O diretor Matt Reeves –que até então era
conhecido pelo curioso filme de monstro em ‘founf footage’ “Cloverfield”
–jamais foi um realizador medíocre (que o diga o magistral “Planeta dos
Macacos-A Guerra” que ele lançou em 2017), todavia, ele correu um risco muito
grande ao encarar esta refilmagem norte-americana da obra-prima sueca
"Deixe Ela Entrar", pela simples razão de que não havia muitas
maneiras de se aperfeiçoar (ou mesmo de recriar) o brilho ímpar com o qual
Thomas Alfredson compôs sua obra.
Diante dessa constatação, era inevitável que
algo se perdesse na comparação daquele trabalho único com esta versão mais
anêmica e pasteurizada –o quê fez deste filme um forte argumento dos puristas
que defendem a superioridade indiscutível dos originais sobre as refilmagens.
Uma bobagem já que obras aclamadas como “Ben-Hur”, “Os Dez Mandamentos” ou “SeteHomens e Um Destino” são refilmagens.
A trama, como era de se esperar, trocou a
ambientação sueca pela norte-americana e a narrativa de Reeves pulsa de boas
intenções, ainda que elas sempre fiquem à sombra de seus equívocos. A época
continua a mesma, meados dos anos 1980, e seu protagonista também: Um solitário
e calado menino, aqui chamado Owen (interpretado com autenticidade por Kodi
Smit-McPhee, o garotinho de “A Estrada”), vítima do bullying na escola, e da
indiferença materna em casa –um dos recursos interessantes que salientam a
solidão infantil é o fato de nunca mostrarem o rosto dos adultos, mesmo nas
cenas em que estão presentes, fazendo-os surgir assim com uma severidade
anônima ainda mais intensa.
Owen conhece certa noite a estranha menina Abby
(Chloe Grace Moretz que nem por um decreto se iguala ao primor de Lina
Leanderson no original), a nova moradora, ao lado de um senhor que aparenta ser
seu pai (o ótimo Richard Jenkins), de um dos apartamentos do gelado condomínio
em que moram.
Abby é sozinha, não tem amigos, surge no
playground para brincar apenas à noite e, embora faça frio, não demonstra
senti-lo, sempre usando vestes finas.
Aos poucos os dois jovens, cada qual mergulhado
num tipo específico de exclusão profunda, vão construindo uma terna amizade,
abala pela estarrecedora descoberta de que Abby é, na realidade, uma vampira!
A lembrança do filme original é algo que
incomoda, e muito, a apreciação das cenas deste filme aqui. Um bom exemplo é a
cena inicial, decalcada de “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, onde o diretor se
esforça para incrementar a abertura do filme sueco com o uso da trilha sonora
de Michael Giacchino (normalmente tão hábil e certeiro) que acaba se mostrando
intrusiva, contrastando com o primor silencioso das cenas do original.
Outro caso é uma das cenas de ataque da pequena
vampira, justamente aquela que, no filme original, vislumbramos um comovente
relance de humanidade na personagem, mas que aqui, na falta de compreensão da
personagem, é reduzida a um banal ataque vampiresco, mais atenta aos efeitos
especiais que inexistem no original.
Claro que Matt Reeves aproveita a produção
cheia de recursos que tem, e até mesmo o fato de ser posterior ao filme sueco
–e, portanto, copiá-lo quando lhe convém, e incrementá-lo quando lhe é
oportuno. Entretanto, não há, simplesmente não há condições, mesmo que com todo
o orçamento do mundo, de igualar a genialidade artística presente do grande e
memorável momento de “Deixa Ela Entrar”: A clássica cena da piscina.
Reeves tenta mudá-la, enchê-la
de cortes rápidos onde antes não havia, e uma iluminação soturna (que atrapalha
seu entendimento) e termina resumindo nesta cena a conclusão que vale para todo
o seu filme: O mérito de ser bem produzido ele tem, mas a comparação com o
grande trabalho original lhe evidencia toda a redundância e a mediocridade.
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