sábado, 10 de outubro de 2015

Cisne Negro

Os músculos podem doer, as unhas dos pés podem se quebrar (em cenas que, por vezes, transferem a angústia dessa dor para o expectador), mas a disposição da jovem bailarina (Natalie Portman) que protagoniza “Cisne Negro” em se superar e superar a capacidade de suas pares parece ser capaz de ignorar tudo isso.
Em alguns momentos, é bem verdade, tal dedicação não parece vir dela –aparenta, sim, ser a extensão da criação imposta pela própria mãe (Bárbara Hershey), e que reflete na jovem os anseios que antes ela alimentava para si.
Mas são muitas as coisas que aqui podem aparentar, e não necessariamente ser.
Nina, a jovem bailarina, inicia o árduo processo de treinamento da execução do balé "O Lago dos Cisnes". Dona da disputada vaga de protagonista, ela tem uma pressão a mais sobre seus ombros; deve interpretar não só a faceta do inocente e frágil Cisne Branco (papel ao qual ela se encaixa com perfeição), mas também o selvagem e sensual Cisne Negro (cuja interpretação, alguns acreditam, ela não é capaz de executar).
Ao longo dos fatigantes ensaios, ela vivencia tensões e paranóias manifestadas em cenas que podem não necessariamente pertencer à realidade, e tem de conviver com a exuberância de uma sexy bailarina rival (Mila Kunis) que parece possuir e ostentar os adjetivos que lhe faltam.
Natalie Portman está brilhante nesta tensa e fascinante obra do grande diretor Daren Aranofski, que pega elementos narrativos emprestados de várias fontes completamente distintas: A ambiguidade circular, e o registro brilhante do isolamento e da loucura executados por Roman Polanski no magistral "O Inquilino"; a ambientação algo européia que remete a um refinamento oriundo do mundo do balé presente em “Sapatinhos Vermelhos” e “Étoile” (cuja trama também girava em torno de uma bailarina oprimida pelos assombros do mundo real e do irreal); e a atmosfera dúbia, carregada de significados e múltiplas interpretações da fantástica animação japonesa "Perfect Blue".

Nenhum comentário:

Postar um comentário