A indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
para “O Quatrilho”, de Fabio Barreto, em 1996, foi uma espécie de
reconhecimento aos esforços da fase da Retomada do cinema brasileiro –era
apenas isso, uma indicação, não restando dúvidas de que os demais indicados
eram superiores e tinham muito mais chance de ganhar.
Já, em 1998, com “O Quê É Isso, Companheiro?”,
de Bruno Barreto (irmão de Fabio), as chances eram um pouco maiores.
Não levou do mesmo jeito.
No entanto, “O Quê É Isso, Companheiro?”
representa nitidamente um salto de qualidade e sofisticação na forma de fazer
cinema que os realizadores brasileiros estavam redescobrindo.
É curioso como, ao analisar o filme, inclusive
levando em conta suas muitas qualidades, ficam evidentes as segundas intenções
do diretor em relação ao prêmio e à visibilidade que ele almejava dentro e fora
do país.
Veterano na área, inclusive com uma das maiores
bilheterias do cinema nacional, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, no currículo,
Bruno Barreto realizou uma obra com nítidas pretensões de soar inteligível e
acessível aos expectadores de outro país, não somente o Brasil –diferente do
modesto “O Quatrilho”, com sutilezas culturais e regionais que provavelmente só
se compreendiam aqui (ainda mais especificamente na região sul) –reconstituindo
os eventos que envolveram o seqüestro, em terras brasileiras, de um embaixador
americano (vivido por Alan Arkin, com o brilho de sempre).
Ambientado nos anos 1960 e, portanto,
historicamente relevante no retrato da luta armada contra a ditadura que
promovia (um assunto pouco aproveitado pela filmografia brasileira), o filme
lança um olhar algo maniqueísta sobre os militantes ativos responsáveis pelo
seqüestro, Fernando (Pedro Cardoso), Maria (Fernanda Torres), Marcão (Luis
Fernando Guimarães), René (Claudia Abreu), Jonas (Matheus Nachtergale, ótimo) e
Júlio (Caio Junqueira), mostrados com hesitante humanidade, ampla
condescendência e subliminar simpatia, enquanto que se vale de uma inapropriada
ironia ao mostrar os agentes do governo, interpretados por Marco Ricca e
Maurício Gonçalves –particularmente artificial é a cena onde torturam um
prisioneiro enquanto dialogam sobre futilidades domésticas, nela as fraquezas
da direção de Bruno Barreto ficam mais nítidas.
Seu registro unilateral dos percalços da
História recente do Brasil só não é mais contundente que sua inclinação para
satisfazer o ponto de vista norte-americano: Coadjuvante indiscutível do filme,
o político seqüestrado de Alan Arkin é tratado nos breves diálogos que possui
como o personagem mais austero e sensato do filme, soando ideologicamente
superior ao personagem de Cardoso, com quem ele mais interage.
Não obstante esse elaborado plano para cair nas
graças da Academia de Artes Cinematográficas, a narrativa elegante de Bruno
Barreto emula com precisão os elementos do diretor Costa Gravas (um mestre no
que diz respeito a suspenses de natureza política) em sua busca paulatina por
algo a denunciar e em seus astutos empregos de ferramentas de ficção e de
dramaturgia para equilibrar o aspecto historicamente relevante com a funcionalidade
enquanto obra de cinema.
Não funciona como um
relógio, e a insistência de Barreto em fazer concessões engessa o ritmo em
muitos momentos, mas foi um passo considerável no caminho para um cinema cada
vez mais qualitativo feito no Brasil.
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