Em “Holly Smoke”, tanto diretora como atriz
pareciam trabalhar sob a luz de uma certa necessidade de se provar: Jane
Campion havia ganhado, anos antes, a Palma de Ouro em Cannes pelo premiado “O
Piano” enquanto Kate Winslet vinha do fenômeno “Titanic”.
Talvez, tenha sido essa pressão que torna meio
pedante a narrativa desde promissor trabalho, onde Campion lança um curioso
olhar –repleto de exotismo e despojamento feminino –às intrincadas emoções que
norteiam a devoção passional, e o quanto o pouco entendimento dos jovens pode
se submeter ao cinismo dos mais velhos, ainda que a manipulação seja uma via de
dois lados.
O começo –infinitamente mais instigante do que
o restante de filme que se segue após ele –acompanha a jovem Ruth Barron (Kate,
mostrando-se a atriz perspicaz, linda e atraente que pudemos ver no filme de
James Cameron) numa viagem à Índia, onde ela se deixa fascinar pelas doutrinas
religiosas e tão distintas das ocidentais que encontra por lá.
Ao voltar para casa, sua família se vê aflita
com a ‘lavagem cerebral’ feita nela e, em desespero, contrata os serviços de PJ
Waters (Harvey Keitel, repetindo com Campion a parceria de “O Piano”) um homem
de meia-idade especializado em "desprogramação religiosa".
PJ isola-se com ela em uma casa de campo. O
intuito é o de aproveitar a privacidade e a ausência de interrupções cotidianas
proporcionada pela distância para eliminar a influência cega e fanática a qual
ela parece ter sido exposta.
Campion lança mão de uma louvável habilidade
para construir diálogos de ordem reflexiva a partir desse ponto, fazendo seu
filme soar, no entanto, mais como uma vitrine para seu talento do que como uma
obra feita com inspiração.
Não ajuda muito a guinada formulaica e
maniqueísta que o filme sofre pouco antes da sua metade quando, em função desse
isolamento, a fragilidade da jovem vai dando lugar a uma necessidade física
carnal e a uma atração pelo "desprogramador" que termina por seduzir
o homem mais velho.
Embora Campion entregue cenas um tanto quanto
ousadas da parte de sua protagonista (Kate Winslet sempre foi um das poucas
atrizes aclamadas que nunca temeu ousar em cenas de nudez) é a partir desse
ponto que “Fogo Sagrado” se torna um filme confuso e perdido, adquirindo
aspectos cada vez mais equivocados conforme a história se afasta da proposta
que aparentava ter no inicio, e ruma em direção a uma oscilante e não muito
convincente história de amor.
Nota-se que, nas cenas de
sexo bastante despojadas que constrói, Campion mira no escandaloso, numa
espécie de transgressão por meio da arte e do questionamento, mas acerta mesmo
no constrangedor, no taxativo equívoco em conciliar duas partes que, neste
filme, nunca se harmonizam: A discussão sobre o direito alheio de determinar os
dogmas religiosos dos mais jovens, e o sexo como moeda de troca pelo exercício
existencial de poder.
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