sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Seven - Os Sete Crimes Capitais

Neste que é, até hoje, um de seus trabalhos mais primorosos, David Fincher enreda os seus personagens num mundo de chuva e escuridão que é, ele próprio, um reflexo da alma negra do misterioso psicopata que os protagonistas perseguem.
Como no refrão da eletrizante música de David Bowie que encerra a obra, a psicose é, assim sendo, “algo dentro de nós mesmos” (Something In Ourselfs).
Desde o início este é, portanto, um jogo perdido, ainda que até seu desfecho, não faltem surpresas.
O extraordinário Morgan Freeman e o astro Brad Pitt (na primeira de, até então, três colaborações com Fincher) são dois detetives, um veterano e um novato, de natureza e estilos antagônicos, trabalhando juntos num caso assustador onde um psicopata desconhecido parece matar suas vítimas com base nos sete pecados capitais.
A encenação, concebida por Fincher para cada morte que se segue é um primor macabro que até hoje desafia os parâmetros dos fãs do gênero: Temos o homem obeso sufocado num prato de comida (gula); um advogado obrigado a dilacerar um pedaço da própria carne numa recriação macabra de “O Mercador de Veneza” (avareza); uma garota de programa morta por um hediondo instrumento sexual (luxúria); um mendigo confinado por meses em uma cama (preguiça); e a modelo que se suicida após a mutilação de seu rosto (vaidade).
As coisas se complicam de verdade quando o psicopata começa a jogar com os próprios detetives e se apresenta disposto a levar os dois policiais ao local fatídico de seus dois derradeiros crimes (a inveja e a ira).
Nesse momento, Fincher remove seus personagens do ambiente lúgubre e urbano, levando os dois protagonistas e seu desafiador antagonista (um magnífico Kevin Spacey) ao inusitado cenário de um campo aberto com sol, no qual ele parece sugerir subconscientemente ao expectador uma quebra nas pessimistas expectativas, mas o que ele fará é algo de uma ousadia e transgressão tamanhas que fez com que o final deste filme fosse um dos tópicos mais discutidos daqueles anos.
A excelência alcançada por “Seven” através da direção espetacular de Fincher –voltada muito para o esmero no quesito visual, no que encontra fabuloso respaldo na direção de fotografia de Darius Khonji –fez dele um marco do cinema independente dos anos 1990 que redefiniu o conceito de filmes sobre serial-killers e a percepção dos estúdios sobre trabalhos pesados e claustrofóbicos.

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