O clássico “Planeta dos Macacos” estrelado por
Charlton Heston e lançado no ano de1968 (um ano antes, portanto, de Kubrick
chacoalhar o cinema e o gênero de ficção científica com seu “2001-Uma OdisséiaNo Espaço”), já estava distante o bastante para que Hollywood tivesse
ambiciosos lampejos de reinvenção.
É notória a tentativa de recomeçar tudo de
novo, em 2001 (ironias...), com uma nova versão da mesma trama com Charlton
Heston, desta vez estrelada por Mark Whalberg, e dirigida por Tim Burton,
entretanto, exceto pelo capricho na maquiagem, a nova produção era, em tudo e
por tudo, inferior ao marcante filme dos anos 1960.
Uma década depois, Hollywood (mais
especificamente, os estúdios da Fox) continuaram tentando, agora, com a idéia de
uma reinvenção de fato. E mais: Com mérito genuíno.
Se o clássico tinha algo de francamente
inovador, à época, na maquiagem símia criada para seus atores incorporar
macacos desenvolvidos, então, supôs o perspicaz diretor Rupert Wyatt, era
necessário que o legado de “Planeta dos Macacos” fosse respeitado seguindo essa
busca por inovação –“A Origem”, esse novo filme, agora possuía, não atores
primorosamente maquiados, mas todo um elenco convertido em macacos virtualmente
reais, graças à tecnologia de captura de performance, apresentada por Peter
Jackson em “O Senhor dos Anéis”, nas cenas que envolviam o personagem digital
Gollum, e por James Cameron no revolucionário “Avatar” e aqui, por sua vez, elevada
à um novo nível.
A trama também não cometia do erro do filme de
Tim Burton, em tentar refazer o clássico, mas o complementava: Tratava-se, na
realidade de um prólogo, revelando como a Terra, do mundo civilizado atual,
converteu-se na distopia dominada por uma raça avançada de macacos como visto
no clássico.
E o ponto de partida para essa mudança se
origina no personagem de James Franco (recém-saído de uma indicação ao Oscar
por “127 Horas”), um jovem cientista determinado a encontrar a cura do Mal de
Alzheimer que acomete seu pai (o veterano John Lithgow). Ele realiza uma
experiência clandestina numa fêmea chimpanzé, o que gera, mais tarde, um
filhote de prodigiosa inteligência: César –interpretado pelo grande
especialista em atuação na captura de performance do cinema, Andy Serkis, que
também foi responsável pela extraordinária presença de Gollum (muito legal
notar que James Franco assume aqui o papel de coadjuvante de um personagem
digital com um bocado de dignidade).
Com o tempo, César (personificado de modo
assombroso pelos movimentos e pela técnica de Andy Serkis) adquire consciência
de quem é e acaba levado e encarcerado num zoológico para macacos, onde junto
de outros símios, sofre maus tratos nas mãos de humanos cruéis –representados,
entre outros, por Brian Cox e Tom Felton, habituados a papéis de vilões. Logo,
César percebe que, na condição de líder de sua raça, deve valer-se do quê sabe
e compreende para conduzir os da sua espécime à uma rebelião sem precedentes,
que deverá levá-los à liberdade, para bem longe do julgo dos humanos.
O modo com que a direção de Rupert Wyatt conduz
a trama, o amadurecimento de César (com estupendo desenvolvimento dele enquanto
personagem, e brilhante observação na ascensão de sua liderança) e o desenrolar
de todas as facetas fundamentais às características presentes no filme clássico
é de um primor estupendo; tornando até mesmo redundantes referências mais
convencionais como as falas “Isto aqui é um hospício!” ou “Tire suas patas de
mim, seu macaco imundo!”.
Todas essas bem elaboradas
características conduzem harmoniosamente ao segmento final, onde vemos a
arrepiante insurreição dos animais contra os seres humanos (é curioso como, em
suas motivações muito bem estipuladas no roteiro, o filme consegue colocar de maneira
convincente, os humanos –ou seja, nós mesmos! –como os detestáveis vilões), uma
sucessão fantástica de cenas que mesclam ação, eficácia narrativa e o brilho de
efeitos visuais empregados em favor da história que eleva a produção num outro
nível, capaz de fazer dele uma obra tão icônica quanto o clássico que busca
honrar.
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