Em princípio, percebe-se uma característica
seguida à risca pelo diretor Daniel Espinosa, neste filme, vinda da cartilha
elaborada por Ridley Scott desde que realizou “Alien” e suas tentativas de
prólogo, “Prometheus” e “Alien-Covenant”: A escolha incomum e criteriosa de
intérpretes interessantes e diversificados para viver o número reduzido de
personagens.
Habitando a Estação Espacial Internacional, em
órbita na Terra, estão, portanto, o veterano das Forças Armadas
Norte-Americanas convertido em voluntário espacial Jordan (Jake Gyllenhaal,
sempre eficiente), a astronauta inglesa Miranda (Rebecca Ferguson, de “Missão
Impossível-Nação Secreta”), o cientista sul-africano Derry (Ariyon Bakare), o
encarregado canadense dos procedimentos de segurança Adams (Ryan Reynolds, o
“Deadpool” em pessoa que já havia participado de “Protegendo O Inimigo”, um dos
trabalhos anteriores de Espinosa), a suboficial russa Golovkina (Olga
Dihovichnaya) e o capitão japonês Sho (Hiroyuki Sanada, que já havia sido
capitão na espaçonave de “Sunshine-Alerta Solar).
Munido desse elenco, de uma premissa tão básica
que já se imagina o plot do filme ao olhar para seu pôster, e centrado na
intenção de fazer uma agradável fusão narrativa entre os elementos icônicos do
“Alien” original com os aspectos mais autênticos e realistas (e, por isso
mesmo, mais amedrontadores) da obra-prima “Gravidade”, de Alfonso Cuarón,
Espinosa conseguiu construir um terror espacial que supera com folgas as duas
últimas tentativas do próprio Scott em refazer seu “Alien”.
Orbitando nosso planeta, a tripulação da Estação
Espacial Internacional intercepta uma sonda vinda de Marte e a recebe com o
entusiasmo de quem sabe que ela trás descoberta incalculáveis para a ciência.
A maior delas, um ser protozoário logo batizado
Calvin, será fonte de inúmeras surpresas: Com o tratamento adequado, a forma de
vida desperta de sua inanição e passa a crescer em ritmo exponencial. Logo,
ganha tamanho suficiente para caber na mão do encantado Derry, a despeito dos
alertas constantes dos demais tripulantes, sobretudo, Jordan e Adams, os mais
interessados na segurança.
Como é sintomático nos personagens envolvidos
em tramas aterrorizantes, sejam elas num casarão, ou numa espaçonave, o
assombro irá interferir na objetividade e o pânico será disparado na primeira
atitude incoerente: Uma falha na segurança levará eles a temer pela vida de
Calvin, e assim tentar um procedimento de desfibrilação. Mas, a forma de vida
interpreta aquilo como uma tentativa de ataque e volta-se contra todos eles,
revelando, na evolução implacável de seu organismo um perigo mortal para todos
eles.
Espelhado no ser concebido por Ridley Scott, a
criatura de “Vida” cresce a muda de forma, avançando por estágios da mesma
maneira que alcança novas áreas da estação e elimina um a um dos tripulantes.
Se, na visão de Scott, a criatura alienígena
agregava mais significado à medida que evoluía, junto com sua narrativa, de um
perigo justificadamente orgânico, para um simbologismo que contaminava a própria
nave, no trabalho profundamente referencial de Espinosa, as analogias meio que
se perdem na tentativa única e até válida de realizar um grande trabalho de
suspense –o quê muitos nem isso conseguem hoje em dia.
Seu final, contudo, é de
uma inesperada contundência ao deixar de lado o reflexo involuntário do cinema
comercial onde os protagonistas prevalecem por meio de soluções implausíveis e
surpreender o expectador com uma crueldade verdade extraída de Darwin: Viver
para uma determinada forma de vida significa levar outra forma de vida a
morrer.
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