Para além da aparência de comédia romântica
genérica que possui, “500 Dias Com Ela” é um filme que desperta interessantes
reflexões no expectador.
Realizado por Marc Webb logo antes de ser
chamado para reiniciar a franquia do Homem-Aranha (desta vez, com Andrew
Garfield), o filme dá uma idéia bastante interessante do que os executivos
vislumbraram na trabalho de Webb, almejando algo assim para os novos filmes do
escalador de paredes –uma pegada romântica carregada de inteligência e vivacidade.
Uma pena que Webb terminou não entregando nada
disso, mas essa é uma outra história...
Tom (Joseph Gordon Levitt, perfeito e adequado
ao papel) é um rapaz romântico e, até certo ponto, ingênuo. Quando o filme
começa, já imerso em memórias que vêem e que vão, sabemos que ele conhece
Summer (Zooey Deschanel, o grande achado do filme), uma garota maravilhosa e
cativante, por quem ele logo se apaixona. O relacionamento dos dois se
desenrola ao longo de exatos quinhentos dias, desde a sutil aproximação, a consumação
da paixão, os planos de ficarem juntos e o conseqüente afastamento.
Ao abordar uma trama romântica sobre o ponto de
vista variante da rejeição, Webb não realizou somente um filme divertido e
delicioso (características que logicamente predominam na primeira parte cheia
de encanto e descoberta), mas também dolorosamente realista; inclusive para com
o próprio viés fantasioso que a dinâmica dos relacionamentos é, em geral,
abordada nessas comédias românticas: Dessa forma, a analogia contundente e
graciosa que a narrativa estabelece entre o filme “A Primeira Noite de Um
Homem” e as conseqüências dos atos e das reações do protagonista representa a
grande e pertinente mensagem do filme –a de que a vida real não é uma comédia
romântica, e de que possui muito mais complexidade, e momentos de desânimo e
tristeza que pode sonhar nossa vã esperança por um final feliz.
Essas observações aparecem em diversos momentos,
nas entrelinhas poderosas dos acontecimentos finais, nas afirmações sensatas da
assustadoramente madura irmã menor de Tom (vivida por Chloe Grace Moretz, pouco
antes de explodir como a Hit-Girl de “Kick Ass”) e certamente na narração séria
e paradoxalmente divertida, mais absolutamente circunspecta que Webb atribui ao
filme.
São elementos inesperados, cuja soma deixa evidente
que este grande fenômeno de público e crítica é mais do que uma simples comédia
romântica: Ao contar sua história numa ordem não linear, indo e vindo no tempo,
o diretor Marc Webb relata incisivamente os momentos em que a pequena distância
entre o casal virou um verdadeiro abismo, contrapondo as personalidades
distintas de Tom e Summer numa condução espirituosa e particularmente
cativante. O que resta, assim, é a observação acerca da personagem da
encantadora Zooey Deschanel ser ou não a grande vilã do filme (afinal, ela fez
o garoto se apaixonar por ela para em seguida largá-lo, fazendo-o sofrer),
coisa que ela definitivamente não é: De um jeito muito particular, o filme de
Webb quer lançar certo olhar para a forma com que a cultura pop ensinou toda uma
geração (exemplificada em Tom) a olhar o romantismo de uma maneira torpe,
distorcida e totalmente desprovida das imbricações reais. E, para tanto, Webb
faz um filme que é, ele próprio, essencialmente pop, pontuado por inebriantes
canções que falam sobre a embriaguez do romance e por uma sucessão de cenas
brilhantes: As mensagens de cartões que ganham cada vez mais inspiração a
medida que o amor dos dois jovens evolui; a bela seqüência musical que começa
com uma piscadela de Han Solo (!); as constantes menções de filmes clássicos.
Tom não enxerga em Summer aquilo que ela é, mas
sim o que ele idealiza que ela seja –e, por ser maravilhosa, ela é bem sucedida
em fazê-lo crer na maior parte do tempo que corresponde aos seus anseios
–todavia, mais cedo ou mais tarde, um relacionamento precisa se amparar na
realidade, sobretudo, quando se espera dele alguma longevidade. Não à toa, uma
das cenas mais famosas do filme mostra justamente a tela dividir-se entre
Expectativa e Realidade, mostrando assim a dolorosa desilusão de Tom com Summer
paralelo aos sonhos pouco plausíveis que ele nutria em relação a ela.
Um filme com uma
contagiante faceta divertida, mas também com uma válida e preciosa faceta de
tristeza.
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