terça-feira, 1 de agosto de 2017

Vida

Em princípio, percebe-se uma característica seguida à risca pelo diretor Daniel Espinosa, neste filme, vinda da cartilha elaborada por Ridley Scott desde que realizou “Alien” e suas tentativas de prólogo, “Prometheus” e “Alien-Covenant”: A escolha incomum e criteriosa de intérpretes interessantes e diversificados para viver o número reduzido de personagens.
Habitando a Estação Espacial Internacional, em órbita na Terra, estão, portanto, o veterano das Forças Armadas Norte-Americanas convertido em voluntário espacial Jordan (Jake Gyllenhaal, sempre eficiente), a astronauta inglesa Miranda (Rebecca Ferguson, de “Missão Impossível-Nação Secreta”), o cientista sul-africano Derry (Ariyon Bakare), o encarregado canadense dos procedimentos de segurança Adams (Ryan Reynolds, o “Deadpool” em pessoa que já havia participado de “Protegendo O Inimigo”, um dos trabalhos anteriores de Espinosa), a suboficial russa Golovkina (Olga Dihovichnaya) e o capitão japonês Sho (Hiroyuki Sanada, que já havia sido capitão na espaçonave de “Sunshine-Alerta Solar).
Munido desse elenco, de uma premissa tão básica que já se imagina o plot do filme ao olhar para seu pôster, e centrado na intenção de fazer uma agradável fusão narrativa entre os elementos icônicos do “Alien” original com os aspectos mais autênticos e realistas (e, por isso mesmo, mais amedrontadores) da obra-prima “Gravidade”, de Alfonso Cuarón, Espinosa conseguiu construir um terror espacial que supera com folgas as duas últimas tentativas do próprio Scott em refazer seu “Alien”.
Orbitando nosso planeta, a tripulação da Estação Espacial Internacional intercepta uma sonda vinda de Marte e a recebe com o entusiasmo de quem sabe que ela trás descoberta incalculáveis para a ciência.
A maior delas, um ser protozoário logo batizado Calvin, será fonte de inúmeras surpresas: Com o tratamento adequado, a forma de vida desperta de sua inanição e passa a crescer em ritmo exponencial. Logo, ganha tamanho suficiente para caber na mão do encantado Derry, a despeito dos alertas constantes dos demais tripulantes, sobretudo, Jordan e Adams, os mais interessados na segurança.
Como é sintomático nos personagens envolvidos em tramas aterrorizantes, sejam elas num casarão, ou numa espaçonave, o assombro irá interferir na objetividade e o pânico será disparado na primeira atitude incoerente: Uma falha na segurança levará eles a temer pela vida de Calvin, e assim tentar um procedimento de desfibrilação. Mas, a forma de vida interpreta aquilo como uma tentativa de ataque e volta-se contra todos eles, revelando, na evolução implacável de seu organismo um perigo mortal para todos eles.
Espelhado no ser concebido por Ridley Scott, a criatura de “Vida” cresce a muda de forma, avançando por estágios da mesma maneira que alcança novas áreas da estação e elimina um a um dos tripulantes.
Se, na visão de Scott, a criatura alienígena agregava mais significado à medida que evoluía, junto com sua narrativa, de um perigo justificadamente orgânico, para um simbologismo que contaminava a própria nave, no trabalho profundamente referencial de Espinosa, as analogias meio que se perdem na tentativa única e até válida de realizar um grande trabalho de suspense –o quê muitos nem isso conseguem hoje em dia.
Seu final, contudo, é de uma inesperada contundência ao deixar de lado o reflexo involuntário do cinema comercial onde os protagonistas prevalecem por meio de soluções implausíveis e surpreender o expectador com uma crueldade verdade extraída de Darwin: Viver para uma determinada forma de vida significa levar outra forma de vida a morrer.

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