keiser Soze?
Munidos dessas objetivas dúvidas –e atento a fazer delas o cerne em torno do qual toda a narrativa irá girar –Singer e McQuarrie não têm qualquer pudor em fazer desse personagem-fantasma um dos vilões mais intrigantes e memoráveis do cinema.
Nunca, contudo, a polícia esteve tão perto de decifrar a identidade de Keiser Soze; e para tanto, o depoimento do hesitante Verbal é imprescindível. Reconstituindo o modo como ele, Keaton e seus outros amigos (MacManus, vivido por Stephen Baldwin; Hoeney, interpretado por Kevin Pollak; Fenster, interpretado por Benicio Del Toro) se envolveram na situação, o detetive (e o público) desvenda uma trama movida por um grupo de trapaceiros que acabaram esbarrando onde não deviam.
O grande trunfo do filme é certamente seu argumento magistral, bem como a condução consciente e bem amarra do diretor conseguindo o mérito insuspeito de surpreender a cada cena, a cada nova informação e ainda reservando, ao final, uma revelação desconcertante que fez desta produção uma das mais comentadas nos anos 1990.

P/S: Não confundir este “Os Suspeitos” com o filme homônimo lançado em 2013, dirigido por Denis Vileneuve –e igualmente sensacional!

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