terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Segredos de Sangue

Eu já havia mencionado antes a grande influência de Shakespeare na obra do sul-coreano Chan Wook Park, a “Trilogia da Vingança”.
Em sua estréia no cinema norte-americano, essa influência se estreita ainda mais: “Segredos de Sangue” faz toda uma referência à “Hamlet” em seu ponto de partida.
Como o famoso protagonista de Shakespeare, a jovem India Stoker (Mia Wasikowska, tornando apática a personagem) perde o pai na mesma ocasião em que ‘ganha’ um tio –Charlie (Matthew Goode, sem o carisma necessário), irmão mais novo de seu pai, de quem ela nunca tinha ouvido falar, aparece no funeral sem mais nem menos.
Flertando com sua mãe (Nicole Kidman, num papel mais ostensivo do que relevante) e cheio de justificativas pouco convincentes para as inúmeras perguntas que sua simples presença desperta, ele inspira em India desconfiança absoluta.
“Há algo de podre no reino da Dinamarca!” é a impressão que nos passa a atmosfera de tensão e suspeita levantada por Wook Park, com o auxílio de seu hábil diretor de fotografia, Chung Hoon Chung.
Eles concebem cenas milimetricamente pensadas e executadas que, embora saltem aos olhos pela excelência técnica, não alcançam o nível de genialidade das obras que Wook Park entregou na Coréia do Sul. E não ajuda o fato de que Mia Wasikowska, assim como em “A Colina Escarlate”, torna a interpretar uma protagonista fraca e desinteressante.
No que tange à sondagem sádica e minimalista da condição humana, Wook Park continua talentoso e hábil, e o roteiro escrito pelo ator Wentworth Miller (astro da série de TV “Prison Break”) corresponde com eficácia ao seu estilo convertendo esse conto shakesperiano em um afiado estudo da psicopatia.

Só ficou faltando uma atriz principal vibrante e um entendimento maior do diretor pelo ambiente estrangeiro no qual construiu sua história. Talvez por isso, em seu projeto seguinte, “A Criada”, Wook Park tenha compensado esses lapsos com larga folga fazendo assim uma obra-prima.

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