Havia pelo menos umas duas décadas que o cinema
australiano pedia por algum reconhecimento: Se o florescer de um peculiar
cinema na Austrália tinha fornecido uma sucessão quase interminável de filmes
com um estranho apelo excessivo, malicioso e popularesco (os chamados
Ozploitation), de lá havia vindo também obras como “Mad Max”, e realizadores do
quilate de Peter Weir, Bruce Beresford e o próprio George Miller.
É ele quem vem a responder como produtor, deste
“Babe-O Porquinho Atrapalhado”, um filme infantil –com direito a animais
falantes e tudo, o quê seu sucesso transformou numa tendência em Hollywood –que
fez o que muitas obras contundentes e respeitáveis da Austrália não
conseguiram: Amealhar diversas indicações ao Oscar!
A razão para isso era simples; “Babe” era
realizado com um brilhantismo e uma excelência incontestáveis.
Babe é o nome pelo qual atende o porquinho
protagonista deste filme. No início, ele é levado à fazenda do taciturno Hodge
(James Cromwell, num riquíssimo trabalho) onde se depara com um sistema vigente
aparentemente imutável: Os animais possuíam funções e utilidades bem
específicas que determinavam suas vidas, independente de propensões, aptidões
ou sonhos.
“As coisas são o que são” é o que lhe dizem
quase sempre como justificativa.
Contudo, a exemplo do hilário pato Fernando
(que quer porque quer substituir o galo da fazenda, e depois o próprio relógio,
como ‘despertador oficial’), Babe deseja mais do que simplesmente comer e
engordar –aparentemente a única função dos porcos –ele quer ser um cão pastor!
Não lhe faltam lá seus aliados, como Flash (a
cadela que o adota depois de perder todos os seus filhotes) ou a generosa
ovelha Mac, que o ensina que o rebanho não lhe ouvirá se for hostil e agressivo
como os cães, mas sim se for gentil e educado.
É assim, por meios inusitados, que Babe vai
conquistando um lugar entre os animais da fazenda e provando que os rótulos são
prisões impostas pela convenção. E tão notável se mostra a iniciativa do
pequeno porquinho que o próprio fazendeiro Hodge começa lá a nutrir seus sonhos
de sagrar-se campeão num torneio de cães pastores –porém, levando não seus
cães, mas o habilidoso porquinho para disputá-lo!
Dirigido pelo nada famoso Chris Noonan com um
primor todo especial, “Babe-O Porquinho Atrapalhado” é tão eficaz em sua
capacidade de encantar adultos e crianças que sua narrativa equilibrada e
enxuta deixa passar completamente despercebido o verdadeiro inferno que foi sua
realização. Anos antes da predominância absoluta dos efeitos de computadores
nas cenas, “Babe” contava com um batalhão de animais verdadeiros diante das
câmeras, e todos eles tinham seus instrutores, suas próprias forma de serem
adestrados (assobios para os cães, campainhas para os patos, sinos para as
ovelhas, apitos para os porcos) e suas manhas particulares. Orquestrar a
pré-produção, as filmagens e a pós-produção de um filme assim deve ter sido um
calvário –e tão mais admirável ele é pelo filme maravilhoso que desse esforço
resultou.
Não à toa, em 1996, “Babe” arrebatou
merecidamente o Oscar de Melhores Efeitos Visuais.
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