quarta-feira, 21 de março de 2018

As Bruxas de Eastwick

Sendo já conhecido na década de 1980 como o criador de “Mad Max”, George Miller tentou outras experimentações em sua carreira. Seguiram-se obras como o dramático “Óleo de Lorenzo” e, um pouco antes, este “As Bruxas de Eastwick”.
Uma pérola do humor negro –e como todas as obras providas desse gênero, fatalmente ameaçada pela incompreensão de público e crítica –este filme reúne, já de início, um elenco espetacular: Além de Jack Nicholson, as beldades Suzan Sarandon, Michelle Pfeifer e Cher.
Elas são três amigas às voltas com a mediocridade da provinciana cidadezinha onde vivem, Eastwick, na qual paira sobre elas –a despeito da beleza e da sensualidade ostentada por todas –a sombra da solteirice sem um homem disponível por perto.
Fruto do Oscar de Melhor Atriz conquistado no ano anterior, Cher é a protagonista Alexandra, enquanto Michelle Pfeifer vive a doce e afável Sukie, e Suzan Sarandon interpreta a reprimida violoncelista Jane.
Numa noite, elas decidem, em tom de brincadeira, fazer um pacto com o diabo para que lhes envie um homem dotado de todos os atributos que eles querem.
Eis que o diabo em pessoa resolve atender o pedido delas, surgindo na cidadezinha personificado por Jack Nicholson –num papel que francamente lhe parece caber feito uma luva! –e seduzindo-as, uma a uma.
Sob a alcunha ostensiva e elegante de Daryl Van Horne, ele dá a cada uma aquilo que elas ansiavam ou precisavam: Para Alexandra ele fornece a atenção e o reconhecimento por sua postura de mulher moderna num ambiente tão redundante; para Sukie, ele proporciona calor humano e a satisfação sexual que em sua vulnerabilidade ela não procurava; e para Jane, ele oferece a chance para que ela desabroche sua sexualidade reprimida.
Tão exultante e satisfatório é esse inesperado amante que não ocorre às três sequer se ressentir pelo fato de ter que dividi-lo (!).
Tudo é festa e êxtase durante algum tempo (e a direção de Miller se revela primorosa no ritmo e na condução), mas o homem que as seduziu ainda é o capeta, e quando esse fato começar a ficar claro –especialmente na desafortunada trajetória da beata interpretada por Verônica Cartwight (de “Alien” e “Os Eleitos”) –elas se dão conta de que têm que tomar uma atitude a respeito.
Despido de elementos sintomáticos do cinema comercial de então, carregado de originalidade e de perfeição técnica, “As Bruxas de Eastwick” até hoje ainda desafia o expectador a apreciar suas largas qualidades, não obstante o gosto amargo que ele deliberadamente deixa na boca em face de seu humor negro, de seu sarcasmo irredutível e intransigente, e de seu fatalismo enrustido oculto atrás das características enganosas de comédia e do carisma cativante de seu elenco.

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