Neste que é, até hoje, um de seus trabalhos
mais primorosos, David Fincher enreda os seus personagens num mundo de chuva e
escuridão que é, ele próprio, um reflexo da alma negra do misterioso psicopata
que os protagonistas perseguem.
Como no refrão da eletrizante música de David
Bowie que encerra a obra, a psicose é, assim sendo, “algo dentro de nós mesmos”
(Something In Ourselfs).
Desde o início este é, portanto, um jogo
perdido, ainda que até seu desfecho, não faltem surpresas.
O extraordinário Morgan Freeman e o astro Brad
Pitt (na primeira de, até então, três colaborações com Fincher) são dois
detetives, um veterano e um novato, de natureza e estilos antagônicos,
trabalhando juntos num caso assustador onde um psicopata desconhecido parece
matar suas vítimas com base nos sete pecados capitais.
A encenação, concebida por Fincher para cada
morte que se segue é um primor macabro que até hoje desafia os parâmetros dos
fãs do gênero: Temos o homem obeso sufocado num prato de comida (gula); um
advogado obrigado a dilacerar um pedaço da própria carne numa recriação macabra
de “O Mercador de Veneza” (avareza); uma garota de programa morta por um
hediondo instrumento sexual (luxúria); um mendigo confinado por meses em uma
cama (preguiça); e a modelo que se suicida após a mutilação de seu rosto (vaidade).
As coisas se complicam de verdade quando o
psicopata começa a jogar com os próprios detetives e se apresenta disposto a
levar os dois policiais ao local fatídico de seus dois derradeiros crimes (a
inveja e a ira).
Nesse momento, Fincher remove seus personagens
do ambiente lúgubre e urbano, levando os dois protagonistas e seu desafiador
antagonista (um magnífico Kevin Spacey) ao inusitado cenário de um campo aberto
com sol, no qual ele parece sugerir subconscientemente ao expectador uma quebra
nas pessimistas expectativas, mas o que ele fará é algo de uma ousadia e transgressão tamanhas que fez com que o
final deste filme fosse um dos tópicos mais discutidos daqueles anos.
A excelência alcançada por “Seven” através da
direção espetacular de Fincher –voltada muito para o esmero no quesito visual,
no que encontra fabuloso respaldo na direção de fotografia de Darius Khonji
–fez dele um marco do cinema independente dos anos 1990 que redefiniu o
conceito de filmes sobre serial-killers e a percepção dos estúdios sobre
trabalhos pesados e claustrofóbicos.
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