A primeira cena de “Quando Chega A Escuridão”
mostra um pernilongo sugando o braço do protagonista: Uma analogia à natureza
das criaturas chupadoras de sangue que será o cerne de toda a premissa.
A diretora Kathryn Bigelow estréia no cinema
adentrando um gênero que poderia tornar desfavorável a comparação com obras que
vieram antes e depois, mas seu trabalho prima por uma postura diferenciada,
admiravelmente objetiva e convicta da abordagem fatalista que adota para o
vampirismo em contraponto a um existencialismo melancólico (destacado pela
trilha sonora de Tangerine Dream) típico da juventude à qual remete, sobretudo,
o charmoso par principal, Caleb (Adrian Pasdar, que muito depois fez a série
“Heroes”) e Mae (Jenny Wright).
Ele encontra ela em uma madrugada casual. O
flerte jamais parece se concretizar devido ao comportamento erradico dela –e
quando sabemos previamente que Mae é uma vampira (o que é o caso da grande
maioria dos expectadores que vão ver o filme) podemos notar uma tensão toda
especial moldando o clima.
Um detalhe interessante é o fato do filme de
Bigelow em momento algum usar a palavra “vampiro”; nem tampouco os famosos
caninos salientes aparecem!
Os outros elementos paradigmáticos do
subgênero, entretanto, estão todos lá: Sem conseguir suportar a ansiedade em
desvencilhar-se de Caleb antes do nascer do sol (e bastante perturbada pela
sede de sangue) Mae não resiste e o morde pouco antes de sair correndo. Com isso,
ela inicia a transformação de Caleb que logo estará prestes a ser incinerado
pelos raios solares.
Nessa condição, ele se junta ao grupo de Mae,
composto pelo menino Homer (Joshua John Miller) –um adulto preso num corpo
imortal de criança –o imprevisível Severen (Bill Paxton), o líder sombrio Jesse
(Lance Henriksen) e sua companheira Diamondback (Jenette Goldstein) –todos os
três recém-saídos de “Aliens-O Resgate”, de James Cameron.
Juntos, eles singram o centro-oeste
norte-americano numa vida nômade fazendo vítimas à noite. Paralelamente, o pai
de Caleb, Loy (Tim Thomerson, de “Trancers”) empreende uma investigação ao
filho desaparecido por conta própria, junto da filha pequena.
Mais do que simplesmente promissor, “Quando
Chega A Escuridão” revela uma diretora ciente dos fatores que fazem um filme
ser instigante, singular e válido; prova disso é a relevância como
entretenimento que este trabalho preserva décadas depois de sua realização –à
exceção, talvez, da concessão redentora em seu terceiro ato, quando o roteiro
sai com a tirada de que uma transfusão de sangue basta para que um vampiro
volte a ser uma pessoa normal (!).
Um detalhe menor, porém,
diante de todo o grande filme que o envolve.
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