Na época de seu lançamento, a grande novidade
ao redor de “Os Incríveis” era o fato de ser a primeira animação da Pixar na
qual os protagonistas eram seres humanos –todos os protagonistas das obras
anteriores eram brinquedos (“Toy Story”), insetos (“Vida de Inseto”), seres
imaginários (“Monstros S.A.”) ou criaturas do fundo do mar (“Procurando Nemo”),
numa esperta maneira de contornar o problema de que a computação gráfica ainda
não tinha atingido o patamar técnico adequado para se criar seres humanos de
forma aceitável.
Em “Os Incríveis” –que também foi a estréia do
animador Brad Bird, de “O Gigante de Ferro” e do posterior “Ratatouille” no
estúdio –coube a tarefa de enfim encarar o desafio.
E a Pixar o fez demonstrando sua mais perene
qualidade: A inteligência.
Não interessava aos seus realizadores conceber
humanos absolutamente realistas –a exemplo da animação japonesa “Final Fantasy”
–desde que isso sacrificasse a própria funcionalidade da trama. A saída: Moldar
uma história com protagonistas humanos, sim, mas cuja natureza se aproximasse,
deliberadamente, da fantasia e dos desenhos animados feitos a lápis. Ou seja,
uma história de super-heróis.
Não bastasse isso, o diretor Brad Bird buscou
inspirações poderosas para seu projeto que passam por conceitos inteligentes e
complexos de clássicos indiscutíveis dos quadrinhos como “O Cavaleiro das
Trevas” (o herói forçado à aposentadoria), o revolucionário “Watchmen” (os
heróis submetidos à legislação da sociedade) e até mesmo à família
super-heróica de “Quarteto Fantástico” (ironicamente, anos depois a Disney
comprou a Marvel, dona do Quarteto Fantástico, tornando esse detalhe ainda mais
curioso).
Após uma era de super-heróis onde se podia
testemunhar, do meio da rua, os célebres feitos de paladinos como o Sr.
Incrível (voz de Craig T. Nelson, o protagonista de “Poltergeist-O Fenômeno”),
e o Sr. Gelado (voz de Samuel L. Jackson), o governo institui uma aposentadoria
forçada aos vigilantes –diante de uma série de processos como suicidas que
foram impedidos de se matar(!).
Outrora a identidade secreta do próprio Sr.
Incrível, o cidadão de classe média, Roberto Pêra, casado com a ex-Mulher Elástica
(voz de Holly Hunter) e pai de uma família na qual todos têm poderes (seus
filhos são o superveloz Flecha, a menina invisível Violeta e o pequeno Zezé),
ressente-se de já não viver mais seus dias de glória, e resolve agir as
escondidas, afinal por uma lei governamental, é proibido usar poderes em
público.
No entanto, suas ações clandestinas não passam
despercebido de um manipulador super-vilão que põe em prática um plano para
dizimar os super-heróis de uma vez por todas.
Além desse arrojo com que é
construída sua premissa –e que afasta, por isso mesmo, um pouco do caráter
emotivo de outros trabalhos da Pixar –“Os Incríveis” surpreende pelas
pinceladas mais adultas em sua trama que não renega influências dos quadrinhos
de observações corrosivas para com o ser humano e que passam longe de ser
material infantil, em especial a graphic novel "Watchmen", adaptada
para cinema, anos depois, por Zack Snyder.
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